segunda-feira, 30 de setembro de 2019
ANIVERSÁRIO
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Aniversários
domingo, 29 de setembro de 2019
IN MEMÓRIAS & INSPIRAÇÕES José O Passeiro
" Estive ontem em casa de um vizinho que tem na sua
habitação um lume. Um lume é, basicamente, uma fogueira no chão, com uma grelha
de ferro por cima e uma chaminé no tecto por onde evacua o fumo da combustão. Recuei 45 anos e percorri por momentos, em pensamento, a casa da minha
avó paterna. Vivia no bêco de Stº António, em Eiras. Agora é de Santo António,
na altura era apenas O Bêco. A casa era minúscula, mas adorável. Tinha uma
cozinha de lume por baixo, e dois pequenos quartos no andar de cima. A
cozinha tinha como únicos móveis um mosqueiro, um armário, uma mesa , dois
bancos e, na parede, uma grade de madeira com camarões metálicos onde se
penduravam os tachos e as cafeteiras. Os pratos, já um pouco desbeiçados pelo
uso, eram colocados numa prateleira, que debruava a chaminé e era revestida com
vistoso papel decorativo colorido, que se vendia propositadamente para esse
efeito. Não havia electricidade nem água canalizada. O lume estava aceso
todo o dia. A ligação aos quartos era feita por umas escadas de madeira,
regularmente lavada com sabão amarelo e encerada, mas já carcomida e esburacada
pelo caruncho. Ladeava-a um corrimão do mesmo material e ao subir ouvia-se o
ranger provocado pelo peso dos anos. Ao cimo das escadas estava uma
pequena mesa, onde pontuavam principalmente objectos de cariz religioso.
Recordo-me de uma figura de S. Jorge a cavalo, perfurando um dragão com a sua
lança. Mas não consigo lembrar-me se seria um quadro ou objecto de porcelana.
Depois havia um relógio despertador daqueles com campainha por cima, e cujo
ponteiro dos segundos, ressoava noite dentro de forma ensurdecedora. Na parede,
estava pendurado um prato de porcelana com formato de folha de couve de repolho
e 3 nozes em relevo. Apenas o facto de estar num sítio inatingível para a minha
altura, impediu que o retirasse e verificasse se as ditas nozes, eram
verdadeiras ou de barro. Os quartos eram simples. Camas de ferro, com colchões
e almofadas de palha. O “meu” tinha a particularidade de quase poder bater com
a mão no tecto de forro (esconso) mesmo estando deitado. Tudo era cozinhado ao
lume. O café, cujo agradável cheiro eu nunca mais esqueci, era guardado numa
velha lata cúbica, gravada com desenhos de galos nos 4 lados. Os talheres eram
de ferro e cabo de madeira, mas a principal iguaria que me recordo de comer em
casa da minha avó, dispensava o seu uso. Sardinhas fritas em pasta. A minha avó
dizia que eu demorava menos a comê-las que ela a fritá-las. Fazia-o
debruçada sobre o lume, numa sertã preta, e utilizava um galho de pinheiro para
as virar. Mesmo assim, não era fácil convencer-me a ir lá dormir e minimizar um
pouco a sua solidão. Normalmente eram noites de pesadelos com guerras infinitas
entre dragões, relógios e São Jorges. Mas ela lá me convencia, puxando pela algibeira
e retirando um cruzado, (4 tostões) que era invariavelmente trocado por
rebuçados ou línguas de gato, no dia seguinte, na loja do António Carvalho.
Depois adoeceu, foi para casa de uma tia minha, que tratou dela até ao fim, e
eu nunca mais lá entrei…" in Memórias & Inspirações"
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Josá Passeiro
sábado, 28 de setembro de 2019
JARDINS FLORIDOS - BAIRRO NORTON DE MATOS
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
ENCONTRO COM A ARTE - EXPOSIÇÃO DE PINTURA - AS SERRAS DO DEMO...
...de JOSÉ DA COSTA (ANTÓNIO JOSÉ DA COSTA SEIXAS)-Rua Infante Santo-Bairro Norton de Matos
Algumas das telas das muitas que compõem a exposição
As Viúvas do Burel
acrílico sobre tela
50x70cm-2019
O Pão do Diabo
acrílico sobre tela
70x50cm - 2019
A Tormenta
acrílico sobre tela
70x50cm-2019
A Estrela
acrílico sobre tela
50x40cm-2019
A Serra do Açor
acrílico sobre tela
40x50cm-2019
A Esperança
acrílico sobre tela
70x50cm-2019
As Serras do Demo
acrílico sobre tela
115x180cm-2019
Xisto da Lousã ao Açor
Acrílico sobre tela
50x70cm-2019
O Marão
acrílico sobre tela
90x155-2019
.......
A visita da vizinha...
Algumas das telas das muitas que compõem a exposição
As Viúvas do Burel
acrílico sobre tela
50x70cm-2019
O Pão do Diabo
acrílico sobre tela
70x50cm - 2019
A Tormenta
acrílico sobre tela
70x50cm-2019
A Estrela
acrílico sobre tela
50x40cm-2019
A Serra do Açor
acrílico sobre tela
40x50cm-2019
A Esperança
acrílico sobre tela
70x50cm-2019
As Serras do Demo
acrílico sobre tela
115x180cm-2019
Xisto da Lousã ao Açor
Acrílico sobre tela
50x70cm-2019
O Marão
acrílico sobre tela
90x155-2019
.......
A visita da vizinha...
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Encontro com a Arte - pintura
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
FOGO PRESO
FOGO PRESO
Não falhava!
