O ti Santiago só tinha uma filha, a Maria. Ela nunca fora dada às letras e, lá em casa também não haveria tempo para essas modernices. Havia duas parelhas de vacas, alguns “tchões” que, embora pequenos, eram muito afastados uns dos outros. Alguém teria de ajudar a cuidar dos afazeres da lavoira! Ti Santiago não compreendia como podiam mandar a garotada a estudar para colégios e seminários e ficarem os pais por lá a apanhar as castanhas, a granjear lenha para o lume, a levar o gado ao lameiro, a semear, colher, secar… aquela imensidão de afazeres dentro e fora de casa, que nem de Inverno ou Verão cessavam. E, todos os dias desfiava o seu rosário de protestos contra quem saía da labuta difícil pelo pão do próprio O Inverno antecipara-se naquele ano e geou as castanhas ainda nos ouriços, que seria o mealheiro para pagar a mensalidade dos estudantes lá da aldeia. Os pais andavam “consumidinhos”, sem saber onde ir buscar dinheiro para cumprirem os seus pagamentos! Alguns tinham vitelos quase criados para levarem ao mercado de Alfaiates ou à feira do Soito! Outros tinham colhido algum feijão que podiam levar a Navasfrias… mas teriam que viver à míngua se o vendessem. Ti Santiago fazia ouvir-se ainda mais exacerbado que de costume. Alguém se aventurou a ir pedir-lhe ajuda, pagar-lhe-ia mal arranjasse com quê. Vociferou, amaldiçoou e disse que da casa dele nunca sairia um tostão para quem abandonasAs pessoas voltaram aos seus lares cheias de vergonha e revoltadas com um homem tão avarento e mau! Qual não foi o espanto de todos, quando na manhã seguinte, viram no meio do corredor das casas, um envelope com a quantia exacta que tinham de enviar aos filhos. Ninguém queria acreditar! Ti Santiago nunca admitiu ter sido ele. Mas, à hora de dizer adeus à vida, pediu que rezassem por ele a Deus, pois não era tão mau como quisera sempre parecer!... Que tinham feito bem ao mandarem valorizar os seus filhos.
GEORGINA FERRO
Sem comentários:
Enviar um comentário