Uma pedrada no charco do futebol profissional ...
A edição deste ano da Taça de Portugal em futebol, trouxe a
surpresa de ter nas meias – finais, a equipa amadora do Caldas Sport Club.
Formada por jogadores da região que trabalham e jogam à bola, recebendo uma
pequena ajuda que juntam aos seus salários, o grupo conseguiu ir passando por
entre os pingos da chuva, até ter chegado a este patamar desta prova a
eliminar.
Representativa de uma cidade e de uma região, esta agremiação fundada em 1916, é merecedora do respeito daquelas que, não
padecendo de clubites exacerbadas, levam o futebol como fator de aproximação de
pessoas e não de divisão entre povos e regiões. Nada neste texto faria sentido,
não fosse uma observação atenta ao que se passou no Campo da Mata, aquando da
visita da nossa Académica. Um estádio pequeno e cheio como um ovo de
entusiastas de ambos os lados. Uma saudação ao adversário pela
amplificação sonora do estádio, coisa rara nos tempos que correm, e crianças vestidas
a rigor com o equipamento do grupo da casa, a festejar a entrada das equipas em
campo, deram cor ao dia cinzento a ameaçar chuva. Afinal, uma festa. A festa do
futebol genuíno como espetáculo de massas, sem corantes nem conservantes. Julgo
que o talismã da palavra Académica, também terá pesado no saudável ambiente que
se viveu. A Académica de Coimbra, suscita sempre a simpatia de quem a vê como
um fenómeno que está para lá do campo meramente desportivo.
Ainda hoje, apesar
das vicissitudes, a Briosa é respeitada e acarinhada não só pelos seus
seguidores, mas também por uma multidão que nela ainda vê um lado romântico do
desporto. Há dias, em conversa breve com o Dr. José Belo, antiga glória da
camisola negra, ele disse-me que tinha falado com apoiantes que foram às Caldas
da Rainha e que, apesar da derrota, havia um sentimento geral de que tinha sido
uma grande tarde de futebol e de festa.
Mas hoje, é o Caldas Sport Club que está na ribalta para
alegria das suas gentes. Sei, tenho a certeza, que quem vai acompanhando esta epopeia
de um grupo de jogadores amadores, de norte a sul de Portugal, veste agora
solidariamente a camisola que também é negra do Caldas Sport Club. É provável,
muito provável, que esta aventura esteja no fim. Um bando de milhafres acabará
por espatifar um pardal. Mas este grupo da simpática cidade das Caldas da
Rainha já fez história. Um hino de transparência à essência do desporto e suas
virtualidades, em contraponto com o mundo obscuro e opaco do futebol
profissional. Uma pedrada no charco dos interesses instalados. Uma pérola de
querer e de crer, de um grupo de aguerridos rapazes, que todos os dias labutam
na procura da sua subsistência e que, por acaso, também gostam de jogar
futebol.
Quito Pereira
Hoje, via TV, viu-se uma Académica feliz num resultado que nem pouco mais ou menos mereceu. Mais forte, melhores jogadores e mais bem preparada, a equipa de Viseu bem se pode queixar de si própria. Nada a apontar aos nossos. Fizeram o que puderam dentro das suas enormes limitações onde apenas aparece Marinho com estatuto de jogador de primeira divisão.Subir de divisão é uma quimera e apenas a generosidade dos jovens faz acreditar naquilo que já se percebeu que não tem pernas para andar. Talvez por isso e olhando para a realidade de uma equipa modesta, se perceba da derrota normal nas Caldas da Rainha. Longa vai ser a travessia no deserto, mas eu gostaria muito de me enganar ...
ResponderEliminarSem dúvidas, Quito. O amadorismo é um hino ao desporto que hoje já nem nas Olimpíadas se vê. Quando treinadores de equipas universitárias não profissionais ganham milhões, mesmo onze milhões e meio já não falando dos atletas, esses meninos do Caldas deviam ser idolatrados.
EliminarQuanto à nossa Académica vai ser esse o problema se subir de devisão a não ser que vão contratar pessoal mais caro. Só que assim como estão, se subirem de devisão e correr tudo muito bem com o plantel que têm ou ligeiramente amelhorado, no ano seguinte vai cada um para seu lado. Todos querem assegurar a velhice e nós, os saudosistas carolas fora da época, a sofrer... Mas somos assim, eu incluído.
Votos que a rapaziada do Caldas continuem nesta caminhada.
AAC, sempre.
Um abraço.
Aonde se lê devisão, devia estar escrito divisão.
EliminarConcordo que o Caldas está a ser o chamado "tomba gigantes" nesta edição da Taça de Portugal!
EliminarSim amadores(não sei se todos os jogadores...), mas será bom recordar que o Caldas Sport Clube já foi uma equipa profissional(andou uns anos na primeira divisão) e até saiu em vantagem nos jogos disputados com a nossa Académica...até no tempo de uma Académica com jogadores estudantes e que só recebiam subsidios de alimentação e para estudos!
Vários clubes de futebol que tiveram anos de notariedade em épocas muito recuadas alguns e outros mais recentes e dadas as crises financeiras(sendo SAD´s ou não) entraram em falência e para ultrapassar essa situação e continuarem a praticar futebol oficial, engenhosamente mudam de parte do nome que tinham , acrescentando o ano em que foram fundados! Na Associação de futebol de Coimbra há dois...
Com o Caldas não deve ter passado bem o mesmo, mas penso que arrepiaram caminho na devida altura e passaram a ter jogadores amadores. Sobreviveram passando pelas divisões distritais. Claro que tirando este feito bonito, contentam-se em andar pelo Campeonato de Portugal(terceira divisão), mal classificados e até porventura correndo o risco de voltar aos distritais-o que não é vergonha nenhuma se mantiverem o amadorismo puro ou mesmo semi puro!
Quanto ao jogo da Académica-Académico de Viseu só vi 25 minutos iniciais na TV e o que vi foi a AAC a jogar melhor e a finalizar muito mal...e a oferecer de mão beijada o golo ao Académico de Viseu...
Não aconteceu o pior e o empate deixa esperanças de subida.