quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

NA MORTE DE OCTÁVIO DE MATOS ...





(1939 - 2019)

A vida é uma passagem para a outra margem, no dizer da canção. E a morte é a única certeza da vida. Temos contacto com ela todos os dias, nas páginas dos jornais. Olhamos indiferentes ao passamento de pessoas que não conhecemos, como se de um vulgar anúncio se tratasse. Mas indiferentes não somos, quando nos é familiar chegado, ou o finado faz parte do nosso grupo de amigos. Porém, daqueles que não conhecemos pessoalmente, há desaparecimentos que marcam. Para mim, a morte de Octávio de Matos entristeceu-me. Direi mesmo que a senti como se conhecesse o grande homem de teatro. Foram décadas a espalhar humor e talento. Tive o privilégio de o ver atuar duas vezes ao vivo, em Lisboa no antigo Teatro “Monumental” e numa noite ao ar livre, num tépido serão algarvio, em Lagos. Era pequeno de estatura, mas enchia o palco. Nem sequer precisava de falar para pôr uma plateia a rir. Bastava o seu olhar e as suas expressões faciais, para compor um personagem hilariante. Octávio de Matos, nem necessitava de estar acorrentado a uma qualquer ideologia politica, para singrar na sua arte. Porém, há sempre aqueles que, nos meios intelectuais, acham que a comicidade é uma arte menor. Um preconceito muito discutível. Porque sempre foi a rir que se disseram as coisas mais sérias e em momentos conturbados. Foi pela cruzada dos comediantes que pisavam os mais conhecidos palcos nacionais, que se driblava a censura em tempos difíceis. De dar voz a quem não tinha voz.
O desaparecimento de Octávio de Matos, não passou despercebido no panorama das nossas notícias diárias. Gente do Teatro, Membros do Governo e Presidência da República, apressaram-se a enaltecer as suas qualidades de homem bom e solidário. Morreu o artista Octávio de Matos. Morreu o cidadão Octávio de Matos. Morreu afinal como não merecia – sozinho, sem aplausos e sem medalhas.  

2 comentários:

  1. Pelo teu intermédio o blogue associou-se ao sentir da perda deste grande actor muito apreciado pelo povo português.
    Obrigado pela postagem

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  2. Este modesto texto é a minha homenagem a Octávio de Matos. Tinha por ele uma admiração e simpatia genuínas.
    Não tens que me agradecer a postagem. Enquanto mantiveres este teu espaço, vou acompanhar-te. Quando entenderes fechar e como já te disse, encerro a escrita, a meditar em coisas muito sérias, como leitão e champanhe no "Típico" da Bairrada ...

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