Todos os anos em Agosto, lá ia eu pernoitar em casa do meu avô na véspera da procissão da Festa das Torres do Mondego. Despertava cedo, no dia seguinte, com o estralejar dos foguetes que ecoava do outro lado do Mondego, nas Carvalhosas, com a algazarra dos cães a ladrar e com o barulho infernal dos bombos dos Zés Pereiras, acompanhados pelos estridentes choros das gaitas de foles
.
Naquele ano, a festa ia ser de estalo. O juiz, António Fueiro e os restantes componentes da Irmandade era tudo gente de primeira escolha. Pela primeira vez ia haver fogo de artifício, vindo especialmente de Gondomar, que era longe como um milhão de diabos. E o melhor que se fazia em Portugal, garantia o pirotécnico!
Raios parta o sacana do homem, dizia o regedor, referindo-se ao pirotécnico. Homem duma cana, corroborava o Toino Pataqueiro, enquanto levava à boca mais um tinto morangueiro e besuntava os dedos num naco de toucinho cru. Do fogo de artifício iria emergir no ar uma barca serrana toda engalanada, coisa nunca vista, nem nas Festas da Rainha Santa em Coimbra! Nem mesmo nas da Senhora da Agonia lá no Minho, acrescentava o vendedor do foguetório …
No ano anterior, a festa tinha sido um fiasco. O Ti Zé Carne Assada, que foi o juiz desse ano, só se tinha preocupado em apresentar lucros com a quermesse e com a venda de bilhetes para o baile no recinto da Junta. Ainda por cima, entregou o dinheiro todo ao Padre João, para obras na igreja.
Na taberna do Sr. Almeida, o António Fueiro não se cansava de espalhar a novidade. O coração quase lhe saltava do peito rude quando se imaginava na noite do arraial a ser aclamado pela aldeia.
No rio, lá em baixo, o pirotécnico afadigava-se a montar o fogo preso, em duas barcas serranas ancoradas na correnteza, para o grande festival da noite da festa. Seria dali que os foguetes de lágrimas se desprenderiam, para espanto dos aldeões e dos forasteiros, varrendo com as suas luzes multicores o casario da povoação.
E chegou a hora tão ansiosamente esperada. Toda a gente se acotovelava à beira da estrada de Penacova que atravessa a terra, no pátio da Junta e no adro da igreja. A um sinal do Fueiro, um impaciente cachopo, limpou o ranho à manga da camisa e desatou descalço, em louca correria pela quelha que vai dar ao rio, para avisar o homem dos foguetes que podia começar.
Uma salva de três morteiros assinalou o início. A seguir, a populaça o que viu, foi o Mondego, lá em baixo, iluminar-se de várias cores e uma densa nuvem de fumo elevar-se lentamente em direcção à aldeia.
O impacto dos três primeiros foguetes tinha aberto um buraco no chão meio apodrecido de uma das barcas que se foi afundando lentamente com todo o arsenal pirotécnico a bordo. Os foguetes disparavam para a esquerda, para a direita, mas não para o ar, como bichas de rabiar, incendiando o fogo preso que estava na outra barca.
Porém, o homem de Gondomar tinha parcialmente razão! Como prometido, uma das barcas serranas boiava nas águas toda engalanada pelas labaredas e por uma estrepitosa e colorida miríade de chispas. Só lhe faltou subir aos ares...
Rui Felício
--- reeditado ---
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Rui Felício
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
ANIVERSÁRIO
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Aniversários
terça-feira, 24 de setembro de 2019
PORTUGUÊS NÃO É PARA AMADOR...
Português não é para Amador…
Vale a leitura!
A diferença de doida e doída é um acento.
Assento não tem acento.
Assento é embaixo, acento é em cima.
Embaixo é junto e em cima separado.
Na sexta comprei uma cesta logo após a sesta.
É a primeira vez que tu não vês.
Vão tachar de ladrão se taxar muito alto a taxa da tacha.
Asso um cervo na panela de aço que será servido pelo servo.
Vão cassar o direito de caçar de dois pais no meu país.
Por tanto nevoeiro, portanto, a cerração impediu a serração.
Para começar o concerto tiveram que fazer um conserto.
Ao empossar permitiu-se à esposa empoçar o palanque de lágrimas.
Uma mulher vivida é sempre mais vívida, profetiza a profetisa.
Calça você bota, Bota você Calça
Oxítona é Proparoxítona
Realmente, não é para amador!
(Desconheço a autoria)
Enviado por Júlia Faustino Lopes
Vale a leitura!
A diferença de doida e doída é um acento.
Assento não tem acento.
Assento é embaixo, acento é em cima.
Embaixo é junto e em cima separado.
Na sexta comprei uma cesta logo após a sesta.
É a primeira vez que tu não vês.
Vão tachar de ladrão se taxar muito alto a taxa da tacha.
Asso um cervo na panela de aço que será servido pelo servo.
Vão cassar o direito de caçar de dois pais no meu país.
Por tanto nevoeiro, portanto, a cerração impediu a serração.
Para começar o concerto tiveram que fazer um conserto.
Ao empossar permitiu-se à esposa empoçar o palanque de lágrimas.
Uma mulher vivida é sempre mais vívida, profetiza a profetisa.
Calça você bota, Bota você Calça
Oxítona é Proparoxítona
Realmente, não é para amador!
(Desconheço a autoria)
Enviado por Júlia Faustino Lopes
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Diversos.
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
COIMBRA ANTIGA- PRAÇA 8 DE MAIO
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Coimbra antiga
sábado, 21 de setembro de 2019
NAS MARGENS DE UM LUGAR AUSENTE ...
