quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA Sé Nova
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
ESPERANÇA DIAS MELHORES....
Queridos amigos...!
Meu Quintal |
Ano passado, a essa altura, Maíra e eu estávamos ansiosas pela viagem à Portugal. O objetivo era conhecer essas pessoas maravilhosas, que aprendi a gostar, mesmo à distância. Foi fantástico! Agradeço, de novo, cada momento vivido com vocês Ainda hoje me emociono ao relembrar tanto carinho por nós. Até música foi composta para mim. Obrigada, Paulo Moura. E o fado....ah, o fado cantado por vocês...Deus, como não amar a todos!?
Agora, mais um ano se foi!
Foi diferente de todos os outros. Foi frustrante para sonhar. Não foi fácil!
Tanta lágrima caiu, não é? Tudo aquilo que esperávamos não se cumpriu.
Agora, porém, é hora de recomeçar, de não desistir, de se superar, e esperar que tudo seja bem melhor. É só acreditar!
Pelo que não pôde ser, pelas lágrimas caídas, encontros impedidos e tantas despedidas...
O que posso dizer?
Que os sonhos, JAMAIS, podem acabar!
Feliz Novo Ano! Ofereço-lhes estas flores, cultivadas pelas minhas mãos...ou seja, com todo meu carinho
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
NAQUELE DIA LEVANTOU-SE UMA VENTANIA...TEXTO DE GEORGINA FERRO
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
ANIVERSÁRIO CARLOS FALCÃO
28-12-1947
Nesta data especial...
"Encontro de Gerações" deseja
MUITAS FELICIDADES!
PARABÉNS!
sábado, 26 de dezembro de 2020
VENTO NOTURNO
VENTO NOTURNO
Pela estrada asfaltada e de mau piso, rumar à Praia da Luz.
Um bastião de luz e de cor. De casas brancas de chaminés trabalhadas e de uma
praia de mar azul. Também uma singela capela de altar dourado e um pensamento –
Maddie MacCann. Lembrar uma menina e um drama. Olhar do lado esquerdo uma banca
de velas elétricas que se acendem pelas moedas dos visitantes. Meter o dinheiro
na ranhura e ver quatro ou cinco lâmpadas tomarem vida em memória da criança
inglesa. Depois rumar ao Forte. Almoçar olhando o horizonte e o promontório de
Sagres escondido por entre a neblina, talvez ele muito cioso no resguardo seu
Infante de outras épocas, um homem do mundo e de outros mundos – novos mundos. O vinho que se bebe, o brinde de copos que se
tocam num olhar ao futuro. Depois regressar. Percorrer outros caminhos ao
cantar das cigarras. Olhar a cidade deserta pela canícula deste estranho verão.
E logo, ao declinar da tarde, os pequenos barcos de brancas velas recolhem ao
porto depois de um dia de lazer. E outros, no ganha – pão dos simples, partirão para a faina. Ficam
estáticos no horizonte, apenas denunciando a sua presença pelas trémulas luzes
que mais não são que pequenos pontos no regaço do oceano. Quando a noite se
fechar sobre a cidade, os Ventos do Infante tomarão conta da urbe de avenidas
largas e vielas estreitas de origem medieval e de forasteiros que se aventuram
na procura de um bar aberto para um convívio de gentes de várias nacionalidades.
Fechar a janela ampla e ouvir o sibilar do vento a roçar-se fagueiro pela
persiana como um gato a acariciar as pernas do dono. É o vento noturno,
intemporal e propriedade de uma das mais belas cidades do nosso Portugal –
Lagos.
Kito Pereira
ANIVERSÁRIO
PAULO NOBRE
26-12-1938
Nesta data especial...
"Encontro de Gerações" deseja
MUITAS FELICIDADES!
PARABÉNS!
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
NATAL FELIZ - BOAS FESTAS DE ENCONTRO GERAÇÔES E FAMILIA RAFAEL
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
ANIVERSÁRIO
ZECA SOARES
23-12-1944
Nesta data especial...
"Encontro de Gerações" deseja
MUITAS FELICIDADES!
