António
Hoje, por duas vezes, passei junto a tua casa. E ainda sem
saber da tua partida, as janelas fechadas e o teu velho carro, deram-me um mau
pressentimento. Eu sabia que estavas mal. Muito mal. Mas há sempre uma esperança
vaga que não se cumpriu. Eu vinha do Café Vasco da Gama, e tinha confidenciado ao
Fernando Rafael que iria ver-te nesta tarde. Mas os meus projetos
desvaneceram-se. Uma chamada vinda do fundo de Portugal, dizia-me que o teu
Tempo acabara pela madrugada.
Estou triste, António. Muito triste. Custa-me a digerir esta
certeza universal. Afinal, quase todos os dias conversávamos e tu, nesse jeito
que te era tão peculiar, lá me ias falando das coisas da vida, enquanto
calcorreávamos a rua Vasco da Gama ao encontro dos amigos.
Lembro que nos últimos meses, a tua solidão se tornou uma obsessão. E eu recordava-te que a tua âncora sentimental estava a sul. Muito a sul. Por quem te amava e te ama. Mas também tinhas os amigos. Porque tu, António, eras parte de nós.
Lembro que nos últimos meses, a tua solidão se tornou uma obsessão. E eu recordava-te que a tua âncora sentimental estava a sul. Muito a sul. Por quem te amava e te ama. Mas também tinhas os amigos. Porque tu, António, eras parte de nós.
Nós, este grupo
domingueiro, que se junta para tentar varrer as suas preocupações semanais. Nós,
que brindamos de taça de vinho ao alto, aos amigos presentes e ausentes. A tua
cadeira António, é agora a dos ausentes que estão sempre presentes. Porque nós,
meu amigo, não somos pessoas de esquecer quem estimámos e estimamos.
Desculpa esta carta mal amanhada. Mas estou a escrever-te
depois de um dia cansativo. Estou com a cabeça vazia e o coração também. Mas
precisava de falar contigo. Dizer-te na
cara com a frontalidade que também tinhas, que o teu feitio era difícil. Por
vezes davas cabo da minha paciência. De outras vezes, um coração dócil. Vi-te
chorar António, no funeral da uma amiga nossa, que ainda tanto tinha para viver.
Mas entre nós, os teus amigos de Coimbra e deste Bairro que é o teu, há uma opinião generalizada e pacífica: eras
um homem de sentimentos nobres, um cidadão de uma integridade e honestidade a
toda a prova. Por isso, mas nem só por isso, todos gostamos de ti.
Fica bem, António. De preferência na companhia de uma Divindade
qualquer, porque nestas coisas do Altamente como tu dizias, nunca foste
esquisito. Eu, caro companheiro, não sei até quando ainda por aqui fico neste
país que é o nosso, onde tudo está tratado e nada resolvido, como tu também
dizias.
O teu Amigo
Quito Pereira
Tudo dito e tratado.
ResponderEliminarUma bela homenagem ao nosso querido Tonito.
ResponderEliminarAna Maria.
Altamente,Quito!
ResponderEliminarDigo eu e, diria o Tonito, acerca deste testemunho de AMIZADE.
AMIGOS PARA SEMPRE apesar das nossas birras....e "elas" existiam porque éramos AMIGOS de longa data e estes dizeres "de olha que não é assim amiga" e "olha amigo olha que é" "olha,olha fica na tua"...Tonito assim era desde a nossa juventude mas a amizade entre nós era uma realidade. Até um dia!
Está uma carta de escritor para "Engenheiro Hidráulico"!
ResponderEliminarAltamente!
ResponderEliminarO sentimento de um verdadeiro amigo!!!
ResponderEliminarGosto muito das tuas palavras, como, aliás, já é hábito.
ResponderEliminarUm grande beijinho.
Como sempre um texto lindo e sentido
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