Há seis décadas que navego no caudal do Tempo. Seis décadas a
remar num mar de tormentas e de bonança. E hoje, aqui, neste rincão, sinto que
atraquei nas margens de um Lugar ausente. Freixial do Campo se chama este meu
cais de solidão. No coração da aldeia, sento-me junto do fontanário. Um ténue fio
de água vai caindo no regaço lodacento de uma concha feita de pedra tosca. Apenas
o barulho da água cristalina trespassa o silêncio da tarde clamorosa de luminosidade,
a contrastar com o granito escuro das casas humildes, alinhadas nas margens de
cada viela. Por ali, todos os dias, passam destinos cruzados. O Destino das
gentes que regressam da labuta da terra e lhe revolvem as entranhas na luta
pela sobrevivência. Mas há os outros. Os que, em grupo, sobem a rua estreita. Acolá,
no início da aldeia, a camioneta da carreira parou, para que se pudessem apear.
Vêm da cidade e, na mão, pendente entre os dedos, os sacos de plástico
transparente, onde repousa a marmita do almoço comido na fábrica, nos subúrbios
da cidade. Por momentos, é assim, quando o sol já se esconde para lá do
Moradal. A aldeia ganha vida para, como por magia e segundos depois, se
esvaziar e de novo mergulhar na sua letargia de séculos. De novo fico só.
Apenas a Ana, curvada sobre a bengala,
me olha com as suas faces rosadas e uns olhos grandes e expressivos. Dou comigo
a pensar como deveria ser bonita aquela mulher. Mas também dou comigo a refletir
que segredos, que tormentos, que sabedoria encerrará o Sacrário da sua cabeça
cansada, de cabelo liso derramado sobre os ombros. Ao lado, ali ao lado, é o
café do Calmeiro. De estatura avantajada, arrasta penosamente os pés, onde
moram umas enormes sandálias. Por detrás das fitas coloridas, pendentes na
porta, como obstáculo à entrada de moscas, chama-me para dois dedos de
conversa. Entro então no estabelecimento e o Calmeiro vira-me as costas. Lentamente,
dirige-se para o balcão de onde traz as duas bebidas que nunca me deixa pagar.
Regressa em silêncio, no seu passo lento, revelando dificuldades na locomoção,
as calças presas por um par de suspensórios, que vai afagando com um trejeito
que há muito lhe conheço. E é por detrás dos óculos grossos e gastos, sentado
comigo à mesa, que me fala da Vida. Das doenças e do desencanto. Dos filhos que
estão sempre no seu pensamento. Da mulher, companheira amiga de tantos anos, o
seu porto de abrigo que, com ele, partilha muitas horas de balcão, na esperança
de clientes que cada vez aparecem menos. No fim, sempre no fim, com a sua mão
enorme e avassaladora, cumprimenta-me num gesto de despedida. É um homem
emotivo, o Calmeiro. Fica sempre com uma lágrima no olho, na hora da partida. E
eu, de regresso às planícies sem fim, que se esgotam no horizonte da minha
pálida existência, vou meditando nos percursos esconsos da Vida. E se o
Calmeiro partir, pelos caminhos da Eternidade antes de mim, religioso que é,
rezar - lhe- ei uma breve prece, porque vou sentir a sua falta.
QP.
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Aniversários
quinta-feira, 19 de setembro de 2019
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA :
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Encontro com a Arte- Fotografia
quarta-feira, 18 de setembro de 2019
A CASA ASSOMBRADA
A CASA ASSOMBRADA
Era na única rua do Chão do Bispo que morava o Dr. Sebastião
Nunes, chefe de secção no Banco de Portugal, à Portagem.
A casa era própria. Tinha-a comprado, ainda novo, aos
herdeiros do antigo proprietário, o fidalgo D. Thomaz de Noronha. Ficou-lhe
barata porque ninguém a queria. Dizia-se que estava assombrada.
Colocou-lhe na cimalha um dístico pretensioso em letras
metálicas douradas cravadas no granito:
Villa Sebastiana.
Na frente havia um jardinzinho que se encurvava para a
esquerda, debruado a bucho de uns oitenta centímetros de altura, rasgado a meio
por um pequeno portão de ferro forjado.
Os arbustos bordejavam todo o jardim, como um muro vegetal,
sob o vão da varanda lateral do primeiro andar, que corria em volta de toda a
mansão.
O Dr. Sebastião nunca casou. Não que acreditasse na maldição
da casa onde, contava-se em surdina, o fidalgo D. Thomaz de Noronha tinha sido
degolado pela sua mulher que em seguida se suicidou.
Mas à cautela, achava que era melhor não desafiar os
espíritos malignos que o povo dizia que pairavam pelo casarão para levar para
os infernos quem ali se atrevesse a viver maritalmente.
Para além de que, com a sua figura, teria sido difícil
encontrar companheira.
O Sebastião era um homem grave, circunspecto, sisudo, de
ventre proeminente e calvície brilhante.
As mãos popudas, de dedos curtos, seguravam uma eterna pasta
de cabedal engraxado, feita de encomenda em pele de vaca, pelos presidiários da
Penitenciária de Coimbra.
Nela trazia papéis da repartição, não com o fito de os ler,
mas para agradar ao Director do Banco que assim ficaria a pensar que o zeloso
funcionário levava trabalho para casa.
Na ponta do nariz abatatado onde medrava uma verruga,
encavalitavam-se umas cangalhas de aros grossos.
