(foto net)
Este é um episódio real de um homem que aterrorizou Portugal.
Porém, foi em época remota, anos cinquenta do século passado, pelo que a
narrativa pode padecer de alguma imprecisão. O homem em questão chamava – se
António Pessoa e era natural da zona de Carapinheira do Campo, uma localidade
compreendida entre Coimbra e a Figueira da Foz. Deambulou por Portugal inteiro,
errante, com especial incidência no centro do país e dele se dizia ter alegadamente
assassinado por motivos fúteis catorze pessoas. Porém, este número de vítimas
carecia de confirmação. O homem, que durante longo período de tempo sempre
conseguiu fugir às autoridades, de assassino virou quase lenda aos olhos de uma
população aterrorizada e que até lhe atribuía crimes que não cometeu. Vivia - se
num reino de fantasia e até havia quem jurasse a pés juntos que o criminoso
teria assistido ao funeral da mãe empoleirado no ramo de uma árvore, sem que a
polícia ou qualquer popular o tivesse avistado. Naquele tempo, a Polícia
Judiciária não tinha naturalmente os meios de que dispõe hoje e teve grande
dificuldade na sua captura. Inclusivamente, foi distribuída pela população do
país, com especial incidência nos camionistas, o retrato do temível Pessoa e de
uma particularidade que tinha - além de baixa estatura, arrastava uma perna,
uma disfunção motora que não passava despercebida. Um dia, constou que se
encontrava escondido na Mata do Choupal e foi uma preocupação em Coimbra. O Mestre
Florestal e a mulher, que viviam isolados numa casa no fundo da Mata, porque os
filhos já tinham partido para as suas vidas, passaram por momentos
angustiantes, com a casa fechada a sete chaves e a pistola distribuída inerente
à função, pousada no travesseiro do leito. A Mata foi batida exaustivamente
pelo Mestre e Guardas Florestais e outros agentes na procura de vestígios, mas
mais uma vez era falso rumor. Mas um dia a sorte do criminoso mudou. Um
camionista, ao passar numa estrada secundária alentejana, viu um homem de baixa
estatura e andando com dificuldade pela berma da estrada. Alertado que estava
fixou – o bem e suspeitou ser o homem procurado. Mais à frente, alertou as
autoridades de uma povoação próxima, que foram verificar e nem queriam
acreditar que a suspeita era fundada. O homem mais procurado de Portugal era
realmente aquele. Montado o cerco, rápido foi capturado sem oferecer
resistência. Mais tarde veio para a Cadeia Penitenciária de Coimbra a aguardar
julgamento. Na primeira sessão, o portão de ferro do Palácio da Justiça de
Coimbra rebentava de populares a aguardar a chegada do criminoso. Uns, porque
queriam fazer justiça pelas próprias mãos. Outros, porque queriam ver com os
seus próprios olhos aquela lenda negra. A chegada da carrinha – celular não foi
pacífica. A polícia fez um cordão de segurança para que o preso não fosse
agredido. Porém, no meio da confusão, um popular conseguiu ficar cara a cara
com o facínora e chamou-lhe assassino. António Pessoa olhou – o então friamente
tentando fixar-lhe o rosto e disse: “estás marcado, quando eu sair da prisão
ajustamos contas”. Em grande burburinho, o preso entrou então cercado pela polícia
em tribunal. Foi condenado a uma pesada pena de prisão. Um dia saiu, já
debilitado. Toda a sua agressividade se tinha diluído no tempo de cárcere e
rumou à terra – natal – Carapinheira do Campo. A sua chegada não trouxe
qualquer alvoroço na população. Os mais idosos, que o conheciam dos seus
terríveis crimes, quiseram distanciamento. Os mais novos, que não sabiam do seu
passado, ignoraram-no. Surpreendente sim, foi ter conseguido trabalho na
extinta empresa de camionetas de transporte de passageiros “Moisés Correia de
Oliveira” ali sediada e hoje extinta, onde com um pano na mão e uma mangueira
lavava camionetas. Diz quem o conheceu, que era cordato e nunca levantou
qualquer problema. Quem não soubesse, jamais desconfiaria de um homem que
trouxe o país num sobressalto. Um dia morreu, sem que merecesse do “Diário de
Coimbra” qualquer nota de rodapé. Afinal já tinham passado muitos anos sobre os
factos que o jornal coimbrão acompanhou, com especial relevo no relato dos
acontecimentos à porta do Tribunal de Coimbra.
QP
Está foi a data em que vim para o Bairro e embora em Penela fosse ardina e as únicas palavras que lia nos jornais eram os títulos dos mesmos.
ResponderEliminarMesmos depois em Coimbra só lia os desportivos, daí que estas notícias de crimes passavam-me ao lado...
Mas dá para perceber que os teus pais e avós não estariam muito descansados que o Pessoa em pessoa se escondese se na mata do choupal....