PARABÉNS!
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
COIMBRA DE OIUTROS TEMPOS
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA- Coimbra
sábado, 19 de dezembro de 2020
NATAL 2020 - DÁDIVA DE NATAL PARA QUEM GOSTA DE LER - DE ANTONINO SILVA
Não é por isso que a serra se chama Serra da Lapa, mas podia ser.
É a minha dádiva de Natal para quem gosta de ler.
«Sentia que as pernas lhe falhavam e os pés, julgava, tinham ficado para trás, muito antes da subida depois de Vila da Ponte. Pelo menos, tinha sido por ali que deixara de os sentir nas botas, tal era o frio e a neve que cobria a serra.
As memórias recentes assaltavam-no como um pesadelo de olhos abertos. Nunca pensara, apesar de soldado, que pudesse haver tanta miséria humana quando do outro lado estão homens de outra cor. A sua história militar era um papel químico de que se perdera o original. Era a sombra de um soldado que, alguma vez, noutro tempo e noutro lugar, tinha sentido orgulho de vestir uma farda e de empunhar a espingarda. Pertencia à brigada que estava sediada no Solar dos Gouveia, o quartel da capitania-mor de ordenanças, em Fonte Arcada, na altura sede de município e hoje fazendo parte do concelho de Sernancelhe. O solar dos Gouveia exibe ainda um largo pátio de quinhentos metros quadrados onde, na altura, se fazia a parada militar e fuzilavam os prisioneiros de guerra. Como o destacamento militar era uma brigada, este solar é hoje também conhecido como o Solar dos Brigadeiros.
Este aquartelamento era de enorme importância no contexto da altura. Dali partiam as brigadas para as escaramuças contra os franceses e outros jacobinos e faziam várias batidas às dezenas de povoações do vale do Távora, todas as que acendessem os fogos de atalaia, a avisar que tinham avistado tropas gaulesas ou espanholas a dirigirem-se para Lamego. Pela serra de Leomil, sabia-se, a progressão dos invasores não era de todo possível, porque as peças de artilharia necessitavam de piso firme que não deixasse atolar na lama as rodas cortantes e permitisse a uma junta de mulas puxar aquela massa de ferro. Por outro lado, em Fonte Arcada há uma torre do relógio no ponto mais alto, antiga torre medieval de vigia. Ninguém passaria pela estrada que vinha de Sernancelhe sem que fosse avistado do alto.
Uma segunda função do solar era a zona mais negra de toda a imoralidade da guerra: a prisão desumana e a antecâmara da morte. Era essa coisa difusa, não definível, que provocava os vómitos morais àquele desertor, João Boto de seu nome. Os dias passavam ironicamente feéricos, como se se sucedessem, suspensos, noutra dimensão. Enquanto soldado, nunca tinha vacilado e carregava e descarregava a escopeta como quem jogava à bisca de dois: ou ganhas tu ou ganho eu. Sabia que, se não matasse morreria, e isso nunca o atormentou.
Porém, quando foi destacado para guarda da prisão e para o pelotão de fuzilamento, algo nele de quebrou. Sentiu que a coluna da humanidade, que lhe sustentava o ser como soldado, tinha sido decepada por baixo, tão baixo quanto um homem pode ser vil. Viu como é possível levar à ignomínia a condição de homens, tratados abaixo da condição de um verme, até que os olhos não tivessem olhar nem a alma nenhuma vontade de ser. Em surdina, ouvia uma e outra vez “tuêmuá mê siê! tuêmuá mê siê!”. Eram pequenos homens, ainda imberbes, a quem as práticas de interrogatório já desfigurara os rostos e cujos ossos da mão tinham sido multiplicados. Num ou noutro, uma perna ou um braço faziam já um arco sinistro. Quando podia, chegava-lhes aos lábios água que guardava secretamente e, se o acaso dava, deixava-lhes ficar uma côdea de pão. E à noite nem sabia bem se ouvia ou se sonhava que ouvia “tuêmuá! tuêmuá!”.