Pesado e asmático, ajoujado ao peso da pasta e balouçando-se
ao traulitar cadenciado do bastão encastoado a ouro, em que se apoiava para
disfarçar o manquejar, era com grande esforço que vencia os dois degraus da
porta de entrada.
Certo dia, enquanto esperava o trolley do Calhabé, uma
prostituta sorriu-lhe, encostou-lhe o seio libidinosamente ao braço,
sussurrou-lhe que o queria, e o Dr. Sebastião endoidou, sentiu o corpo
estremecer de desejo, depois de tantos e tantos anos de abstinência e
convidou-a a pernoitar na sua casa.
No dia seguinte, o Diário de Coimbra titulava a toda a
largura da primeira página, que o ilustre Dr. Sebastião e uma mulher ainda não
identificada, foram encontrados numa poça de sangue, abraçados um ao outro, no
leito de um quarto da Villa Sebastiana, bárbaramente degolados.
Rui Felicio
--- reeditado ---
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Rui Felício
terça-feira, 17 de setembro de 2019
IGREJA MATRIZ DE SÃO JOSÉ(ANTIGA)
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Coimbra (notícias)
domingo, 15 de setembro de 2019
PORTUGAL AOS OLHOS DUMA BRASILEIRA
PORTUGAL AOS OLHOS DE UMA BRASILEIRA...🤔...
Ruth Manus, é advogada e professora universitária e escreve
num blogue num Jornal de S. Paulo. E escreveu isto sobre Portugal, num texto
que deve ser (é !) um orgulho lermos:
«Dentre as coisas que mais detesto, duas podem ser
destacadas:
Ingratidão e pessimismo.
Sou incuravelmente grata e optimista e, comemorando quase 2
anos em Lisboa, sinto que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis
que existem aqui, embora me pareça que muitos nem percebam.
Não estou dizendo que Portugal seja perfeito.
Nenhum lugar é.
Nem os portugueses são, nem os brasileiros, nem os alemães,
nem ninguém.
Mas para olharmos defeitos e pontos negativos basta abrir
qualquer jornal, como fazemos diariamente.
Mas acredito que Portugal tenha certas características nas
quais o mundo inteiro deveria inspirar-se.
Para começo de conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar
com os portugueses.
Os franceses aprenderiam que aqueles pratos com porções
minúsculas não alegram ninguém.
Os alemães descobririam outros acompanhamentos além da
batata.
Os ingleses aprenderiam tudo do zero.
Bacalhau e pastel de nata ?
Não.
Estamos falando de muito mais.
Arroz de pato, arroz de polvo, alheira, peixe fresco
grelhado, ameijoas, plumas de porco preto, grelos salteados, arroz de tomate,
baba de camelo, arroz doce, bolo de bolacha, ovos moles.
Mais do que isso, o mundo deveria aprender a se relacionar
com a terra como os portugueses se relacionam.
Conhecer a época das cerejas, das castanhas e da vindima.
Saber que o porco é alentejano, que o vinho do Porto é do
Douro.
Talvez o pequeno território permita que os portugueses
conheçam melhor o trajeto dos alimentos até a sua mesa, diferente do que
ocorre, por exemplo, no Brasil.
O mundo deveria saber ligar a terra à família e à história
como os portugueses.
A história da quinta do avô, as origens transmontanas da
família, as receitas típicas da aldeia onde nasceu a avó.
O mundo não deveria deixar o passado escoar tão rapidamente
por entre os dedos.
E se alguns dizem que Portugal vive do passado, eu tenho certeza
de que é isso o que os faz ter raízes tão fundas e fortes.
O mundo deveria ter o balanço entre a rigidez e a afecto que
têm os portugueses.
De nada adiantam a simpatia e o carisma brasileiros se eles
nos impedem de agir com a seriedade e a firmeza que determinados assuntos
exigem.
O deputado Jair Bolsonaro, que defende ideias piores que as
de Donald Trump, emergiu como piada e hoje se fortalece como descuido no nosso
cenário político.
Nem Bolsonaro nem Trump passariam em Portugal .
Os portugueses - de direita ou de esquerda - não riem desse
tipo de figura, nem permitem que elas floresçam.
Ao mesmo tempo, de nada adianta o rigor japonês que acaba em
suicídio, nem a frieza nórdica que resulta na ausência de vínculos.
Os portugueses são dos poucos povos que sabem dosar rigidez
e afecto, acidez e doçura, buscando sempre a medida correta de cada elemento,
ainda que de forma inconsciente.
Todo país do mundo deveria ter uma data como o 25 de Abril
para celebrar.
Se o Brasil tivesse definido uma data para celebrar o fim da
ditadura, talvez não observássemos com tanta dor a fragilidade da nossa
democracia.
Todo país deveria fixar o que é passado e o que é futuro
através de datas como essa.
Todo idioma deveria conter afecto nas palavras corriqueiras
como o português de Portugal transporta .
Gosto de ser chamada de “ miúda“.
Gosto de ver os meninos brincando e ouvir seus pais
chama-los carinhosamente de “ putos “.
Gosto do uso constante de diminutivos.
Gosto de ouvir ” magoei-te ? ” quando alguém pisa no meu pé.
Gosto do uso das palavras de forma doce.
O mundo deveria aprender a ter modéstia como os portugueses,
embora os portugueses devessem ter mais orgulho desse seu país do que costumam
ter.
Portugal usa suas melhores características para aproximar as
pessoas, não para afastá-las.
A arrogância que impera em tantos países europeus, passa bem
longe dos portugueses.
O mundo deveria saber olhar para dentro e para fora como
Portugal sabe.
