Naquele dia, acordei quando a Mimosa mugiu de dor na loja, por baixo do soalho. Achei estranho a tia já ter descido e as panelas grandes de ferro já fumegarem tanto ao lume esbraseado, se nem ainda era lusco-fusco!
Voltei ao quarto, enfiei o vestido de lã à pressa e nem reparei se estava das avessas ou não. Só reparei nisso, quando a tia me olhou naquele grande sorriso, que eu, de imediato, nem percebi bem se era de troça ou de alegria. Mas olhei a Mimosa e pareceu-me que também ela estava a rir. Foi então que a luz do candeeiro me fez olhar o vitelinho meio desequilibrado nas perninhas frágeis e trémulas. Corri a abraçar o pescoço daquela mãe tão ufana que não parava de lamber a cria e nem ligava ao feno doirado da manjedoura!... Em troca do meu abraço ela deu-me uma lambedela, como se quisesse dizer-me que também gostava de mim.
Entretanto, a tia e o tio tiraram algumas forquilhas de estrume e colocaram novos "fieitos" e rama de giesta a fazer a cama. Depois, desataram o nagalho a um feixe de palha de centeio e espalharam-na tão bem como se fosse uma colcha ou um lençol !
Minha tia olhava o vitelinho com tanto amor como se fosse uma criança humana e explicava-me: " Sabes filha, os animais sentem como as pessoas, só que nós não compreendemos o que eles nos dizem, às vezes só com o olhar! Mas eles já conhecem muitas das coisas que nós lhes dizemos! Percebem as ordens que lhes damos e obedecem-nos! Mas também percebem quando nós gostamos deles, como quando lhe foste dar aquele teu abracinho!"
Eu aprendi e sorri!... Ainda hoje sei bem aquela lição.
Georgina Ferro
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