Para maior desarranjo da consciência, não percebia como era possível que aparecesse o sorriso no rosto daqueles meninos homens amarrados aos postes de fuzilamento na altura em que vários canos vomitavam o chumbo que lhes marcava a libertação da dor. Isso intrigava-o e agudizava a sua angústia. João Boto não conseguia e nem queria entender isso, pois sentia que tinha perdido a centelha de humanidade que um dia já tivera, num outro tempo em que era um filho de agricultor, na aldeia de Freixinho.
A jaculatória “tuêmuá” não o largava e, na véspera de natal, dia em que teve licença de visita a casa, preferiu ir a pé a Sernancelhe e falar com o pároco, que ele sabia inteligente como poucos e tinha estudos. De certeza que o poderia ajudar a decifrar o que queriam dizer aquelas palavras. Chegado lá, o padre Matias, que andava a preparar tudo para a Missa do Galo, ouviu-o em confissão e ele falou-lhe disso, das palavras indecifráveis. Então, o padre explicou-lhe que aqueles homens suplicavam: “Tuez moi, monsieur!”, ou seja, “mate-me, meu senhor”.
João Boto chorou, então, choraram ambos, mas ele chorou como um órfão que acabara de perder a mãe. E, sim, ele sentia que era órfão, um deserdado da dignidade. Decidiu não voltar ao quartel. Preferia ser desertor e fuzilado a ser causa de tanta miséria na existência dos outros. Compreendeu porque é que a felicidade assaltava os olhos dos homens presos ao poste e as palavras não eram sonhos, mas súplicas.
Passando Vila da Ponte, meteu-se pela atual serra da Lapa acima, cheia de neve e ouvindo o uivo dos lobos que, por perto, farejavam o sangue quente. Acelerou o passo, mas as forças começavam a fraquejar. Sabia que só dariam pela sua ausência na tarde do dia de Natal, altura em que deveria regressar à brigada. Por isso, decidiu procurar um abrigo debaixo de uma penedia qualquer para passar a noite.
Já com a luz da lua que derramava o seu leite pela alva neve, avistou uma elevação com uma lapa larga, que lhe serviria de abrigo. Puxou da pederneira para atiçar uma lucerna de azeite que o acompanhava sempre em campanha e iluminou o espaço. Viu, ao fundo, algo que devolvia o ténue brilho da chama… e foi ver.
Era uma imagem de uma Senhora com o Menino ao colo, que alguém escondera ali, noutros tempos e noutras perseguições. Pegou nela com as mãos de pecador e colocou-a sobre uma pedra. Acomodou-se e chorou de novo. Pediu perdão e tentou lavar a alma. Parecia que a imagem lhe sorria e ele propôs-lhe que, naquela noite, naquela noite só, se fizessem companhia e ele pudesse celebrar, assim, todos os Natais que perdera no tempo da guerra. A Senhora disse-lhe que sim, que acoitava todos os corações aflitos e seria, mais uma vez, a fonte da redenção.
João Boto continuou ajoelhado até adormecer e, na tarde de Natal, quando os companheiros de brigada o procuraram por toda a parte, seguindo-lhe o rasto na neve, alguém se deparou com uma lapa na serra, com um presépio onde estava Maria com o Menino ao colo e José, estranhamente, vestido de soldado.»
Natal de 2020.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
COIMBRA DE OUTROS TEMPOS-CALHABÉ
quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A A RTE - PROSA - CONTO
Quando eu já andava à escola, a senhora professora não ia connosco para o campo. Tinha de dar as suas aulas dentro da sala e tomar conta de nós à hora dos recreios. Tinha sessenta e cinco alunas distribuídas pelas quatro classes. Era tratada com o máximo respeito e, ordem que a senhora desse, era cumprida por cada aluno e acatada pelos nossos pais. Lembro-me de fazermos muitas rodas; de formarmos dois grupos de frente um para o outro e um avançava e recuava a cantar " fui ao jardim da Celeste , giroflé, giroflá, fui ao jardim da Celeste giroflé flé flá...." ; Já eu andava na segunda classe quando ouvia as meninas da quarta dizerem os nomes dos reis de Portugal e das rainhas suas esposas. Claro que não me interessava muito o nome de quem não conhecia, mas quando a senhora D. Normélia veio para o recreio ensinar-nos o jogo de pedido de casamento do Rei D. ... quer casar com a rainha Dona ... , num instante decorei todos os nomes... Também me lembro de aprender o jogo do sinal vermelho e verde, do gato e do rato, do encadeado meu encadeado não me aperte a mão que me estala o braço.
