...TRIBUTO SINGELO AO MEU AMIGO
REINALDO ELÓI
Rui Felício
Nota: publicado no blogue com a autorização do Rui-que publicou no facebook
REINALDO ELÓI
O Banco
Mesmo ao lado da mercearia do Sr Nunes, havia um murete a delimitar o quintal adjacente.
Tinha sido feito em cimento liso em forma de banco onde à noite nos sentávamos a conversar já depois de fechado o café do Sr Silva que era o nosso poiso habitual.
Para ali nos transferíamos a debater os mais inusitados temas.
Embora não me lembre de alguma vez o Sr Nunes, que morava no primeiro andar por cima da mercearia, nos ter pedido silêncio, imagino hoje, tantos anos passados, o incómodo que devíamos causar-lhe a tais altas horas da noite.
O Chico Torreira da Silva e o Pires que moravam a dois passos do outro lado da rua eram presenças habituais.
Juntavam-se inevitavelmente o Elói, noctívago empedernido, eu próprio e às vezes o Nito, o Tó Mané Quaresma, o Feliciano, o Victor Costa, o Afonso, o Zé Alvim...
O Elói era admirador de António Botto e defendia-o intransigentemente, mau grado as piadas que lhe dirigíamos em face da assumida homossexualidade do escritor e poeta.
Eram outros tempos em que a homossexualidade era "doença" e não, como hoje, uma opção.
O Elói, cuja masculinidade obviamente não estava em causa, bem argumentava com a excelência da escrita de Botto que, em seu entender, sobrelevava quaisquer considerações de ordem ética.
Não era fácil, naquele tempo, lutar contra a moral dominante que o Estado Novo impunha.
Por isso sempre admirei e considerei o Elói como um homem de forte personalidade que ainda hoje é.
Nota: publicado no blogue com a autorização do Rui-que publicou no facebook
Ainda fiz uma busca para encontrar uma foto antiga que mostrasse o tal banco, mas sem resultado
ResponderEliminarAinda consegui uma foto(não muito boa) do banco à porta do Sr Nunes
ResponderEliminarEra mesmo esse o banco
ResponderEliminarBons tempos em que havia conversa entre amigos e não
ResponderEliminartroca se mensagens por telemóveis.
Um grande abraço.
Zé Afonso.