domingo, 20 de agosto de 2017

 LACÓBRIGA …


São três horas da tarde e eu estou aqui. Aqui, a olhar uma claridade pálida, um amarelo desmaiado que se derrama sobre os prédios que se aninham sob um sol envergonhado. 

Lá fora, olhando das vidraças abertas de par em par oiço o mundo. Um estranho mundo. Uma simbiose de ruídos que me alertam que a cidade aberta, o mar azul e os chapéus coloridos espetados nas areias da praia, não são apenas e só sinónimos de lazer. Há uma cidade viva que já foi Lacóbriga no passado e é Lagos no tempo presente. E que há gentes que trabalham no seu labor de todos os dias. Os que aqui vivem. Os que casaram com a cidade e com o mar. Os que ajudam a mascarar as estatísticas do emprego com os seus trabalhos sazonais.

Depois, lá para outubro, o mar dobra-se sobre a areia fina e vai - se espraiando a lamber os pés das falésias nuas de vegetação. Os turistas partiram e as praias, órfãs da gente apressada e formatada para apenas sobreviver nos grandes centros urbanos, ficam sós. Restam os idosos que se sentam pensativos nos bancos dos jardins públicos. 

E os outros, os forasteiros, vindos do resto da Europa, que escolheram esta nova fase da vida para passearem os seus cães pelas arribas que se debruçam para o oceano. Os caminhos das arribas, são linhas estreitas feitas de poeira dourada pelo reflexo do sol vigoroso e abrangente.

Caminhos que dançam errantes ao som dos obstáculos naturais que deixam ver lá no fundo dos abismos pedregosos, praias desertas e selvagens de encantar. A cidade corre agora a um ritmo mais lento. 

Despedem-se os veraneantes e a bandeira azul e amarela símbolo da cidade, fica a flutuar ao vento no alto do mastro de uma qualquer traineira, numa espécie da adeus a quem parte, fazendo votos de um regresso no próximo ano, afinal uma forma de convidar todos quantos demandam esta região em férias, a ajudar com o seu contributo, a gente nobre desta terra algarvia e a economia da região.

E logo, quando o fim da tarde chegar, sentado junto ao Forte negro e austero a olhar as traineiras a partir para a faina, lembrarei o escritor Manuel da Fonseca e a sua alegoria sobre os homens  do mar:

“Lançam-se ao mar, a sua grande lavoura, onde charruam o pão com a quilha dos barcos. “

Quito Pereira    

7 comentários:

  1. Meu caro Rafael

    O prometido é devido. Conforme me pediste, lá meti um texto a 17 e outro a 19, ou seja hoje. Habitualmente nesta época de verão, faço sempre uns textos ligados a esta cidade e ao Barlavento algarvio. Não fugi à regra.

    Envio-te um abraço e até breve na nossa cidade ...

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    1. Obrigado Quito. Foi a 19 mas era para ser a 20...Mas é um pormenor que pouco interessa.
      Os testos sairam e qual deles o maior. Sobre o primeiro já algo escrevi.
      Sobre este último, mais uma vez escreveste sobre Lagos Turistico, quando chegam e animam a cidade e a economia e depois quando partem, muitos voltarão e novos turistas virão novamente encher de alegria esta cidade de que tanto gostas. E lá regressarás e quem sabe escrevendo outros textos que eu e...o blogue tanto ansiamos!
      Não sei se ainda estás por Lagos, eu à hora do costume lá volto para a rotina na pastelaria Vasco da Gama.

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    2. ...não ligues aos testos...o "s" não grama o "x"!

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  2. E que texto criaste para este dia.
    Do lazer à cidade viva e os problemas laborais com que nos impingem as estatíticas. A adaptação do mar ao render da guarda dos turistas e a mudança da vida citadina. De um adeus que mais não é que um convite para voltar.
    E enquanto lembras Manuel da Fonseca vais deixando também o teu rasto com a quilha do teu aparo.

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  3. Gosto muito de te ler!
    Ontem,enquanto me deliciava com uns frutos que alguém pescou, bailaram- me no pensamento os teus textos...
    Um abraço.

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  4. Lagos deve ser a cidade algarvia com mais história e muita dessa história é bastante triste.
    É, também, para mim, a cidade do Algarve mais bonita.
    Os teus textos sobre esta cidade, mostram, mesmo a quem não conhece, a cidade excelente que é, nunca esquecendo o seu povo.

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  5. Sem ser relacionado com o texto, hoje antes de sair do hotel, encontrei sentado num sofá o Rui Bento. Está com a mulher Elisete os filhos e os netos. Gostámos de o ver.

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