Mas o meu jogo preferido era o mocho e as cinco chinas!
Nos dias de chuva não havia recreio e dentro da sala quase não se via nada com os vidros embaciados e sujos. Como não tínhamos candeeiros e ainda não havia electricidade na aldeia, íamos para a parede do fundo cantar a tabuada...
Perto do Natal já havia grandes nevões. Mas era difícil aguentar o frio sem lume e sem aquecedores.
No primeiro sábado de Dezembro de 1955, de tarde, depois das aulas, a senhora professora foi para a igreja fazer o presépio com o senhor Padre Baptista.
As alunas mais crescidas foram com as suas catequistas procurar musgo e as mais pequenas ficaram na igreja a ajudar no que fazia falta: entregavam, um a um, os cavaquinhos (ali em monte) para fazer a base do presépio; foram apanhar uns punhadinhos de areia na rua; eu corri a casa a buscar um taleguinho de serradura que o meu tio já tinha guardado na carpintaria.
Não tardou um nadinha a chegarem canastras e cestinhas de musgo verdinho com que se ia tapando a armação preparada. Depois, as senhoras começaram a desembrulhar as figurinhas do presépio que nos punham nas mãozitas pequenas e regeladas, com mil cuidados e conselhos. Nós, de olhos fixos na imagem, em passinhos seguros e vagarosos íamos entregar o pequenino tesouro que haviam depositado a nosso cuidado.
A tarde estava a chegar ao fim. Já quase não se via o que estávamos a fazer. Não tardaria o toque das Trindades e ninguém queria arredar pé sem tudo estar terminado. Nisto, a minha prima, que era catequista, foi acender um petromax, mas queixou-se que tinha pouco petróleo e não tardaria a apagar-se. Na caixa das esmolas não havia dinheiro para ir comprar nem sequer meio quartilho. O senhor Padre ficou triste, porque ele também não tinha. A D. Normélia prontificou-se a pagar no dia seguinte se no comércio quisessem esperar pelo pagamento.
Entrementes, o senhor Padre acendeu duas velas e o petromax apagou-se antes de chegar mais petróleo.
Como já estavam a dar as três primeiras badaladas das Avé-Marias, todos saímos em correria para os nossos lares.
Só sei que o presépio estava deslumbrante para o meu olhar de menina...
Georgina Ferro
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA - COIMBRA
terça-feira, 15 de dezembro de 2020
POEMA DE NATAL DO POETA JORGE CASTRO
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - PINTURA-JARDIM DA MANGA
domingo, 13 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE- FOTOGRAFIA -COIMBRA
sábado, 12 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - PROSA
Também se limpavam os ramos grossos dos pinheiros e traziam-se para casa para se cortarem com a pedôa sobre um cepo, em pequenos feixes que se iam acarretando para a lareira conforme iam fazendo falta.
Eu gostava que se fizesse o desbaste dos pinheiros que nasciam demasiado perto uns dos outros. Vinham quase inteiros ao longo do chadeiro, apanhando um bocado da cabeçalha. Esses pinheiros, depois de serrados em toros eram rachados em cruz e formavam achas grandes e resinosas. Eu adorava aquele cheiro e por mais que meu tio gritasse “tirem-me a menina daqui, não vá eu magoá-la sem querer”, não arredava pé. Mal os cavacos caíam ao chão eu corria a apanhá-los para levantar uma torre com eles como via fazer às pessoas crescidas.
