Um Deus Presente ...
Ali, naquela curva da estrada, sentado num muro de pedra, eu
olhava a noite. Uma noite escura e redonda. Redonda naquele cenário de estrelas
luminosas que abarcavam todo o céu ao redor do meu vasto campo de visão. Um
globo negro, que na próxima manhã se enriquecerá de outras cores, em que o
castanho predominará no horizonte nestes frios de inverno. Ao relento, comungando
daquele mundo campesino, eu distanciava-me de tudo. Era só eu e Deus. Um Deus
presente, materializado no recorte indefinido das faldas do Moradal. Da água
que corria em manso regato pela valeta dos caminhos. Do piar de uma ave
retardatária no regresso ao seu lar. E das luzes. Das luzes longínquas e
trémulas que sobressaíam do ventre da montanha e da planície. Dali, daquele
local, eu distinguia naquele caldo de emoções, as povoações de Ninho do Açor e
Sobral do Campo. Dois singelos aglomerados longe do bulício da cidade e dos
gostos mundanos. Lá, naqueles lugares, ainda se cava a terra de dorso dobrado
sobre a enxada. Se tratam as abelhas com a deferência e o respeito pelas suas
colmeias. Se vindima ou se vareja a azeitona que com mil cuidados dará origem
ao esplendor do azeite. Ali também está Deus. Fico a meditar naquele meu
presente e aconchego a gola do casaco. São horas de partir e, ao volante do meu
carro, levo a confiança de que chegarei seguro ao meu destino. Porque aqueles
momentos de comunhão com a natureza na sua essência, mais não foram que uma
prece a uma Entidade Superior à nossa insignificância de simples mortais, seja
lá quem Ela for, com que Vestes Etéreas se ornamente na imaginação dos crentes.
Amanhã, a mais um dia frio de Janeiro sucederá a noite. E eu lá estarei, de
novo sentado naquele muro de pedra na berma da estrada, a olhar a Natureza
Divina e a escutar o que Ela terá para me dizer.
QP
Há pouco tempo, conversando com meu irmão, enquanto aguardava para se submeter cirurgia, e sabendo o quanto descrê das coisas divinas (segundo ele, por já ter sido seminarista e ter presenciado as "safadezas" que ocorrem nas "igrejas"), falava-lhe sobre sua vida, um tanto desgarrado, dos problemas que vêm passando - e certamente ocasionados por ele - e lhe perguntei: Meu irmão, você acredita em Deus? Em um Ser Superior, a quem devemos TUDO isso que vemos?
ResponderEliminarEle me respondeu, secamente: Não!
Fiquei espantada, mas ao mesmo tempo calma diante da negativa, até mesmo pelos argumentos dele, sobre padres serem safados etc e tal.
E lhe disse: Não estou falando de religião. Até porque não li em momento algum, que Jesus - e sua história é incontestável! - falou que a religião católica, ou evangélica, ou qualquer outra é que era a certa. Nunca li! Só queria que você acreditasse que tens tido a chance de seres uma pessoa melhor, espiritualmente, e ainda não percebeste.
Ele disparou: Ma (ele me chama de "Ma), tu ainda acreditas nisso de que o Mundo foi criado por Deus? Mandou eu assistir e ler a respeito de como tudo já foi "provado" que tudo teve início com uma explosão.
Eu lhe disse, calmamente: Meu irmão, no dia que o homem conseguir fazer/criar, a partir do NADA, um animal - racional ou irracional - com toda essa engrenagem interna - coração, pulmões, fígado, intestinos, boca, olhos etc - talvez eu passe a pensar como tu. Por enquanto, o homem até tem tentado por meio de clonagens etc. Mas de algo já criado.
Portanto, eu, uma crente em um poder sobrenatural - a quem deram um nome "DEUS" - que dialoga diariamente com a Natureza - fico feliz em saber-te também observador de tamanho feito!
Respeitando, naturalmente, todos os pontos de vista, porque essa é a essência da coisa, o respeito mútuo entre homem x natureza x homem
Excelente texto Chama a Mamãe.Refexões muito oportunas, comuns a muitos de nós!
EliminarTu e o Moradal.
ResponderEliminarQuantas vezes ao longo de anos tiveste estes pensamentos em confronto com a natureza que te rodeava.
Tudo o que olhavas porque apareciam aos teus olhos?
Seja Deus ou o que seja de fantástico, a realidade é a fé que nos move, que nos faz acreditar na nossa existência tal qual somos e que por vezes nos faz pensar no ínicio da existência humana de que fazemos parte.
Por mim não encontro respostas!
DEUS dos Céus nos valha....É porque acreditamos!
O tema é interessante. Cada um tem o seu conceito de Deus. Olhando de noite o tal Moradal e o mundo campesino, ou convivendo na primavera com todo o seu esplendor, pode ser aquela tranquilidade algo que nos faz reencontrar com nós próprios, longe de uma cerimónia religiosa que é sempre algo de protocolar. A "Chama a Mamã fala da "safadezas da igrejas" em casos também vistos em Portugal ou na ignóbil Inquisição, em que em nome de Deus se assassinavam inocentes. Talvez a contemplação da natureza seja mote para qualquer um se demarcar do Homem e da invocação de Deus como pretexto de objetivos pouco ou nada claros ...
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