sexta-feira, 12 de março de 2021

BOM DIA NOS DÊ DEUS

 

Bom dia nos dê Deus.

    Era assim a saudação matinal em cada encontro pela aldeia, só depois se trocavam umas palavras consoante a maior ou menor intimidade ou a pressa com que se ia. 

     No Verão, que os dias eram grandes, era quando havia menos tempo para conversar, a não ser na faina, que se fazia em comum, mas a azáfama era sempre tanta que nem dava para uma verdadeira conversa. 

      Naqueles longos serões de Inverno, isso sim é que eram longos "convesares". Depois da ceia, arredada a mesa, arrumada a  loiça à luz do candeeiro, fiava-se o linho, tricotavam-se as meias e camisolas, degranava-se o milho, escolhiam-se os cornachos ao centeio... enquanto se contavam histórias e contos, se falava das dificuldades da vida, se davam e ouviam conselhos, se lembravam tarefas a cumprir e se recordavam os entes passados. Por eles se diziam orações e se rezava o terço com a meditação de mistério em mistério. 

     Aos domingos como não se devia trabalhar era dia de jogar às cartas, fazer dobras ou desenhos com um fio de lã ou guita a passar das mãos de um para outro, jogávamos à sardinha, a dizer lenga-lengas, adivinhas e provérbios.. e os serões não eram mais longos porque tinha que se poupar lenha não fosse acabar antes de findarem os dias de caramelo, assim como o petróleo do candeeiro que nem sempre havia moedas para se ir comprar. Até porque, se o lume tinha boa chama, baixava-se bem a torcida do candeeiro para poupar gastos. Nas casa mais pobrezinhas ( de autêntica miséria) e eram muitas, usava-se apenas a candeia para quebrar o escurecer do dia e eram bem mais curtos os serões. Se não fossem os verdadeiros afectos que uniam a nossa gente, quantas velhinhas viúvas, quantas pessoas doentes, morreriam à fome e ao frio! Mas tantas vezes ouvia dizer "quem menos tem é quem mais dá." Ou "quem dá, sempre tem". 

      Georgina Ferro

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