Mas o pior é que os meus deditos muito pequeninos, ainda hoje são, gelavam e faziam-me deitar lágrimas de verdade, com dor. E minha tia que sempre tinha água quente ao lume, primeiro deitava água fria na bacia e só a ia amornando a pouco e pouco com um pucarinho de água quente para eu não aquecer de repente e ter ainda mais dores.
Ao serão a tia tricotava em lã, todos os anos, mais uns pares de meias e umas luvas de cinco dedos que eu aprendi a fazer também, ainda antes de entrar para a escola. Era o orgulho da minha tia mostrar a habilidade da cachopita ainda tão pequena. O que é certo é que ainda agora as sei fazer.
Depois, sobre uma combinação e cuequinhas de flanela, enfeitadas com espiguilha ou uma rendinha, vestíamos um vestidinho de tecido mais grosso, uma camisola feita em casa e, para sair, nem todos tinham um sobretudo e uma touca para a cabeça. Os rapazes deixavam de usar calções e vestiam calças de pana sobre as ceroulas. Agasalhavam-se em camisolões que eram feitos sempre para os irmãos mais velhos e iam passando para os mais novos. Até as calças! Muitas das vezes era aproveitado o tecido dumas calças velhas do pai para fazer umas calças pequenas!
Em casa o serão era sempre à roda da lareira com as portas bem fechadas e tapadas as frechas com uns rolos de pano cheios com narvalhas e um pouco de areia da ribeira. Mas quando se ia fazer o serão na casa dos tios, vizinhos, amigos, enchia-se uma braseira de borralho e punha-se no estrado para todos terem lugar perto do calor.
E se o calor do lume nem sempre era suficiente, havia uma correria louca pela casa toda, num jogo de apanha e foge, umas escondidas atrás das portas ou debaixo das camas! Também jogávamos à sardinha, ao varre varre vassourinha e víamos os adultos jogar às cartas. Se houvesse algum baralho já muito gasto, jogávamos nós à bisca de três, ao estanderete,... Nem dávamos conta do sacrifício que os adultos faziam para nos criarem, pois era o nosso tempo de sermos felizes com o que íamos tendo em cada dia.
Georgina Ferro
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
COIMBRA DE OUTROS TEMPOS( muito antiga)
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA Coimbra Noturna
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
À CONVERSA COM OS AMIGOS - TEXTO DE KITO PEREIRA
À CONVERSA COM OS
AMIGOS …
Vivemos um estranho tempo. Um tempo de reclusão voluntária, a
conselho do governo e das autoridades sanitárias. Balançamos entre a ansiedade
e estados de alma, crentes no rigor científico, mas desconfiados do
supermercado de vacinas que prometem meter a vida mundial de novo nos carris. E
eu, defronte de um teclado, alimento-me de palavras e de frases que me espantem
os maus espíritos. E hoje, e mais uma vez, lembrei terras de África. Lá, em
Canjadude, deixei uma prestação da minha vida terrena. Naquele planalto vivi. Um
planalto com vários penedos de grande porte. Um deles era tão grande e
majestoso, que tínhamos um posto de vigia lá no alto. Dali, víamos toda a bolanha,
a espiar um qualquer movimento suspeito que nos fizesse pensar que o inimigo
andava por perto. A tal rocha, tinha na sua base uma enorme cavidade, quase uma
gruta, onde por artes da engenharia do desenrasca, se fundou um chiqueiro onde
habitavam porcos pretos para consumo da base. Mas apenas para nós europeus, uma
vez que os militares africanos se privavam de carne de porco por a sua religião
não o permitir. Curioso recordar, que as rações de combate dos africanos
traziam como refeição conservas de galinha, ao invés dos outros enlatados que
eram de porco e intragáveis. A carne vinha quase crua e mal cozinhada, só
faltava o porco grunhir de dentro da lata. Mas havia sempre a ocasião em que
tínhamos direito a carne de porco sem ser de conserva. No dia da matança do
porco, era sempre uma festa. Porém, eu e os outros graduados, fugíamos para o
nosso abrigo, para não sermos cúmplices daquele ato primitivo e bárbaro do
abate do animal. Porém, havia sempre cinco ou seis soldados que se dispunham a
ajudar o João na matança do suíno. O João era o nosso cozinheiro. Era gordinho
e atarracado, tinha umas bochechas rosadas e um sorriso doce e prazenteiro.
