Esta crónica é a azul e branco, mas
começa de vermelho. Porque Vermelho é o nome de batismo do meu primo António,
que é todo do Benfica. É mais vermelho que o tinto carrascão !!! Vive numa
moradia em Lagos, quase encostado ao Cascade Resort, unidade hoteleira de luxo
cá do burgo. Ele – o meu primo António – anda todo marafado, porque acha que o
Futebol Clube do Porto estar ali a estagiar é uma provocação. Mas ele também
sabe que eu tenho uma leve simpatia azul, pelo que passa a vida a espicaçar-me
e vai-me dizendo:
- Olha que os gajos, no treino,
dizem tanto asneiredo que até se houve lá na rua !
Devolvo-lhe:
- Mas tu achas que aquilo é
patinagem no gelo ou ginástica rítmica?
Claro que é tudo mentira, que a
malta azul anda toda na catequese. O que é certo que eu do meu poleiro, vejo o
hotel e o campo de treinos. Todas as manhãs e tardes, a bola rola pelo relvado,
com os matulões a correr atrás da redonda como num filme de desenhos animados,
e a espaços sentam-se no chão a descansar e a ouvir as palavras do Mestre. Pelo
menos é que o eu deduzo, quando “vejo” o treino com os meus binóculos.
Mas o meu primo António lá anda
com a sua fé inquebrantável no título do próximo campeonato. Para lhe aliviar a
pressão de ter o “inimigo” mesmo ali ao pé da porta, vou-lhe dizendo que o
facto dos nortenhos virem para o Cascade treinar, é por especial deferência a
mim. Uma gentileza com que me brinda o grande educador das massas, Sua
Majestade Senhor Dom Jorge de Nuno de Pinto da Costa.
Esta conversa foi no Alvor, de
volta de um robalo escalado à algarvia. Para o provocar ainda mais, também
disse ao meu estimado primo que no dia em que o Futebol Clube do Porto regressar ao norte, vou
estar no meu trono dourado para os receber, porque acredito que protocolarmente
não deixarão de se vir despedir de mim, como mandam as regras da etiqueta e da
boa educação.
Pensei com mais esta alfinetada
futeboleira, que o António perdesse o apetite e sobrasse mais robalo para mim,
mas enganei-me. Com o nervoso miudinho, a águia lacobrigense atacou ainda mais
furiosamente no robalo e enxugámos mais umas taças de branco fresquinho. No fim,
ele quis fazer um brinde ao “Glorioso” e eu aceitei de bom grado, porque foi
ele quem puxou da carteira e pagou a simpática conta. Achei justo.
Q.P.
Rafael, não há fome que não dê em fartura ! Agora não me venhas com as alfinetadas do meu sangue azul, que é no preto que me revejo. Briosa é Briosa.
ResponderEliminarAbraço
...mas o pior é quando há fome ...e não há que comer!
EliminarMas com o rearranjo das horas de saída está tudo composto...até o Chico vai ajudar à festa horária!!! Sai à rua(postagem) mais cedo...
Bons velhos tempos em que também ia com binóculos para a Praça de Ceuta ver alguns jogos da AAC. Por outro lado, também ia para o muro que ficava ao fundo do "Cavalo Selvagem" ver jogos do União e quando virava a mira para a direita, lá via também um bocadinho da AAC.
ResponderEliminarComo os tempos eram outros, não existiam Suas Magestades Senhores D. Jorges de Nuno Pinto da Costa mas havia outros muito mais interessantes que faziam golos como Jaburú. O problema é que também bebia e de que maneira.
Enfim… o Jaburú veio a falecer como mendigo. Outros tempos, outras virtudes.
Andavas ansioso para escrever que FCP te tinha dado uma prenda indo estagiar lá mesmo quase pegadinho a ti!
ResponderEliminarQuem não gostou foi o primo António que via nisso uma provocação, para mais com o asneiredo que poluía a rua!
No robalo grelhado ainda tiveste sorte de eu me encontrar a estagiar nas termas!
Desta vez o Quito Pereira afastou-se do seu preferido deambular pelas terras perdidas do interior raiano com que nos delicia retratando as gentes que por lá mourejam.
ResponderEliminarE,em vez de nos deixar de semblante contraído, de olhar humedecido,de coração apertado, revivendo as melancólicas histórias que a sua escrita inconfundível tão bem nos retrata, hoje certamente já tisnado pelo sol lacobrigense e de estômago aconchegado por um robalo escalado à algarvia, optou, com mesma maestria de sempre, por uma crónica inesperada e deliciosa que me fez rir com gosto.
Obrigado Quite.
Por erro, finalizei com Quite e não com Quito como devia
EliminarAfinal, estás "quite" com o Quito.
EliminarEssa história de Vermelho e Azul parece bem (de longe, claro) o embate entre o Boi Garantido (Vermelho) e o Boi Caprichoso (Azul) durante o Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas.
ResponderEliminarPor aqui o reino do futebol também é meio folclórico e os embates mais nas TV´s do que nos relvados também é entre garantidos e caprichosos e mais um outro convencidos(verdes)...só muda o reino animal:uns são águias, outros dragões e o terceiro leão! Autênticos festivais do reino animal!
ResponderEliminarGostei! Gostei do texto, gostei do primo do Quito, gostei que o primo tivesse comido mais robalo, só foi pena não o ter comido todo, porque gajo que vai para a varanda, com binóculos (ou sem eles) espreitar uma cambada de marmanjos, semi nus atrás duma bola, não merece robalo, não merece nada!...Sobre as cores, não digo nada, pois o clube do meu coração, além do Clube do Calhabé, é um que tem metade azul e metade vermelho. Também tinha simpatia pelo preto, mas agora já nem preto é, passou a cinzento...
ResponderEliminarClubites à parte, ir para Lagos, varanda sobranceira ao mar, ver com binóculos uns futebolistas a treinar, que desperdício ... Salvou-se o almoço é a prosa!
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