A nossa imortal Coimbra – não foge à regra de um Tempo que passou e que deixou atrás de si um manancial de histórias pitorescas e seus protagonistas.
Naquela época de um passado já remoto, a Baixinha da cidade universitária pulsava de gente que se acotovelava pelas ruas medievais na procura da mercadoria mais barata e até de levar para casa alguma pechincha. Ali se vendia de tudo nas lojas mais apetrechadas, mas também os vendedores de rua e dos chineses plantados nas esquinas da Praça Velha a vender gravatas coloridas por atacado a preços irrisórios.
E ali, naquela rua escura, uma loja singela de porta estreita. Também uma pequena montra onde pendurados em cabides, alguns sobretudos e gabardinas que faziam adivinhar que ali se vendia roupa para homem.
Ele, o proprietário da loja, não só nunca enriqueceu como naqueles tempos difíceis via passar os dias e a clientela que parava a olhar para a montra e ao inteirarem-se de preço da roupa seguia viagem para desespero do Senhor Antunes – chamemos – lhe assim na privacidade do seu verdadeiro nome.
Como se não bastasse, a clientela que lhe entrava na loja não era abonada de dinheiro. Queria descontos e fiado. Por vezes davam alguns trocos que validava a compra e depois nunca mais apareciam a pagar o resto da gabardina ou do sobretudo para os rigores do inverno.
Então um dia, o Senhor Antunes que não se chamava Antunes e que já partiu desta vida, teve uma ideia luminosa. Comprou por grosso umas dezenas de porta – moedas muito baratos e em plástico. Então, em cada porta – moedas meteu três tostões que chocalhavam tilintando. Depois, em cada sobretudo ou gabardina metia um porta – moedas. E então, quando o potencial cliente provava o agasalho, o Antunes convidava – o a ver - se ao espelho e a meter as mãos nos bolsos num arrepio de charme. O cliente, ao meter as mãos nos bolsos apalpava o porta - moedas e apercebia-se do chocalhar do vil metal e dizia entusiasmado para o Antunes:
- Esta gabardina fica-me muito bem nem a tiro, levo – a já vestida …
A expetativa de que o porta – moedas tivesse dinheiro gordo, levava o cliente à compra para satisfação do senhor Antunes, orgulhoso da sua brilhante ideia.
Não consta porém que o Senhor Antunes tivesse enriquecido. Como também não consta que a loja tivesse fechado portas atolada de dívidas e em fiados.
A Baixinha da cidade e as suas pequenas histórias. Kito Pereira
A Baixinha de Coimbra-antiga-era sem dúvida um zona de Coimbra muito viva, com todo o tipo de comércio, que aliciava todo o tipo de compradores desde os de maiores posses e sobretudo os menos afortunados,por isso sempre as diversas ruas cheias. Eram também onde se encontravam as tabernas e tascas muito frequentada e restaurantes bem frequentados, pela fama dos petiscos e boas refeições, como o Zé dos Ossos...e que algumas ainda hoje existem!
ResponderEliminarMas tudo tem o seu tempo... E o Comércio das Grandes Superficies, contribuíram para o definhar das típicas ruas da Baixinha.
Muitas promessas de a reavivar... Mas é tarefa difícil...
O Sr Antunes morava aqui no Bairro, se é o mesmo que o Quito menciona aqui no seu belo texto!
Que linda história, Quito. Mesmo que não tenha acontecido.
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