quinta-feira, 6 de abril de 2017

O LOUCO MUNDO DO FUTEBOL ...






Emoções a azul e encarnado ...

Naquele sábado à noite, Lisboa esgotou-se para o Estádio da Luz. Era o nonagésimo jogo do século entre águias e dragões. Separados apenas por um ponto na tabela, o jogo prometia. Sem o retângulo mágico que me permitisse ingresso para a peleja, fui desaguar ao Vita Tejo, lá para as bandas da Amadora.

Tinham-me prometido um écran gigante de alta definição e não me mentiram. O problema é que o Vita já rebentava pelas costuras de gente vestida de vermelho. Centenas de veraneantes eram portugueses de origem africana, que vivem ali na zona.

Com o seu jeito gingão, deambulavam entre as mesas na procura de um lugar estratégico para ver o Benfica. Sim, porque a multidão apinhava-se em vagas de gente apressada, que era necessária muita paciência para conseguir um lugar, mesmo sendo o palco do jogo e dos sonhos de enormes dimensões.

Os restaurantes não tinham mãos a medir, com filas imensas de gente ordeira que esperava pacientemente a sua vez de ser servida. Numa fila entrei, na procura de um simples caldo verde, pois o almoço tinha sido maciço e saboroso a olhar o mar.

Regressemos à sucursal do Estádio da Luz, que o mesmo é dizer ao Vita Tejo. Numa mesa manhosa e através de um vidro grosso, lá me sentei a jantar e a olhar de viés para o jogo. À segunda colherada de caldo verde, o Benfica marcou um golo. Foi o fim. O Vita explodiu e muitos dos sentados nas mesas, subiram para as cadeiras em infernal gritaria. Outros dançavam em ritmo africano e atiravam bonés ao ar. Num ápice, o Vita transformou-se num comício de estrondoso fervor clubista.

O golo arreliou-me. Confesso que gosto do céu e do mar, que o mesmo é dizer que gosto do azul. A “culpa” é do Simões, que viveu no nosso bairro, que jogava no Porto e naquele dia em que o “Rápido” para Lisboa ia cheio e ele que me viu de pé, reconheceu-me e trouxe-me a reboque para uma carruagem reservada, onde ia a equipa do Futebol Clube do Porto que jogava no dia seguinte com a extinta CUF, no Barreiro. Gentilmente, ofereceram-me um lugar sentado junto deles e o Simões apresentou-me como um amigo dele do bairro. A cordialidade de todos para comigo, foi o início de uma simpatia surda pelo emblema do dragão.

Academista de coração e portista de adoção, assim resumo o meu universo do pontapé na bola.

Por isso, o caldo verde azedou. Pousei a colher e olhei para o meu companheiro que conheço há muitos anos porque nasceu lá em casa e que, pouco ou nada impressionado com aquele delírio encarnado, continuava a comer calmamente um bife com uma montanha de batatas fritas e salada. 

Aquele desamor pelo norte teve o condão de me irritar ainda mais. Mal ele acabou o repasto, partimos. Depois de o deixar em casa, rolei veloz pela autoestrada na noite escura, de ouvido no relato da partida. Não se via vivalma. Estava tudo de olhos postos no “match” e, já não muito longe da unidade hoteleira onde fiquei hospedado e ao circular numa rotunda, a rádio deu-me uma prenda: Golo do Porto!  

Entrei no hotel a sorrir e o empregado – rapaz novo e bem aparentado – fez o meu chek - in para, surpreendentemente e em estilo de comunicação obrigatória, como se decreto se tratasse, me informar que o Benfica ia na frente do marcador. Disse-lhe que estava enganado, porque os do norte tinham acabado de empatar a partida e ele mostrou-se surpreendido. 

Percebi então, que tinha ficado pouco entusiasmado com a novidade. Subi ao quarto e liguei a televisão. O jogo tinha terminado com um empate, diziam os comentadores desportivos a fazer que eram isentos a dar as suas doutas opiniões com termos rebuscados e verdades convenientes, de acordo com os seus interesses de avençados de um canal televisivo.

Do mal o menos, pensei para com os meus botões. E foi a sorrir por um resultado que com alguma sorte e felicidade poderá ainda valer um campeonato azul, que espreitei pela janela e vi uma cidade adormecida de uma noite de emoções fortes em tons de azul e encarnado.
Quito Pereira        

7 comentários:

  1. Por estas plagas, precisamente no município de Parintins, também temos, no final do mês de junho, um "embate" entre os Bois Garantido e Caprichoso. Tudo de forma saudável, as torcidas seguem regras, como: uma ficar em silêncio enquanto o Boi, de outra, se apresenta.
    As cores do Garantido, vermelho; e a do Caprichoso, azul.
    http://g1.globo.com/am/amazonas/fotos/2016/06/em-parintins-garantido-e-caprichoso-disputam-festival-fotos.html#F2082491

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    1. Pois Mamãe por cá e também por aí não tarda que os craques tenham que ir bem armadilhados em "pontas" tal é a violência que se vai vendo nos campos de futebol.
      Autênticas touradas...não como os Bois Garantido e Caprichoso em que (parecem) serem mais civilizadas as claques!

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  2. Ah! homem atão vais ver o futebol Vita Tejo pejado de benfiquistas?
    Claro que tinhas que comer caldo verde...sempre tem a cor do verde leão que não te desagrada!
    Mas claro como o verde não era para ali chamado respeitaste a ida de combóio com o Simões...
    Pois eu por aqui que só sou da Académica fico sempre meio dividido entre o Porto( por parte da filha, genro e netos e do Benfica pela parte do filho.
    Mas confesso que o Porto não me cai bem no gôto só porque não gosto mesmo nada do Pinto da Costa e da "sua tendência para a fruta"
    Mas o futebol como indústria já não me seduz e nem vale a pena falar nas claques principalmente dos 3 grandes!
    Enfim sobre futebol muito havia para contar!
    Ontem nem fui ver a Académica que empatou. É um ano para esquecer!
    De vez em quando e para minorar o desencanto pelo futebol e seus problemas, lembro-me da Final da Taça no Jamor! Isso sim! Foi uma festa!

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    1. Ainda não acompreendi porque é que o Ronaldo foi escolhido para trabalhar com a Angelina Jolie num episódio de uma família síria, na turquia. Como é que deixaram passar isto!!!!!!! – Esqueceram-se do Pinto da Costa.

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  3. Fui lendo e ia sorrindo com o que ia lendo, Quito. Do Porto a melhor recordação foi a vitória da AAC com um golo do Tó Gonçalves. Quanto ao que li: ai meu Deus. O bife com uma montanha de batatas fritas e salada, não mas tinha-te rapadao esse caldo verde. Com um empate, tudo terminou em bem.

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  4. CHICO às 23h00 uma postagem sobre o Tó Gonçalves

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