As lembranças do Quito (Aqui) levaram-me a outras: minha mãe!
As fotografias inexistem, porque àquela época, da minha
infância, só tenho as lembranças narradas pela minha mãe. Mas, a dor que eu
sentia quando ela “catava” os piolhos e
lêndea, só quem passa por isso sabe bem a que me refiro.
Minha mãe, viúva muito cedo, e com 5 filhos para criar (eu,
a mais nova, com 5 anos), e como ela mesma costuma dizer – já nos seus 102
anos! – não tinha recursos para pagar babá e tampouco nos levar a um(a) cabeleireiro(a). Então, ela cortava o nosso
cabelo, ao jeito dela. Acreditem: usando lâmina para barbear! Se podíamos
opinar sobre o corte? Nem pensar. A resposta era um tapa “no pé da orelha”!
O corte era sempre bem curto. Quanto menos cabelo,
melhor, para poder “catar” piolhos e
lêndeas. Aquele momento de retirar essas “pragas” que grudavam nos cabelos da nuca era por demais
sofrido, porque, para mim, era o local onde a “puxada” do cabelo doía muito.
Lembro-me de chorar durante todo o “procedimento cirúrgico”, mas era obrigada a
engolir o choro. Não sei como isso se dava com as outras minhas irmãs, mas
tenho apenas lembranças do que acontecia comigo. Afinal, quem “apanha” nunca
esquece”.
Não satisfeita, porque não tinha tempo para o feito,
mamãe colocava um pó branco em minha cabeça (depois de muito tempo soube que era DDT (sigla de diclorodifeniltricloroetano)
um pesticida. Envolvia minha cabeça em um pano branco e assim eu ia pra escola. Ela sequer imaginava (e até hoje não imagina) o perigo de estar
manipulando aquele veneno, e eu, de estar com aquilo no meu couro cabeludo. Mas
Deus protegeu! Ah, e como protegeu!
Vou culpar minha mãe por isso? Nunca! Ela é a
minha heroína. A mulher de fibra - que foi e tem sido - só nos orgulha.
Ela diz que, quando criança, meu cabelo era
muito fino, tanto, que sequer segurava um grampo. Pois! Mas desde que me conheço, o
meu cabelo sempre foi “problemático”.
Nas poucas vezes, já adulta, e querendo
provocar-lhe, disse para ela que sofro as consequências do tanto de DDT que ela
usou na minha cabeça. Ao que ela me responde: “ É nada. Não tinha tempo para ficar catando piolhos e lêndeas! Isso é
consequência desses shampoos que vocês usam!”
Dizem que cortar cabelo com lâminas endurece os
fios, e tendo a acreditar que sim, pois era dessa “ferramenta” que minha mãe se
valia para “cortar” meu cabelo, na infância.
Mãe, como queria que esse tempo voltasse.
Permitiria até que a senhora passasse a máquina, me deixasse ...careca”.
Chama a Mamãe!
(mas não para cortar seu cabelo!)
Tenho também ideia que nos meus tempos de criança essa praga de piolhos e lendeas era praga na maioria da criançada. Algumas eram "catadas" na soleira da porta em dias solarengo! Por vezes apareciam umas carecadas com melhor remédio para ajudar o remédio que se vendia na botica.
ResponderEliminarMas no caso de Chama a Mamãe com tantas irmãs era uma missão quase impossível. Era uma mãe coragem e umas filhas não menos corajosas. Mas com DDT piolho não brinca!
Mas apesar dessa guerra piolhosa, é as lembranças de infância não deixam sequelas na relação entre.mãe e filha. O amor é muito compreensivo.
Obrigado pela colaboração!
Quem agradece sou eu por tanto privilégio.
EliminarO revisitar da Memória do Albino barbeiro, teve o "mérito" de alguns amigos darem o seu testemunho da vida atribulada daquela figura de Coimbra.De lá, do país - irmão, também veio uma recordação de infância de uma infelicidade capilar, que ainda hoje acontece nas escolas portuguesas.
ResponderEliminarMais que um texto, entendo esta prosa como uma merecida homenagem que uma filha presta a uma mãe - coragem, viúva muito cedo e 5 filhos para criar.
