quinta-feira, 18 de março de 2021

 


ALVOR

Da cidade de Lagos à alva praia de Alvor é um tiro de carabina. Por uma estrada estreita vamos correndo devagar que o trânsito merece precaução. Ali, do lado direito, encontramos o aeródromo de Portimão, paraíso de paraquedistas e de pequenos aviões coloridos que nos fazem sonhar com o céu azul sem limites. Depois, continuando a serpentear por estradas apertadas, chegamos ao nosso destino – Alvor. Agora que os veraneantes partiram, arrumar o carro e gozar de uma bela zona pedonal junto da ria de águas serenas e pequenos barcos de turismo e recreio a balançar ao ritmo do dia calmo. Alguns turistas, maioritariamente estrangeiros, sentam-se nas mesas debruçadas sobre a ria, bebendo tranquilamente um café ou um sumo que preencha duas horas de lazer. Ali, ali ao fundo, é uma zona de restaurantes. Cheira a peixe a ser confecionado em grandes grelhas, e um enorme bando de gaivotas olha atentamente para o homem que conhecem e que as costuma presentear com as vísceras do peixe amanhado a servir aos clientes. As espectativas das aves não são em vão e um balde de tripas é lançado para um terreiro junto à ria. Sentado num degrau de pedra, vou olhando aquele festim e divirto-me com a algazarra das gaivotas que, em menos de nada, comem o manjar que lhes foi oferecido. Depois, seguir rua acima. Olhar os restaurantes vazios e ali, no meio daquela ladeira, um bar aberto sem clientes. É escuro como negro é o avental de um homem alto que vai varrendo o chão de sobrado, absorto a olhar para a vassoura. Naquela rua tudo seria silêncio, não fosse de um dos restaurantes ouvir-se em alto registo o som dos Pink Floyd na tentativa de chamar a clientela. Num cruzamento de ruas fico parado e vou avaliando o ambiente. Acolá, o aglomerado de gente é maior e tenho alguma sensação de insegurança. Rodopio e regresso ladeira abaixo ao encontro de amigos. Numa mesa e a quatro, saboreámos o bom peixe que nos afirmam ser do mar e não de viveiro. E para o degustar, nada como o som de um acordéon que vai alegrando as mesas dos veraneantes. E não faltou uma referência musical à Beira Baixa e a Castelo Branco, com aquela máxima popular de que quem viveu na urbe albicastrense não é feliz noutra terra - talvez. Pelo menos o ilustre Amato Lusitano assinaria por baixo o amor a essa bela cidade na rota raiana.

Kito Pereira

Cidade de Lagos, 12 de outubro de 2020           

7 comentários:

  1. Que belo texto...
    Até se me abriu o apetite para uns grelhados de peixe.

    ResponderEliminar
  2. A caminho do Alvor numa viagem de recordações, mas também para se notar o que é a vida do negócio depois duma época de verão bem recheada de turistas...
    Pormenores bem interessantes no decorrer da viagem, que mesmo sendo curta dá para um texto bem interessante!

    ResponderEliminar
  3. "Cheira a peixe a ser confecionado em grandes grelhas, e um enorme bando de gaivotas olha atentamente para o homem que conhecem e que as costuma presentear com as vísceras do peixe amanhado a servir aos clientes."

    Consegui reproduzir, na mente, fielmente, a cena. Até o cheiro do peixe grelhado fez-me salivar.

    Chama a Mamãe, que eu vou!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um abraço, amiga. Consta-me que já foi vacinada contra o mal que aflige o mundo e fico satisfeito por isso. Um dia voltaremos a ser livres e a viajar ...

      Eliminar
  4. Eu estou à espera de ser avisado para levar a segunda dose...
    Enquanto isso não acontece, amanhã sábado, vou ao Mónaco(café/restaurante aqui no Bairro)trazer um take wai de duas doses(estas sim, posso com várias) de tibornada para o almoço... Ah! Ah!
    Cumprimentos para o Canadá, Manaus e Condessa do Amial.
    Nota: para Chama a Mamãe. TIBORNADA vem dos lagares de azeite: bacalhau assado com batatas(que levam murros/pancada para abrirem e absorver o azeite).
    Ficam deliciosas...

    ResponderEliminar