Praia do Algodio - Ericeira.
- aguarela - Pintor anónimo que expõe nas ruas de Ericeira
Hoje de manhã a maré está baixa, como eu gosto.
E quando durante umas horas,o mar nos revela parte dos segredos de uma vida esfusiante que se abriga nas rochas, onde a erosão milenar foi escavando túneis e grutas que protegem os seres marinhos dos seus predadores.
Serpenteando, a água límpida, num ondular repetitivo, mas nunca repetido, vai banhando as rochas descobertas, as algas, os musgos, os ouriços, os moluscos, os pequenos peixes, até os insectos.A mim, acariciava-me as pernas meio submersas, intrusas…Involuntariamente, fixo o meu olhar num casal, mais à frente, recoberto pela água, entregue à loucura de um apertado abraço.Bolhas de ar subiam velozes, desfazendo-se em espuma à tona de água, como capitoso champanhe.Presenciar a beleza de um acto de amor, em invulgar ambiente aquático, afastou os pruridos que a razão me aconselhava. Foi mais forte do que eu, invadir a privacidade daqueles jovens…
A refractária ondulação permitia-me adivinhar, mais do que realmente ver, deformadas, as imagens dos braços enleados, das pernas entrelaçadas, das bocas coladas, dos corpos fundidos num só.
Num frenesim!
Uma e outra vez a água revolteava-se quando os corpos daqueles jovens surgiam à tona, já indiferentes aos olhares estranhos, perto do êxtase.
Subitamente, a calmaria…
Ainda os vi, de mãos dadas, deslizarem suavemente, lado a lado, afastando-se, saciados, em direcção a uma rocha mais longínqua.
Amanhã vou estar de novo naquela praia. Gostava de poder agradecer àqueles dois jovens polvos, por me terem mostrado a beleza do amor dentro de água…
Rui Felício
Ahhhh, teu texto trouxe-me à lembrança, tal qual esse "acto de amor", quando - já casada e com filhos, marido ( atualmente meu ex querido e sempre pai dos meus filhos, a quem respeito) e eu! - também namorava dentro d´água.
ResponderEliminarA diferença é que era no (meu) Rio Negro rss
E te digo mais (como um dia deixei no blog AfundaSão: mesmo sendo enterrada, eu vou estar amando....
Aliás "ser enterrada" até passa a soar bem se lhe dermos uma conotação erótica.
EliminarSer enterrada... Mas depois de morta é natural e nada Erótico
Eliminarrssssss....agora eu ri
EliminarÉ um texto de grande beleza. A prodigiosa imaginação do autor e uma escrita soberba e metafórica em passagens que nos permitem balançar ao sabor das ondas neste delírio de amor aquático destes amantes de tentáculos envolventes ...
ResponderEliminarNoooooosssssaaaaa, Quito! Mandaste bem!
Eliminarrsss
Serà que a SANDRA virou Polvo?
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