Portugal não vive centrado em si próprio como fazem os
franceses e os norte americanos.
Por outro lado, não ignora importantes questões internas,
priorizando o que vem de fora, como ocorre com tantos países colonizados.
Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é
muito maior do que parece.
Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais
parecido com Portugal.
Ruth Manus
sábado, 14 de setembro de 2019
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA- Olhares de Coimbra
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Encontro com a arte - Fotografia
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
BODAS DE OURO - CASAMENTO BOBBYZÉ E ELIZABETH
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quinta-feira, 12 de setembro de 2019
NOTICIAS DO BAIRRO - ACADEMIA DE DANÇA DO CNM
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ANIVERSÁRIO
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ANIVERSÁRIO
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quarta-feira, 11 de setembro de 2019
SAUDADES DE UMA JUVENTUDE DISTANTE...= 5 CALHABÉ E O CHORA
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Postais de Coimbra
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
O HOMEM DA SALEMA ...
Salema
O café é pequeno e acolhedor. Tem muito de familiar e os clientes conhecem-se todos uns aos outros. No verão, a clientela cresce pela chegada dos turistas e eu, pelos anos que já o frequento, pois o estabelecimento fica no sopé do meu lar algarvio, subi há muito ao estatuto de vizinho. A Nice, pequena e ladina, sempre que todas as manhãs me vê entrar de jornais debaixo do braço, logo diz do alto do seu metro e quarenta e três de altura:” vai uma torradinha, ó vizinho?”. Sim e é sempre assim. Então gira à vida e com enorme paciência vai atendendo turistas apressados e espanhóis inseguros nas suas preferências, que pedem isto para logo desistirem e pedirem aquilo. Um purgatório !
Naquela manhã, o café estava cheio de clientes. Sentado numa mesa, eu lia distraidamente um jornal. Então, entrou um rapaz magro, já na casa dos trinta anos bem medidos. Tinha um rosto pálido que sobressaía no colarinho da sua camisa negra. Um cabelo preto afogado em gel dava – lhe um ar de bailarino de tango. Após verificar que a minha mesa tinha uma cadeira vazia foi educado – pediu licença depois de já estar sentado. Sem rodeios, disse-me que eu era parecido com um primo dele. Afinal, pretexto para conversar e quebrar o gelo da indiferença. Com um pastel de nata à frente, foi mexendo em ritmo rápido a colher com que adoçava o café com o açúcar em pacote que a Nice diligentemente lhe tinha posto no pequeno pires que sustentava a chávena com a bica a escaldar. Depois, sem fôlego, foi-me dizendo que, apesar de novo, já era homem de muito mundo. Viveu na África do Sul e depois veio para Espanha, onde conduziu um camião por estar legalmente habilitado para o fazer. Em jeito de queixume, disse-me que trabalhava muito para lá do horário normal sem qualquer compensação monetária ou um simples agradecimento. Despediu-se e regressou ao seu Algarve, onde alugou uma casa grande na pequena povoação da Salema, na rota de Sagres. Com o dinheiro amealhado, foi compondo o seu ninho, comprando mobília para se sentir confortável. Então, a conversa azedou com o senhorio, que lhe falava constantemente num aumento de renda. Pensou então em sair da aldeia e na cidade de Lagos procurou novo ninho. Foi difícil, com preços proibitivos que não podia pagar. Finalmente, conseguiu um pequeno estúdio que estava dentro do seu orçamento. Mas ficou agora o drama do que fazer à mobília da casa da Salema. Quis vender o que tanto lhe tinha custado a ganhar fora de fronteiras ou fazendo biscates de eletricista, que era do que sobrevivia. Mas só lhe apareceram interessados nos seus haveres oportunistas, dispostos a levar tudo por dez reis de mel coado. Mas o homem da Salema vai resistindo aos abutres. Depois bebeu a bica num sopro e engoliu o pastel de nata que lhe encheu a boca toda e partiu, certamente a pensar como vai resolver o problema de ter mobília a mais para casa a menos, ou seja, como é que vai conseguir meter o Rossio na Rua da Betesga.
QP
ESTÁTUAS DE COIMBRA
ESTÁTUA DE JOAQUIM ANTÓNIO DE AGUIAR
Joaquim António de Aguiar (Coimbra, 24 de agosto de 1792 — Barreiro, Lavradio, 26 de maio de 1884)[1] foi um político e maçon português do tempo da Monarquia Constitucional e um importante líder dos cartistas e mais tarde do Partido Regenerador.[1][2] Foi por três vezes presidente do Conselho de Ministros de Portugal (1841–1842, 1860 e 1865–1868, neste último período chefiando o Governo da Fusão, um executivo de coligação dos regeneradores com os progressistas). Ao longo da sua carreira política assumiu ainda várias pastas ministeriais, designadamente a de Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça durante a regência de D. Pedro nos Açores em nome da sua filha D. Maria da Glória. Foi no exercício dessa função que promulgou a célebre lei de 30 de Maio de 1834, pela qual declarava extintos "todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares", sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional. Essa lei, pelo seu espírito antieclesiástico, valeu-lhe a alcunha de o Mata-Frades.[2]
Formou-se naFaculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde foi professor
Joaquim António de Aguiar (Coimbra, 24 de agosto de 1792 — Barreiro, Lavradio, 26 de maio de 1884)[1] foi um político e maçon português do tempo da Monarquia Constitucional e um importante líder dos cartistas e mais tarde do Partido Regenerador.[1][2] Foi por três vezes presidente do Conselho de Ministros de Portugal (1841–1842, 1860 e 1865–1868, neste último período chefiando o Governo da Fusão, um executivo de coligação dos regeneradores com os progressistas). Ao longo da sua carreira política assumiu ainda várias pastas ministeriais, designadamente a de Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça durante a regência de D. Pedro nos Açores em nome da sua filha D. Maria da Glória. Foi no exercício dessa função que promulgou a célebre lei de 30 de Maio de 1834, pela qual declarava extintos "todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares", sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional. Essa lei, pelo seu espírito antieclesiástico, valeu-lhe a alcunha de o Mata-Frades.[2]
Formou-se naFaculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde foi professor
(Net)
PORTAGEM
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domingo, 8 de setembro de 2019
ANIVERSÁRIO
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sábado, 7 de setembro de 2019
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA - Foto Coimbra
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sexta-feira, 6 de setembro de 2019
IN MEMÓRIAS & INSPIRAÇÕES....