Gostava de comer mas era racional na alimentação. Tudo tinha que ser
aproveitado porque, naquele fim do mundo, não era grande a abundância.
Geralmente, o João quando se decidia por matar porco fazia-o ao sábado. E nós a
esfregar as mãos de contentamento, a suspirar por uma costeleta do animal bem
suculenta e apetitosa com batatas fritas e um ovo a cavalo. Mas o João, naquela
sua veia de racionalidade gastronómica e irritante, no domingo sequente e ao
almoço, mandava para a mesa o focinho do porco, com os pezinhos e as orelhas do
bicho, tudo acompanhado com grão – de - bico que, de tão duro que era,
carregado numa espingarda matava pardais nos telhados. E nós, o que nos
apetecia mesmo era correr a tiros de bazuca com o João cozinheiro, que nos
destruía os sonhos de uma exaltante refeição dominical. Porém, nos dias
seguintes, lá tínhamos direito a umas refeições melhoradas, onde a carne de
porco era rainha com sabor a saudade e a Portugal.
Kito Pereira
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - PINTURA -3ªpintura de Mário Rovira
domingo, 6 de dezembro de 2020
COIMBRA DE OUTROS TEMPOS - SERENATA DE ESTUDANTES
sábado, 5 de dezembro de 2020
ENCONTRO COM A ARTE - CONTO
Toino, o Menino Jesus do Senhor Joaquim, Guarda Fiscal.
Olhei aquela casa e fechei os olhos. Voei no tempo e tive a mesma sensação de angústia que não esqueci.
Vi uma figura delgada de passo irregular e pesado a achegar-se. Era ainda um menino, mas já tinha sulcos desenhados no rosto débil e doente. Era o Toino da Ti Maurícia a chegar do contrabando. Os pés calejados e sujos nas alpargatas já rotas. Os suspensórios, sobre a camisola cor de telha parda, a segurar as calças de pana. Estas, tinham sido aconchegadas dumas que já apertavam ao Lau do ti Zé Grande, seu vizinho. Mas nele, tão largas, mais lembravam uma saca desaconchegada. Estava tão “arreganhadinho” que mais parecia uma estatueta.
Arrastou os pés até à porta. Já nem tremeu mais de medo ao ver os guardas, pois morrer não seria pior que a sua vida.
“Como se atrevia o cachopo a vir ali?!... Viria denunciar algum grupo rival!?”
Foi então que o pequenito tombou no chão quase sem ruído, sucumbindo à fome e ao desagasalho.
Os guardas entreolharam-se.
Eram lágrimas os diamantes que brilharam em seus olhos.
Também eles tinham começado pela candonga antes de serem apurados nas sortes. Embora o dever fosse contra, não tiveram coragem do cumprir.
Puseram mais uns galhos no pequeno lume. Esfregaram-lhe as faces geladas e as mãos roxas. Deram-lhe o naco de pão com que pensavam escorraçar a própria fome. Chegaram-lhe aos lábios uma pinga de aguardente que traziam para enganar as longas noites de plantão nos lugares escusos e frios, como era aquela. Mas o Toino não reagia.
Ao longe repicaram os sinos para a Missa do Galo.
O guarda Joaquim, nunca tivera filhos nem irmãos mais novos. Mas aquela criança tocou-lhe na alma de uma forma pungente. Ajoelhou e pediu a Deus Menino que renascesse também, naquele corpinho frágil que estava ali. Pegou-o ao colo e admirou-se com a sua leveza.
Nesse momento o Toino abriu os olhos e sorriu triste.
Era Noite de Natal, cantavam os sinos nos campanários de todas as aldeias em redor…
Joaquim acarretou o Toino para a sua casa, para a sua família, para a sua vida. Era o Seu Menino Jesus.
Georgina Ferro