" Ela é a minha heroína. A mulher de fibra - que foi e tem sido - só nos orgulha"
Esta frase, resume o perfil de uma amiga estruturalmente muito bem formada, um ser humano de eleição. Atrevo-me a dizer que mãe e filha se merecem uma à outra na troca de sentimentos. E foi esta a mensagem que mais retive deste texto, que não foi escrito pela pela mão desta nossa amigo de Manaus. Foi escrito com o coração.
Obrigado pela colaboração e até breve ...
Em tempo: há a repetição do vocábulo "pela" na parte final do texto. As minhas desculpas ...
ResponderEliminarAi piolhos sim neste século ainda há piolhos
ResponderEliminarConselhos nas escolas lavar a cabeça com produto para tal.
Depois lavar a roupa toda com água muito quente.
Como é no outono já há muita coisa de lã fica tanta roupa estragada.
Para mim o melhor é lavar o cabelo com o produto e depois um bom corte e ver se ainda ficou slguma coisa...isto é a minha ideia.
Bjs
Lucinda,já há muito não sei o que seja ter essas pragas. Até meus netos não sei de casos. Problema é nas escolas. Sempre tem algum que ainda tem piolho...aí se alastra. Mas existem produtos no mercado menos maléficos do que aqueles usados na minha infância.
EliminarGostei! Chama a Mamãe, você tem que ter mais cuidado com os shampoos que anda a usar!
ResponderEliminarAcho que passei ao lado da piolhada, mas lembro-me que muita da miudagem se andavam sempre a coçar. Minha tia me avisava para evitar contactos. Tive sorte...
Tiveste!
EliminarOra cá está uma das vantagens de ser careca!
ResponderEliminarOra lá eras careca na infância ?
EliminarQuando nasci, ora!
EliminarPor Caria não houve esta porcaria?
ResponderEliminarUi, ui... e não te esqueças de que os meus pais e a minha avó eram professores primários. Às vezes aquilo parecia um jardim zoológico especializado em lêndeas.
Eliminarhehehehehe
EliminarEu tinha piolhos e lêndeas com frequência e a minha mãe penteava-me com um pente próprio, com os dentes bastos e finos, e depois de lavar a cabeça com sabão azul, aplicava tintura de cevadilha e atava a cabeça com uma fralda branca.
ResponderEliminarNa manhã seguinte era feita a avaliação do tratamento consoante o número de mortos...
Em adulta não voltei a ter, apesar de lidar com bastantes situações análogas, porém a minha filha teve e eu quase lhe dei rapadela, mas com a tesoura e já se usavam produtos de farmácia.
isso mesmo!
EliminarAqui entra o BobbyZé!!!Desculpem a minha intrusao tardia mas ando metido numas "Americanices" que, com um pouco de sorte, me conduzirao em Agosto proximo ao Festival WOODSTOCK, proximo de Nova Yorque. Festeja-se este ano o 50° Aniversàrio desse mistico movimento Hippie de 69! Tenho a absoluta certeza que nessas 500 000 almas presentes em 69, havia seguramente muito piolho e lêndeas. Mas da "Lenda" nao reza a Historia!!!Os meus PARABENS à "Chama A Mamae" por tao bela narrativa!ESPETACULO!!!!Também me lembro de ter tido o meu "piolhito" mas na sua maior parte, na Escola estàvamos protegidos pela palmatoria do Professor ILHARCO!!! Era cada uma, que os piomlhos até voavam!!!!!!Nao havia lugar para sedentarismo animal!!! Actualmente, tenho uma "Cabeleireira Privada", que se desloca a minha casa!E Loura, bonitona e corta muito bem!!!Mas quando a vejo, a abrir a navalha, para me aparar o pescoço, nao posso deixar de pensar em quantos crimes aquele objecto jà provocou!!!Como sou Mansinho, ela sempre se portou bem! Resta-me enviar beijinhos, abraços e votos de Boa saude a todos vos!!
ResponderEliminarA piolhada andava nas cabeças até dos mais providos.
EliminarObrigada, Bobbyzé...e, por favor, continue mansinho.