"Até começar a trabalhar era raríssimo eu ter dinheiro. Em casa, o orçamento mal dava para a alimentação e fora dela só quando um vizinho me “contratava” para uma tarefa pontual de limpar currais de galinhas ou regar as leiras no Paço eu conseguia juntar uns vinte e cinco tostões, ou mais! Correspondia nos dias de hoje, a pouco mais de um cêntimo! E nem vos digo o que eu fazia com vinte e cinco tostões naquele tempo, pois não acreditariam. Quando andava desesperado por uns rebuçados de fruta, passava em casa da minha avó e dava-lhe conta da minha “tristeza de vida”. Então ela puxava de uma algibeira de pano arredondada que usava à cintura por baixo do avental e tirava a muito custo, pois via mal, um cruzado (4 tostões) para me dar. Via mal mas nunca tão mal que se confundisse e me desse uma moeda branca de maior valor. No entanto, chegava para eu matar o vício. Demorava uns dez segundos da casa dela à mercearia mais próxima, para fazer a transacção. Mas recordo um tempo, num determinado verão, em que passei umas férias de nababo. ..Ao fazer o ”reconhecimento do chão” na zona do palco das festas do Espírito Santo, na manhãzinha seguinte ao baile, prática habitual da maralha, encontrei uma “vintoinha” dobrada em quatro, entre caricas e cascas de tremoços e de amendoins. Isso mesmo! Um Santo António! Uma nota de vinte escudos! Não imaginam a minha felicidade. Corri para casa, fechei-me na loja, e sentei-me durante algum tempo, a olhar simplesmente para ela, enternecido….Era uma fortuna! Mas não podia apresentá-la na venda, pois poderia levantar suspeitas eu ter tanto dinheiro, sendo tão novo. Consegui trocá-la por moedas junto do “Cabo Elísio”, um servente de pedreiro que trabalhava na obra por detrás da minha casa, e que me devia uns favores por ir à loja, quase todos os dias comprar-lhe cerveja. Garantiu-me que por ele ninguém viria a saber, que eu passei a ser um tipo endinheirado. E cumpriu… ." in Memórias & Inspirações"
José Passeiro
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quinta-feira, 5 de setembro de 2019
ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA-Monte de Vez
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Encontro com a arte - Fotografia
terça-feira, 3 de setembro de 2019
BOBBYZÉ CHEGOU À CHINA...VIA JORNAL "TRIBUNA DE MACAU"
Jornal TRIBUNA DE MACAU
28 Agosto, 2019
MAGDA CRUZ (TEXTO),
RUBEN MARTINS (EDIÇÃO)
MARCO ANTÓNIO (PODCAST)*
Há meio século tinha lugar a primeira edição do festival Woodstock, nos Estados Unidos. Pelo aniversário deste mítico festival de música, o podcast Histórias de Portugal, traz a história de um português que se “vinga” por não ter conseguido ir a Woodstock. O programa de Marco António e Lucy Pepper, em parceria com o Público, conta a história de alguém que trouxe Woodstock até si mesmo.
Corria o ano de 1969, um ano particularmente conturbado na história dos Estados Unidos da América. Os americanos estavam envolvidos numa guerra no Vietname, o povo mostrava-se contra o conflito armado e, com forma de contestar, forma-se um cartaz de música com notas pacíficas. Assim, nasce o festival Woodstock, que para muitos é hoje é o mais icónico festival de música de sempre.
Do outro lado do oceano estava José Oliveira a pedir o passaporte de urgência. Queria ir a Woodstock. “A música faz parte do meu ADN”, conta José ao podcast Histórias de Portugal. Agora, José vive em França, mas nos anos 60 era a partir de Coimbra que acompanhava a música americana – apesar de o pai não apoiar uma vida assente nessa arte.
“Nunca precisei da Califórnia para ser um beach boy”, brinca José, em conversa com Brian Wilson, dos Beach Boys . Quando era novo, José guiava até à Figueira da Foz e Mira para passar o Verão e faltava às aulas para “ir ver as francesas”, num acto muito rock’n’roll. Por isso, o português ficou estupefacto por saber que Brian, com uma casa em Malibu, mesmo em cima da praia, não metia os pés a areia há mais de dez anos.
Esta é apenas uma das passagens da vida de José que ficou marcada pela música. Olhamos para essa juventude para perceber melhor a história de quando este conimbricense se cruza com Woodstock. Quando tinha 17 anos, o Verão era um ritual e a guitarra ia sempre com José – mesmo não tendo banda. Nessa época sagrada, a viola era-lhe indispensável. Chegaram a metê-lo no Conservatório, mas “o rock’n’roll e as miúdas não podiam esperar”. Tal como cantava o vocalista dos Doors, Jim Morrison, José queria o mundo e queria-o já.