Sim,houve uma altura em que se pensou que estava na Mata do Choupal e o meu pai até comprou e legalizou uma arma de defesa pessoal, tal era a preocupação que se instalou ...
EliminarComo quem lê uma crónica de Torga dos seus famosos Contos da Montanha segui atento a descrição do Quito Pereira.
ResponderEliminarO retrato do criminoso é tão nítido que quase me pareceu tê-lo conhecido, embora má realidade nunca antes tenha sequer ouvido falar dele.
Todavia, conheci bem os locais por onde passou.
Designadamente Carapinheira do Campo e o Choupaĺ.
E fiquei a imaginar o Quito ainda criança a percorrer as veredas da famosa mata sob o olhar preocupado e receoso de seus pais...
Um antigo colega meu de trabalho natural de Gatões - Montemor o Velho - confirmou-me uma vez e falando assunto, que o tal Pessoa trabalhou na empresa de Moisés Correia de Oliveira e que sua estadia na região foi pacifica depois de ter cumprido pena.
EliminarMas... que "pessoa", hein?
ResponderEliminarPor estas plagas, pelas bandas do sertão nordestino, também temos personagens quase parecidos. O Lampião. O Bando de Lampião e Maria Bonita. A história de Lampião já virou filme.Um Rob Hood à brasileira.
Abaixo, um cadito da história do Lampião, que teve muitos simpatizantes e muitos choraram sua morte, em uma emboscada da Polícia.
"No final do século XIX houve grupos que lutavam contra a opressão dos coronéis no Brasil: o cangaço. No Nordeste, a miséria assolava. As secas eram duradouras, tornando o alimento escasso. As disputas por terra eram violentas e a ordem era controlada por coronéis e seus bandos, já que a lei não valia no sertão. Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, liderou o bando contra a ditadura dos coronéis. Ao lado de sua companheira, Maria Bonita, roubava de ricos e enfrentava a polícia, espalhando o medo por onde passava.
Lampião nasceu em 1900, em Serra Talhada, sertão de Pernambuco. Seu pai foi assassinado numa briga de terras, quando Virgulino ainda era criança. Esse fato lhe traumatizou e influenciou sua entrada no cangaço. Alguns encaravam os cangaceiros como um grupo de bandidos. Outros os adoravam por lutarem contra a opressão: eles eram os únicos que conseguiam fazer frente ao domínio dos coronéis, o que lhes garantiu o apoio das pessoas mais humildes, já que os policiais trabalhavam para os latifundiários.
Lampião era temido por onde passava, mas usava da violência apenas contra as forças opressoras. Ajudava os pobres com o dinheiro que tomava dos ricos. Em certa ocasião, seu bando chegou a um sítio e disse à proprietária, uma senhora de idade, que gostaria de jantar. Um dos cangaceiros disse que gostaria de comer carne, mas a senhora havia preparado frango. O cangaceiro saiu pela porta e voltou com uma cabra morta, ordenando que a senhora a preparasse. Ela caiu aos prantos, dizendo que era daquela cabra que tirava o leite para o sustento da família. Lampião ordenou que o cangaceiro pagasse a cabra à senhora. Este, colérico, tirou um punhado de moedas do bolso, deixou sobre a mesa e disse que aquilo, para ele, era “esmola”. Lampião levantou-se, empunhou seu facão, apontou para o pescoço do cangaceiro e disse para ele pagar a cabra, já que as moedas dadas anteriormente eram apenas “esmola”.
Em 1938, a polícia conseguiu capturar Lampião e seu bando. Num sítio, no interior de Sergipe, foram executados e degolados. As cabeças do bando foram mumificadas e expostas no Museu Nina Rodrigues, Bahia, até serem enterradas, em 1968. Seu parceiro, Corisco, o “Diabo Louro”, conseguiu fugir. Em 1940, organizou um bando e atacou várias cidades do vale do São Francisco, como vingança. Foi morto em julho do mesmo ano."
Fonte: https://alunosonline.uol.com.br/historia-do-brasil/lampiao-maria-bonita.html
Uma história das muitas histórias sertão nordestino. A realidade dos coronéis foi descoberta em Portugal aquando da novela "Gabriela Cravo e Canela" de Jorge Amado e que parava Portugal à hora de jantar pelo enredo e memoráveis artistas como Sónia Braga e Lima Duarte ...
EliminarLima Duarte fazendo falta. Um ator como jamais visto.Em Roque Santeiro mais uma interpretação de parar uma cidade para assisti-lo.
EliminarRoque Santeiro também marcou uma época e Lima Duarte um monumento à representação ...
ResponderEliminarO que ficamos a saber sobre histórias do nordeste brasileiro r ecordando nomes de telenovelas brasileiras que foram o encanto de portugueses
ResponderEliminar