domingo, 3 de junho de 2012

BURGO - LOUSÃ

Ideia: Suzana Redondo
Realização: Produções Suzana/Rafael
Artistas do garfo, faca e copoCastelão, Celeste Maria, Suzana, Abilio, Zeca, Alfredo, Daisy, Nito, Teresa, Tó Ferrão, Talinha, Quito, São, Rui Barreiros, Tonito, Olinda, Mila, João Ferreira, Teresa Lousada, Viana, Olga Viana, José Leitão,



Entrega pelo Abilio em nome do grupo de um relógio...por motivos!

O agradecimento...em jeito de valsa assobiada!
Fotos  Zé Leitão








Fotos Abilio







Fotos Rafael



fotos Zé Leitão




Vídeo Abilio


Texto -para os duros de ouvido!
I  Acto – O NASCIMENTO E A INFÂNCIA

                                  ***
Paulo vai a correr chamar a vizinha!
Vai, não perguntes nada         
Diz para vir preparada
Que o nascimento já se adivinha
Agora não posso, estou a jogar ao pião!
Vai depressa meu malandro,
É o nascimento do teu irmão!
Paulo nem queria acreditar:
Já tinha duas irmãs,
Mas com elas não queria brincar.
Queria que fosse um irmão
Para com ele jogar
Ao berlinde e ao pião!
Iria tratá-lo com muito amor.
Até já pensava oferecer-lhe um tambor…
Paulo correu, correu pelas ruas de Penela.
Chamou toda a gente que estava à janela.
Chamou o padeiro
Chamou o leiteiro
O sapateiro e o merceeiro.
Chamou o Hilário
Chamou a florista
O boticário e o exorcista.
Chamou a parteira e o irmão
Também o padre e o sacristão!
E por fim, estava lá em casa a vila inteira.
Alguns vestidos à maneira.
Todos preparados para a festa
Para ver se o puto nascia desta.
E no ano de 1936,
Precisamente no dia 26
Dum bonito mês de Maio
Finalmente nasceu o catraio!
O irmão cumpre a promessa
Parte o mealheiro com todo o vigor
E foi comprar a toda a pressa
Um grande e bonito tambor.

Toda a vila estava em festa
Um arraial com gente rica e gente modesta.
E ao som daquele tambor
O povo dançou até o sol se pôr.
A festa continuou
E nesse dia ninguém se lembrou
Que o tinham de registar
E também um nome lhe dar!
Alguém se lembrou sem gozo
Que por nascer na Primavera
E de tão belo que ele era
Chamar-lhe Fernando como o formoso.
Assim, dois dias depois
Lá foram ao Registo
Testemunhar que tinham visto
Na freguesia de São Miguel
O nascimento nesse dia
De D. Fernando Rafael.
Assim, a verdade ficou oculta
Para que o pai não pagasse a multa!
Os anos vão passando
E depressa Dom Fernando
Começa a andar
E deixa de mamar
Só pensava no seu bombo, só queria era bombar!
Por vezes também brincava com as irmãs e o irmão.
Jogava à bola, ao berlinde, às casinhas e ao pião.
Mas a cabeça dele não estava ali não senhor
A cabeça dele estava sempre no tambor!

Fernando!
Dizia-lhe a sua mãe:
Já fizeste os deveres da escola?
Ele respondia sem abrir a sacola:
Eu já sei tudo minha mãe,
Eu sei mais do que ninguém!...
Ele lá saber, sabia…
Mas o pior era a caligrafia!
Na escrita era um horror
Pegava na caneta como se fosse o tambor!
Mas naquele tempo, só passava quem sabia
E assim não havia quem o passasse.
E para aperfeiçoar a caligrafia…
D. Fernando repete a 4ª classe.
Era franzino, um lingrinhas
Mas muito pior que um pilha galinhas
Todo o mal que na vila acontecia
Era ele que o fazia.
Não! Ele não era! Ele jura
Mas a verdade é que tudo tinha a sua assinatura!
Quando o pai o castigava
 Ele não chorava, cantava!...
A Guarda Republicana
É que dele não teve dó
E quando apanhou o sacana
Espetou com ele no chilindró.
A mãe não gostou, desatou a chorar
E o pai ao fim do dia lá teve que o ir buscar.
Mas nem ele se arrependia
Nem a prisão de emenda lhe servia!
Os dias passam iguais
E achando que havia vinho a mais
Na pipa do seu avô
Dom Fernando sem hesitar
Abriu a torneira do pipo
E viu o vinho pelas ruas a jorrar!
Muitos  açoites apanhou naquele rabo
Mas aquilo não era gente, era o diabo
O próprio diabo em pessoa
Nascido de gente boa.
Os pais não o conseguem acalmar
E pedem a Deus para o ajudar
E como Deus escreve direito por linhas tortas
Oferece-lhe uma nefrite
Que o acalma até ao limite.
Como em Penela não há cura para a maleita
Ruma então para Coimbra de mala feita.
Lá iria ser bem tratado
Do mal que Deus lhe deu
E ser devidamente orientado
Nos estudos e na educação
Pelos tios, Deolinda e Abegão

Como no liceu só havia matulões
Que lhe batessem e lhe dessem empurrões,
E disso os tios tinham medo
Resolveram então mandá-lo
Estudar no Colégio São Pedro!
Mais calminho, lá ia estudando
E os conselhos dos tios escutando
A caligrafia continuava um horror
Mas cada vez tocava melhor no seu tambor.
Termina aqui a infância em toda a plenitude
De Dom Fernando de Oliveira Rafael.
Irá gastar muita tinta e papel
Os anos seguintes da sua juventude
Para trás ficou muito amor e alguma dor
Mas seguirá pela vida fora
Carregando desde o romper da aurora
O seu querido e inseparável tambor.