A notícia de que ia acontecer um “megafestival” chegou a Portugal - e aos ouvidos de José – 15 dias antes da abertura de Woodstock. Estamos, portanto, em Julho de 1969. José tinha 21 anos e o chamamento do rock não podia ser ignorado. Havia que atravessar o Atlântico. Correu para o Palácio da Justiça, para tirar o passaporte, mesmo sem saber que bandas iam tocar. Foi-lhe dito que devido à guerra no Ultramar não era possível sair do país e com a idade de José era estranho não ter sido chamado para o exército. Semanas depois, chega uma carta para que se apresente nas Caldas da Rainha. Em vez de sair pronto para seguir viagem até Nova Iorque, acaba destacado para serviço militar no Luso, no leste de Angola. A missão tinha passado de “engatar” turistas francesas para impedir “a invasão do inimigo, das pessoas que metiam lá minas.” Isto em 1971. Woodstock já lá ia – ou será que não?
No ano seguinte, 1972, chega uma circular: “Quem tocasse um instrumento devia-se apresentar no Hotel Luso para um verdadeiro casting”. O hotel era, naquela altura, requisitado pelos oficiais e foi então que José Oliveira mostrou aquilo de que era capaz. “Contrataram-me para viola ritmo de um conjunto”, conjunto esse de que ficou encarregado de formar. Ao fim-de-semana, o grupo voltava ao Hotel Luso e tocava para os oficiais. A banda tocava também em clubes da cidade e, depois de uma viagem de avião, davam concertos na selva, “para militares isolados no mato”. José conta ao podcast Histórias de Portugal: “No momento de escolher o nome do grupo, vinguei-me.” O nome da banda? Woodstock. Não foi ao festival, o festival foi até ele.
A ida à primeira edição de Woodstock, o festival, já não podia ser salva. A pergunta a fazer agora é a mesma que tinha Marco António,: o que soube José sobre o festival americano? As notícias demoravam a chegar, “então Portugal, havíamos de ser os últimos a ser informados”, ri-se José. Tudo o que José sabia sobre música fora-lhe ensinado pelo programa Em Órbita, do Rádio Clube Português, um programa que, diz José, não se limitava a passar as músicas, formava os ouvintes para conhecer a história dos grupos. Não foi a partir deste programa predilecto de José que soube das vivências em Woodstock, esse foi o papel de algumas publicações francesas: “O que me chegou foi que aquilo era um movimento pacifista, que lutava contra a violência, contra a guerra do Vietname.”
“ERA COMO SE LÁ ESTIVÉSSEMOS”
Em Woodstock não tocaram apenas bandas conhecidas. José recorda-se de um guitarrista cujo nome, hoje, não passa ao lado de ninguém: Jimi Hendrix. De calças de ganga à boca-de-sino, lenço rosa à volta da cabeça e com as franjas da camisola a abanar enquanto da sua guitarra eléctrica branca saía o hino americano, diante de quase meio milhão de pessoas, estava Jimi. Purple haze ficou “cristalizada” na memória de muitos festivaleiros. Ao recordar isso, José conta o que disse aos amigos, quase de um fôlego: “Não fomos lá, mas era como se lá estivéssemos. Então nós em Mira, já andávamos com as francesas, tínhamos amor livre. Não precisávamos de Woodstock.” A banda que formam enquanto destacados em Angola era na onda do festival: de contestação.
É também nas revistas francesas que José vê as imagens do festival: “A primeira imagem que vi foi aquela capa do disco, daquele casal embrulhado no cobertor, e aquela malta toda no chão – essa foi uma imagem que nos tocou muito.” A presença de uma multidão em Woodstock explica-se rápido: a organização do festival viu que tanta gente queria entrar que anunciou que o festival passaria a ser grátis. Nos dias 15 e 18 de Agosto, o recinto da quinta de cerca de 240 hectares (o suficiente para mais de quatro mil campos de futebol) seria aproveitado para “três dias de paz e música”.
José estava ainda em Portugal enquanto se fazia história: “Foi a partir daí, de Woodstock e do festival de Altamont [Altamont Speedway Free Festival, 1969] que a indústria, o rock, mudou.”
Estes dois festivais “abriram as portas para o hard rock”. José, um dos membros da então banda homónima do festival “fora de série” que era Woodstock, relata que as editoras se aperceberam da “mina de ouro” que estava nos outros estilos de música, géneros por explorar.
Em breves as editoras de músicas trariam cá para fora os discos. “Eu tinha de os adquirir.” José não ficou a “ruminar” no facto de ter sido impedido de ir ao festival. Já se tinha vingado ao baptizar a banda diante dos militares, mas a “vingança” não ficava por aí. “A partir do momento em que comecei a ter os discos na mão – o Mad Dogs & Englishmen, de Joe Cocker; o da Janis Joplin – outro sonho começou a desenvolver-se na minha cabeça, em que disse: tenho de me aproximar destes gajos. Esta vai ser outra vez a minha vingança em relação à minha malta amiga.” Enquanto essa malta tocava, incluindo o irmão, José “era o gajo que transportava os amplificadores, não curtia da mesma maneira.” Era a sua vez de se destacar. Como Marco António diz no episódio, “Passou a curtir de outra [maneira] – até melhor, talvez. Sem o estrelato, mas sempre perto do estrelato.”
No ano em que se celebra os 50 anos de Woodstock, não haverá festival. A edição histórica que contava com um cartaz de estrelas – e que tinha também a presença de músicos que actuaram no primeiro Woodstock - foi cancelada. Isto, no início deste mês, cerca de duas semanas antes da data do festival.
