quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A PROPÓSITO DE UM POEMA ...




 A velha estação da cidade ...

A Associação “Grupo dos Amigos de Lagos”, com a colaboração da União das Freguesias de Lagos, da ACRAL e do Comércio Local, promoveu mais uma vez, durante a época de verão, a iniciativa “Lagos Cidade Poesia”.

Este evento tem como finalidade convidar e incentivar poetas nacionais e estrangeiros, a versejar sobre esta cidade do barlavento algarvio, havendo sempre um tema a que se devem subordinar. Este ano, o tema é “LAGOS  CRIANÇA “.

Os poemas, inscritos em cartazes bem visíveis e de apreciável dimensão, encontram-se expostos por muitas montras das lojas do Centro Histórico da cidade. Em cada montra, um poema. Dizer aqui, que os referidos cartazes primam pelo bom gosto. Apelativos e discretos quanto baste.

Deambulando pela urbe, lendo poemas aqui e ali, foi este que aqui trago, que mais senti que se identifica com a minha infância algarvia. 

Das férias prometidas e desejadas, de malas feitas do meu pedaço coimbrão.

Li reli e voltei a ler o poema, exposto numa sapataria. Depois, gentilmente, foi-me cedida uma cópia. À guisa de canudo, enrolei a folha contendo o poema, que segurei na minha mão firme, como se fosse um Tratado de Amizade Perene entre mim e a cidade, sentindo que aquele afeto é recíproco.

Em cadência lenta, subi a Rua Infante de Sagres, a saborear aquele momento solene.  

O poema fala da criança. Fala do comboio. E fala também dos pescadores da faina.

Voltei assim à minha meninice, levado pela mão delicada e sensível da poetisa.

Ouvi o apito do comboio nas horas triunfais da chegada e dolorosas da partida.

Lembrei o António Maluco, idoso e só, para quem o mar foi sustento. E o Jorge Pacheco que, com sua rija têmpera, desafiava as ondas bravas, em tempos de suestada.

Caminhei, em pensamento, pela estreita e empedrada Rua do Adro. Recordei as suas humildes casas. O pequeno pátio interior e aquele par de remos velhos e esquecidos em repouso infinito, encostados a uma parede junto à porta da cozinha, da casa pequena e escura do António Maluco.

Do Jorge, que cedo partiu desta vida, eu, menino – criança, ouvia de olhos arregalados as suas façanhas. Eu não precisava de heróis de banda desenhada. Porque na minha inocência infantil, ele - valente e decidido - era o Príncipe das Tempestades.

Com a devida vénia, é este o poema de Esther Andrez, que com os amigos partilho:

TUA PEQUENEZ/ CRIANÇA TALVEZ ! …

Pudera eu encontrar - te no limiar
onde a linha do horizonte troca olhares
com o mar
vejo a ternura, no olhar
Há! que saudades de me encantar
com cada pedra, que veste a calçada
dum certo lugar
Há! … a incandescente noite
em que abriga, o sonho do pescador
indo p´ra faina lançar as redes
deixando sozinho em casa, o seu amor.
Mas a maresia compensa-o, e pelas mãos do tempo
pinta o céu de outra cor.
A praça vivaça, não há quem não repare
quem por ela passa
e, a música ecoando na praça.

Lagos criança, onde o relógio de verão
é o apito do comboio
na chegada à Estação!
  
Esther Andrez   

           

6 comentários:

  1. Gonçalo, apesar de ser pertinente a observação, entendi não modificar. Julgo que interjeição naqueles moldes, está correta. A fidelidade do que está escrito no poema tem que ser respeitada. É exatamente assim que o poema está escrito no cartaz. Mas sou de opinião que não há qualquer lapso ...
    Beijos Filho

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  2. Estava eu sentado, quedo e mudo...a ler o texto desta postagem, quando alguém me bate leve, levemente, como quem chama por mim...não à porta mas ao varadim!
    Fui ver!
    Era o autor da dita!
    Isso mesmo
    O ausente!
    Agora presente!
    Entrai, entrai
    Nesta cadeira assentai!
    Vem tal e qual
    Quando foi!
    Nem mais branco
    Nem mais escuro!
    Não meti o pé na praia!
    Ufana-se!
    Fazia lá
    O mesmo que cá!
    NADA!
    Falou!
    Falou!
    Falei
    Falei
    Falámos!
    Rimbombei!
    Riu-se!
    Diz que estou na mesma!
    Toca o telé
    Aposto que é o controle
    Disse eu!
    Acertaste
    Disse ele!
    Onde estás, perguntou a São
    Tou aqui com o Fernando('?) Rafael('?)
    Não sei qual nome empregou.
    Vou já ai ter!
    Fomos os dois!
    Falámos agora a três!
    Tudo em dia!
    O agradável
    Com o Miguelito
    E o menos agradável!
    Tricas!
    Tudo em pratos limpos.
    Limpos, puxa almoços!
    Dos domingos!
    Sim ainda não pararam
    Vão continuar
    Claro
    Já no domingo
    Sem mim!
    Vou para os pasadiços do Paiva!
    Nãp sei se almoço, disse ele
    Almoçamos, disse ela!
    Temos que ir
    E foram
    FIM

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  3. Estás mais inspirado à noite que à tarde ! Vai um gaijo em missão de cortesia ao teu cortiço, e quando chega à tua mansão, eis que começas aos tiros, ribombas e de que maneira, sem sonotones e com um aspirador a trabalhar, que era dia de limpar o quartel. Fartei-me de gritar, mas tudo ficou esclarecido. Mas fica já o aviso que se na próxima semana apareceres com a rótula avariada por causa do Paiva, não venhas choramingar no meu ombro !

    Ainda tens a lata de dizer que eu não fiz nenhum na praia onde nem pus os pés. Mentira. Comi e dormi que nem um justo! E escrevi, esforçadamente, uns textos para este blog da treta, conforme te tinha prometido ...

    Ah! ... já agora, gostei do teu comentário. Fizeste-me rir ...

    Bem, que entre na ribalta o António Dias. Vamos lá fazer saltar a rolha da garrafa de champanhe ...

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  4. Um bom poema, marcado pela singeleza e muito valorizado pelo belo texto que o introduz.

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  5. Com esse poema e o lavacolhos até vais andar sem esforço no passadiço do Paiva! Bom poema e bom passeio!

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    1. E foi mesmo sem esforço. O Rafael até reclamou por ser um piso demasiado luxuoso.

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