O AUTOR: Alfredo Moreirinhas

continua(sem data anunciada)

13 comentários:

  1. Sempre tive uma simpatia especial pela Vila da Lousã.Durante a minha atividade profissional, muitas foram as vezes que ali me desloquei e onde tinha muitos companheiros e amigos de trabalho. Ao revisitar o Burgo,senti alguma comoção, ao ver toda aquela mancha florestal e do quanto se trabalhou na Sede de Coimbra e na Administração Florestal do Lousã, em prol da Mata, para que os utentes pudessem usufruir daquele espaço magnífico. Perdoar-me-ão, certamente, este desabafo, mas quem, como eu, fui a 4ª geração da familia ligada ao património florestal, gostaria de deixar aqui o meu apontamento e uma saudação aos meus antigos companheiros de trabalho, dos mais habilitados aos mais humildes. Apenas mais uma nota para o meu pai, que durante meio século trabalhou nesta causa sempre com brio e competência profissional. Para ele vai, igualmente, a minha saudação.
    Quanto ao almoço, que dizer? Foi mais um grande convívio, com excelentes amigos. Para a Susana e para o Rafael, o meu e nosso agradecimento. Recordar aqui, o momento de poesia que o Alfredo proporcionou. Já não é a primeira vez que o faz, mostrando o seu grande talento. Parabéns, Alfredo ! Cá ficamos à espera do Segundo Ato.
    A todos deixo o meu abraço. Obrigado pela companhia, em mais este grande momento de confraternização...
    QUITO

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  2. Grande jornada...e eu que o diga!
    Só miminhos!!!!
    Quito temos mesmo que ficar ATADOS uma segunda vez?

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  3. Pois ...ato ... também não gosto ...
    Quito

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  4. PUXA MEU DEUS!Hoje é so festejos!!!!Estamos a chegar a casa depois dum grande almoço comemorando o DIA DA MAE, na TV seguimos um pouco o JUBILEU da RAINHA ELISABETH II e agora, ao visitar o Blogue, os ANOS DO RAFAEL!!!!ESPETACULAR!

    A emoçao subiu-me à flôr da pele!ALFREDO, és o MAXIMO!Vêr o RAFAEL, ai tao quietinho ao teu lado, escutando esse belo poema sobre a sua vida, é mesmo muito emocional!!Mas cuidado, se lhe tivessem posto a LISA DOBY a seu lado, o Castelao arrimava!!!!E finalmente THAT KISS !!!O RAFAEL a pensar da OLINDA "Oh!Cachopa!Tenta là um gesto de ternura!!!"TRY A LITTLE TENDERNESS!!LINDO!!!

    O QUITO evocou o seu amôr pela LOUSA. Também é um dos sitios que me està cà dentro do peito!

    Adorei vêr todos os amigos nessa linda festa!!Mas surpreendido, por nao ver UMA UNICA GARRAFA DE LICOR BEIRAO em cima dessa mesa e na LOUSA!!!!

    Grande abraço a todos

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  5. Uma história real contada com muita fantasia e afecto pelo amigo Alfredo...
    Deu um para dar um "nó" na garganta com a emoção! Pois então, reviver faz bem e o mano homenegeado bem merece!

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  6. A SuZana teve a ideia, o Castelão logo a agarrou.
    Mais uns vinte, entre eles e elas, disseram "sim, vamos a isso" e nasceu mais um excelente dia de convívio entre bons amigos.
    O Abílio filosofou mais uma comemoração aniversariante e o Alfredo deu asas à sua fértil imaginação e à sua arte de bem escrever e bem dizer.
    Foi um dia muito bom, as fotos e o video ficarão guardados para memória futura...
    A todos o meu abraço.

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  7. Panegírico ao Dom Rafael com a arte e o humor próprios do Alfredo Moreirinhas, é peça a guardar para ocasiões futuras.
    Parabéns Alfredo!

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  8. O Alfredo brindou-nos com a estória de Dom Rafel no seu melhor estilo. Excelente dia.
    Parabéns à Suzana pela ideia e ao Rafael pelo impulso que lhe deu.
    Abraços
    Abílio

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  9. Cada encontro tem um condão especial.
    Hoje não foi exceção.
    Que agradável final!
    Fiel à verdade dos factos,
    segredados por alguém,
    Alfredo, como ninguém,
    rimou, em versos cadenciados,
    recordações de tempos passados
    na vila de Penela
    desde mil novecentos e trinta e seis
    até à chegada a Coimbra
    de um Fernando,
    que todos bem conheceis!

    Bem hajas, amigo.

    Agradeço ainda a ternura e o carinho demonstrado pelos amigos presentes.

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    1. Eu é que agradeço a Vossa amizade e o voto de confiança!
      Um beijo para ti e um abraço ao Sr. Dom Fernando Rafael

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  10. homenageado e homenageantes estão de parabéns! ganda malha, Alfredo!

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  11. Aguardo o 2º acto ansiosamente.
    Alfredo,que linda maneira de contar a história do nosso amigo Rafael.
    Um abraço aos dois da

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