segunda-feira, 30 de março de 2020

AQUELA TARDE NA FIGUEIRA ...






Figueira eterna ...

Foi num tempo já remoto. Um tempo em que o futebol tinha outro encanto. Sem matilhas organizadas de claques e dirigentes a insultarem –se em jornais ou em estações de televisão. Um tempo em que o desporto – rei não se jogava com os adeptos em casa sentados no sofá, pagando uma avença choruda para insultarem o árbitro no recato do lar, a mastigar  tremoços e com um copo de cerveja na mão. Naquela época, o futebol era ao domingo à tarde. E, naquela tarde, a Académica de Coimbra visitava a Naval da Figueira da Foz para um medir de forças escaldante. Forte era a rivalidade entre os dois emblemas. Os da Figueira, por uma questão de bairrismo, não admitiam vassalagem à cidade universitária. Os de Coimbra, sarcasticamente, chamavam à Figueira  da Foz a Coimbra B. Postas as coisas neste pé, logo se adivinhava que era no relvado a correr atrás de uma bola que se ajustavam contas. Então, numa tarde primaveril e com o estádio a rebentar pelas costuras, o jogo começou. De Coimbra, grande era avalancha de gente na esperança de uma vitória gorda. Como se previa, a coexistência nas bancadas entre figueirenses e conimbricenses não foi pacífica. Lembro aquele individuo de faces rosadas, camisa transpirada e sapatos de camurça verdes nos pés, que irritado mandava os de Coimbra para a terra deles. Os de Coimbra agitavam bandeiras, até ao momento que os da Lusa – Atenas marcaram um golo e entornou - se o caldo que já estava azedado. E foi com aquele golo raquítico que selou uma vitória, que a Académica regressou a Coimbra. Porém, a terceira parte da partida jogou-se fora do estádio, com escaramuças e correrias entre gente jovem de ambas as cores. Na retina, fica - me o adepto de Coimbra que se travou de razões com um figueirense que estava num terceiro andar de um prédio à varanda. A discussão subiu de tom e o adepto navalista, de cabeça perdida, dizia cá para a rua ao ferrenho seguidor da Briosa:

- Não te vás já embora, grande cavalgadura, espera por mim que eu vou aí abaixo dar- te um tiro …

Tinha aquele futebol de outras eras outro sabor e outro encanto, atrevo-me a dizer um sopro de romantismo?. Claro que tinha …
QP 

10 comentários:

  1. A Naval que militava em escalões secundários mantinha uma rivalidade com a Académica que ainda hoje não se entende muito bem.
    Tanto mais que nesses tempos a Académica ombreava com os grandes do futebol luso.
    Mas era tal e qual como o Quito diz de forma insuperável.
    O que o Quito não é capaz de contar porque na altura ainda era um miúdo foi a minha romântica participação em 1964 na Garraiada da Praça de Touros figueirense.

    Em que até os "navalistas" presentes me aplaudiram de pé quando entrei na arena vestido de toureiro e o garraio à primeira investida me mandou para a trincheira e depois para a enfermaria.

    Era o romantismo a que o Quito se refere....

    ResponderEliminar
  2. Bem,dava dinheiro para ter visto. Mas como te conheço o garbo elegante, não me é difícil imaginar-te no teu traje de luzes a entrar na arena de peito para a frente, passo arrastado em coreografia de ballet a saudar o público em delírio do meio da praça e a fazer uma monumental faena, para depois abandonares a praça em ombros até Buarcos. Prefiro acabar a história assim, do que te ver cheio de ligaduras numa enfermaria, vitima de uma cornada romântica do bicho. E, para esta tourada acabar bem, só não digo que cortaste três orelhas e dois rabos porque o garraio era só um.
    Um abraço cheio de aficion ...

    ResponderEliminar
  3. Descansa que não deixei mal a nossa Coimbra.
    Até abrirem as portas dos curtos fiz tudo como deve ser.
    Sausei a assistência com um gesto largo, brindes com o chapéu que tinha na cabeça, peguei no capote pelas pontas e aguardei pelo bicho.

    Sempre encostado às tábuas. ..

    As pernas fininhas com meias cor de rosa até ao joelho e o resto uma farpela dourada brilhante.

    Os cartazes cá fora anunciavam o cavaleiro Corria, o forcado Branquinho e El Fininho matador vindo de Sevilha ( que era eu ).

    Fomos lá parar por ideia do Branquinho que nos levou à Comissão da Queima que oferecia livres-trânsito para as Festas a quem fosse voluntário na Garraiada.


    Nunca percebi nada de touradas e pensei que ser matador era o menos perigoso.
    Puro engano...

    Tinha visto algumas vezes na televisão o Manuel dos Santos que toureava quase sem sair do sítio.

    Quis fazer o mesmo.

    Quando o animal do outro lado da praça finalmente reparou em mim raspou a terra, baixou a cornadura e arrancou em grande velocidade em direcção à minha frágil pessoa.

    Mantive o capote à minha frente e no último momento desviei-o para a direita, pensando que estava a fazer como o Manuel dos Santos.

    Mas o cabrao não se desviou.

    Apanhou-me pelas pernas e atirou me pelo ar para lá das tábuas. ....

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. "O cabrão não se desviou"... ahahah ...fazes-me rir em tempo de preocupação ..

      Eliminar
    2. OOOOOOOOOOLÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ!

      Eliminar
  4. Errata
    Corria=Cotrim

    O Cotrim sabia andar a cavalo e por isso escolheu cavaleiro
    O paI era da GNR

    ResponderEliminar
  5. Boa lembrança de tempos mais recuados sobre Coimbra e Figueira da Foz.
    Foi uma rivalidade que se acentuou mais quando a Naval foi dirigida por Aprígio Santos em que a equipa da Naval atingiu o patamar da Briosa.
    Mas foi sol de pouca dura.
    A Naval faliu....e hoje já é outro clube apenas acrescentando o ano da fundação!!!
    O que durante muito tempo era motivo de depreciar a Figueira, chamando-a e Coimbra B, hoje em dia já caíu em desuso!
    Muito me ri com os comentários do Rui Felçício!!!!
    Viu avançar o garraio, quis imitar Manuel dos Santos....só a capa não ajudou!
    Só no hospital parou!
    Deu para distrair um pouco desta pasmaceira da quarentena!

    ResponderEliminar
  6. Uma rivalidade que hoje não existe. Duas cidades de cariz diferente e para rematar aqui fica a lembrança póstuma a Manuel Camegim, natural da Figueira da Foz e que representou os dois emblemas: Académica e Naval ...

    ResponderEliminar
  7. Nostalgia dos anos "dourados" da Briosa onde vivêmos momentos de grande emoção.Tempos em que a Universidade de Coimbra ainda tinha primazia.
    Eterna Briosa
    Como diz o Felicio: «podemos deixar Coimbra, mas Coimbra nunca nos deixar»

    Com a devida vénia
    Carlos Falcão

    ResponderEliminar
  8. Auguentemo-nos.E a bicicleta pode sair?
    Abraço.

    ResponderEliminar