segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

RAYMOND POULIDOR ...





 Raymond Poulidor

O fascínio da maior prova velocipédica mundial vive-se em França. À escala planetária, a Volta à França em bicicleta produziu e produz os seus ídolos populares, atletas muito acima da média em resistência física e capacidade competitiva. Para a lenda ficam os nomes de Jacques Anquetil,  Bernard Hinault ou Eddy Merckx, todos eles vencedores por cinco vezes da prova – rainha do ciclismo mundial. 

Porém, numa bandeja de prata de campeões, um nome sobressai para a história da Volta à França em bicicleta por uma razão surpreendente – chamava-se Raymond Poulidor e nunca ganhou nada nesta competição de fama universal. Ciclista de eleição, Poulidor correu a prova por catorze vezes, tendo conseguido três segundos lugares e subido ao podium por oito vezes. Mais surpreendente ainda, é que apesar da sua valia de grande atleta, nunca vestiu sequer a camisola amarela de líder da prova. Naquela época recuada, Jacques Anquetil e Eddy Merchx foram a sua sombra negra. Contudo, na sua bonomia, nunca Raymond mostrou qualquer azedume por não ser o rei dos reis das bicicletas. 

Mas Poulidor sabia que apesar de tudo era o mais acarinhado dos ciclistas de nacionalidade francesa e dos seus compatriotas, que lhe chamavam carinhosamente “Poupou”. Apelidado de “eterno segundo”, Poulidor viveu épicas batalhas na montanha lutando contra Anquetil. Adversários na estrada e amigos na vida. No dia em que Anquetil adoeceu gravemente de mal oncológico, já retirado das provas e apercebendo-se que o seu fim estava próximo, disse um dia a Poulidor num rasgo de humor negro: “estás a ver Raymond … vais outra vez ser segundo ! ”. E esta afirmação dramática cumpriu-se e Poulidor sobreviveu mais trinta e dois anos ao falecimento de Jacques Anquetil ocorrido em 1987.

Raymond Poulidor era um homem simples, proveniente de uma família de camponeses. Ganhou o justo estatuto de herói das bicicletas e a sua vida desportiva será talvez motivo para uma pequena reflexão - para se ser um honrado e colaborante cidadão nas comunidades onde estamos inseridos, jamais teremos a obrigatoriedade de envergar a tão ambicionada camisola amarela.
QP 

5 comentários:

  1. Raymond Poulidor faleceu no final do ano agora passado. Teve grande eco em França o seu desaparecimento e uma referência do Presidente da República francesa que destacou a sua faceta desportiva e humana. Também o semanário "Expresso" no seu obituário, deu grande relevo ao facto. Alguns dos elementos recolhidos para o texto foram extraídos do referido jornal.

    ResponderEliminar
  2. Lembro-me bem deste Ciclista, quando acompanhava a volta a França.
    Acompanhei mais portugueses por lá andavam, como o pioneiro Alves Barbosa e mais tarde Joaquim Agostinho e Ribeiro da Silva.
    Realmente Poulidor foi sempre o eterno 2º, e merece bem esta homenagem que lhe fazes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, o eterno segundo. Os franceses vivem como nenhum país esta prova. Será ainda hoje Jacques Anquetil o grande baluarte do ciclismo francês. Nem Hinault que também venceu a prova por 5 vezes, reúne esse galardão. Talvez o facto de Anquetil já ser uma memória explique isso. Hinault ainda está entre os vivos, porque é mais novo e de voltas mais recentes. Merckx não entra nestas contas porque é belga ...

      Eliminar
  3. Ainda miúdo eu era um admirador do ciclismo.
    Sempre que conseguia juntar uns tostões ia ao Bazar Morato comprar um ciclista de plástico. Custavam 1.50 cada um é havia de várias cores.
    Cheguei a juntar umas dezenas.
    Numerava os e num caderno identificava os com nomes dos ciclistas de então.
    Depois no quintal desenhava uma Volta com as diversas etapas.

    Com dois dados estabelecia para cada um o número de "passos" que cada um avançava.
    No fim da etapa registava os pontos atribuídos a cada um é adicionava à classificação geral

    Ainda me lembro de alguns nomes.
    Pedro Polainas, Ribeiro da Silva, Carlos Carvalho, Alves Barbosa.

    Como era grande admirador do Alves Barbosa, as vezes aldrabava os dados para garantir que ele ia sempre na frente do pelotão.

    E recordo o Carlos Carvalho, grande corredor, que por ser analfabeto arranjou um carimbo que usava para dar autógrafos. ..

    ResponderEliminar
  4. Rui, este teu comentário é um autêntico rebuçado para os que lembram a nossa infância de dos "ídolos" do ciclismo que nos povoavam a cabeça. Também tive desses ciclistas pequeninos em plástico, das corridas e das aldrabices que fazíamos para ganhar aquele com mais simpatizávamos. Por vezes ia ao Porto passar férias a casa do meu falecido amigo Fernando Mota e com ele fui ao Estádio das Antas que naquele tempo ainda tinha pista de ciclismo. Recordo nomes como Mário Silva, Firmino Bernardino, João Roque, Peixoto Alves entre outros. Numas férias conheci em São Mamede de Infesta a família de António Carvalho que correu pelo Porto. E numa arrecadação mostraram-me a mim e ao Fernando a bicicleta com que ele venceu algumas etapas da volta a Portugal. Por último lembrar duas equipas que naquela época eram das melhores de Portugal: Águias de Alpiarça e Ginásio de Tavira. Lima Fernandes era a grande figura do Alpiarça e Jorge Corvo do Tavira, onde viveu e tinha um negócio de bicicletas ...
    Um abraço

    ResponderEliminar