* INICIALMENTE PUBLICADO NO DIÁRIO “PÚBLICO”, O JTM FOI EXPRESSAMENTE AUTORIZADO A FAZER A REPUBLICAÇÃO PELO ENTREVISTADO E AUTORES. PODE OUVIR O PODCAST EM HTTPS://SOUNDCLOUD.COM/PORTUGALPODCAST/WOODSTOCK-UMAHISTORIA-PORTUGUESA
Agradecimento ao Administrador do Tribuna de Macau- José Rocha Dinis
segunda-feira, 2 de setembro de 2019
OLHAI, SENHORES ...
O velho "Max" dos anos 60 do século passado ...
Era uma rua quase anónima na malha urbana de Lisboa. Uma rua
escura e sem vasos com flores viçosas nas janelas. De realçar, apenas uma velha
loja com caixotes à porta, onde se exibiam melancias e melões. E, espetados
numa cana em velhos pedaços de cartão e a tinta negra, o preço por quilo dos
frutos apetecidos. Lá dentro e arrumados com pouco critério, os bens essências
para a alimentação e produtos de limpeza. No balcão, também um frasco
transparente contendo rebuçados coloridos – a alegria da criançada. Também um pequeno pipo com uma torneira de
madeira que abria a compasso. Nos fins de tarde e depois da labuta do dia, os
homens juntavam-se ali para beber um copo de vinho que ajudava a uns momentos
de conversa sobre as contrariedades da vida. Depois regressavam a casa e, pelas
portas estreitas, subiam as escadas escuras de madeira porque não havia elevador,
com uma lanterna que debitava uma luz ténue e uma mão no corrimão de ferro
ferrugento e delgado, que feria os dedos nas suas arestas afiadas. Ao fundo da
rua, havia um parque com uma palmeira ao cento e quatro bancos verdes nos
cantos que convidava os reformados ao lazer. Eram porém os miúdos quem ali
jogava com uma bola de trapos e ao pião. Depois, a rua inclinava levemente para
mostrar um bairro com um nome arrepiante – Curraleira. Um tumor social, uma das
muitas chagas da cidade. Era chapa de zinco contra chapa de zinco, casas de
madeira de tábuas velhas e nas ruas estreitas bidons de lata com água para uso
da população. A Curraleira tinha a fama e o proveito do tráfico de drogas leves
e duras. Por vezes, a polícia aparecia em força e era o alvoroço. Correrias pelos
becos de terra batida, gritaria das mulheres que, com pequenos filhos ao colo
com o ranho a cair do nariz, invectivavam os guardas que invariavelmente
encontravam heroína e levavam dois ou três residentes para a esquadra. Ali, perto
do outro extremo da rua escura e numa esquina, havia o cinema “Max” das sessões
contínuas. Á noite, a assistência masculina ocupava as cadeiras num tumulto,
para ver filmes de heróis e vilões. De pistolas a cuspir fogo e os justiceiros
a dizimar os bandidos, de resto como a assistência exigia. Então, aparecia
sempre a mulher – fatal, de vestido vermelho colado ao corpo e meia negra na
perna bem moldada em movimentos aparentemente inocentes. Naquele cenário, uma
cadeira onde ela com cara de anjo pousava suavemente a perna para mostrar a
liga que envolvia a coxa roliça e branca. E eles, a turma de mirones,
espremidos contra as costas das cadeiras e soterrados de desejo, a abençoar o
preço módico que tinham dado pelo bilhete. Ninguém diria que aquele rincão da
capital era ali a dois passos da Fonte Luminosa, do Instituto Superior Técnico
e do Cinema “Império”, que nas tardes de domingo enchia a sala. O gong tocava
para o início da sessão. As luzes do teto esmoreciam e, invariavelmente,
aparecia este ou aquele cinéfilo mais atrasado que era levado ao lugar pelo
empregado do cinema que indicava o lugar com uma pilha e, com a sua farda
cinzenta com as golas do casaco debruadas a vermelho, punham a mão em concha na
esperança da gorjeta que ajudasse a compor o orçamento familiar. Outros, menos
abonados e sem dinheiro para espetáculos, corriam para o campo pelado da
Picheleira, onde o futebol amador tinha o seu esplendor no Vitória de Lisboa de
vermelho vestido, a correr atrás de uma bola para gozo da gente simples. O Vitória
jogava sempre de manhã e tinha a sua legião de seguidores. Por essa altura, já a
menina das tranças louras e laçarotes no cabelo, tinha ido à leitaria com a
incumbência de transmitir à senhora de bata branca que queria o leite bem
medido para o recipiente que a criança tinha levado de casa. Na primavera, com
o colorido das roupas a drapejar ao vento e a secar nos estendais das janelas, ouvia-se
nas ruas em alto registo, um qualquer fado lisboeta na voz rouca e castiça de
Alfredo Marceneiro ou da exuberante Hermínia Silva. Era a forma talismã dos
pequenos estabelecimentos de cafetaria chamarem a atenção da clientela e das
tertúlias daquele feudo da capital. Em cima das mesas toscas de tampo em
fórmica e ao dispor do cliente, era o “Diário de Lisboa” rei na informação e
das notícias filtradas conforme os interesses do governo vigente na época, que
era lido avidamente no calor de uma bica a escaldar. Eram as manhãs de cetim,
no dizer da poetisa. Tempos que o Tempo levou …
“ Olhai senhores, esta Lisboa de outras eras”
( do fado Lisboa antiga )
(José Galhardo/ José dos Santos)
QP
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