Boas Férias ...
...por uma estrada estreita rumamos a Sul ...
Diz o ditado popular que, “de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento”. Ressentimentos antigos, direi, ultrapassados no tempo, fruto, talvez, de uma fronteira terrestre comum, disputada palmo a palmo por homens a cavalo, que, de elmo e viseira, com a Cruz de Cristo à frente e a espada em riste, tinham como missão dilatar as fronteiras e a fé cristã. Das arremetidas espanholas, saímo-nos sempre bem, coroados de glória. Foi, pelo menos, essa a ideia que se fez passar nos compêndios de História. Se a memória não me falha, apenas me lembro do desastre de Dom Sebastião, e ainda hoje me interrogo do assumir nacional do pesadelo de Alcacer - Quibir. Mas os tempos mudaram, e hoje, as relações Luso-Espanholas passam por um bom momento, cientes que estamos, talvez, que este casamento é para sempre, unidos geograficamente por uma fronteira que é transversal aos séculos. A mim, pessoalmente, nunca me incomodaram os vizinhos. Digo mais: sempre que os visito, são para comigo de uma simpatia e deferência que é justo registar. Argumentará quem tem a paciência de ler este escrito, que se trata apenas de cativar o turista. Será o caso, mas não só. E é assim, com este meu preambulo quase guerreiro de tempos de antanho, que Vos convido a um passeio até às praias de Morro Jable e Jandía. De um pequeno mas moderno aeroporto partimos, à conquista de Fuerteventura. A ilha mais selvagem e virgem das Ilhas Canárias. Por uma longa fita estreita de alcatrão rumamos a sul.
...por uma estrada estreita rumamos a Sul ...
Mais de uma hora de caminho, desbravando vales de imensa secura, onde a lava ressequida e negra é cenário constante. Ao longe, na sua imponente grandeza, divisamos as montanhas agrestes, sentinelas do Tempo, que, com o seu porte majestoso, dão ao viajante mais sensível, pretexto para momentos de recolhimento e, para os que Acreditam, louvarem Um Qualquer Ente Divino, Obreiro de beleza tão rude. Por vezes, a estrada, no seu leve serpentear, aproxima-se da costa. É o caso de quando passamos Calheta de Fuste, e Playa do Sueste, paraíso dos amantes de prancha à vela, vindos de todo o mundo. E de novo mergulhamos na aridez da ilha. Quilómetro a quilómetro, aproximamo-nos no destino. E da desolada paisagem, passamos para um complexo de hotéis que preenchem a costa. É uma zona turística por excelência. E não deixa de impressionar a capacidade empreendedora de “nuestros hermanos”. De um local inóspito, conseguiram o milagre de fazer dele uma fonte de divisas para o país. Os Alemães, sobretudo, são quem mais procura aquelas paragens, seguidos pelos italianos e ingleses. Curioso foi, para mim, verificar como povos diferentes reagiam aos jogos do campeonato do mundo de futebol. Os ingleses, com a sua fleuma habitual, os italianos e espanhois em grande algazarra, e os alemães que apareciam em bandos, trajados a rigor com a camisola da sua selecção, levando muito a sério um mero acontecimento desportivo, uma questão de honra para o país. E ali estavam, encharcados em cerveja, de semblante carrancudo, como se o mundo estivesse a ruir. Poucos metros ao lado, estava o mar. Convidativo. E uma praia de areia branca. Coisa estranha numa ilha vulcânica. Mas é assim. As praias de Morro Jable e Jandía são um convite ao descanso e ao repousar dos olhos nas águas límpidas e na densa espuma de um mar sereno. Por extensos nove quilómetros de areal, chegamos a Jandía. Pelo caminho, somos saudados por esquilos e pombas, habituados aos viajantes que lhes dão de comer. É curioso ver a coexistência pacífica entre aqueles pequenos seres, e da forma como confiam no pior animal de todos: o bicho Homem.
De referir, ainda, a prática do nu integral, entre muitos veraneantes. Não há zonas reservadas, e cada um passeia-se pelas praias a seu belo prazer. Novos e menos novos. Individualmente ou em grupo. Casais de namorados. Tudo na maoir normalidade. Os mais desinibidos e os mais conservadores.
Apenas o poste de eléctricidade, é testemunha da presença do Homem ..
Em Jandía, lá está o farol, amparo de marinheiros, anunciando o fim da Ilha. Dias depois, é tempo de regressar. A despedida dos funcionários portugueses do hotel. O regresso ao aeroporto, onde os aviões de companhias alemãs são em maioria. E enquanto o avião da SATA, a horas tardias, corre velozmente a pista e levanta voo em direcção ao ventre da noite escura, relembro o pensamento do um ilustre pensador dos princípios do século passado, Miguel Unamuno, que dizia:”…para mi, Fuerteventura fue todo un oasis, um oasis donde mi espíritu bebió de las aguas vivificadoras y sali refrescado y corroborado para continuar a mi viaje a través del desierto de la civilización …”
Quito Pereira
Quito Pereira
Li com muita atenção e curiosidade o texto sobre este paraíso de MORRO JABLE E JANDIA!
ResponderEliminarNão sei qual foi o "cachet" que recebeste da comissão de Turismo Local.
Mas bem merecias, pois quem ler este teu artigo vai ficar co curiosidade em conhecer!
Não sei se Miraste bem os NUS INTEGRAIS ou se até também o praticaste...para "deleite" das turistas ou até mesmo de algum turista...
Mas penso que não pois levavas a "guardiã do Templo"...
RAFA
ResponderEliminarNo que diz respeito aos nus integrais viam-se por lá algumas coisas "engraçadas", MAS TAMBÉM ALGUNS FILMES DE TERROR. Quanto à "Guardiã do Templo" palavras sábias meu amigo. Na próxima vamos lá de excursão. Nós os dois e podemos convidar o Felício, que sempre gostou muito de viajar ....
Gostei do ASSUNTO.
ResponderEliminarBOA CANETA.
Um Abraço.
Tonito.
Pois desta descrição tenho de ir
ResponderEliminarviajar até a este linda ilha...
Gostei, pois até fiquei a saber da existência de mais um paraíso terrestre. Não fazia ideia era que para esses lados houvessem esses simpáticos esquilos que me comem as flôres do vazos. Ir para uma zona vulcânica é de gente corajosa pois... se acontecer alguma coisa, espero não estar lá para pôr o dedo no buraco.
ResponderEliminarQuanto à alusão a uma eventual viagem a três, estou pronto! Não que tenha ficado sugestionado pelos nus integrais, mas sim pela aridez da paisagem, onde até um poste nu é sugestivo...
ResponderEliminarQuanto ao texto/reportagem, vou deicar-lhe um comentário logo que tenha tempo de dizer o que sobre ele penso...
Rui Amigo
ResponderEliminarOs comentários não têm forçosamente de ser simpáticos. Por isso estás à vontade para malhar neste teu amigo. Na crítica, também está a amizade. Como não me canso de dizer, apenas colaboro. É o meu entretenimento. Acredita que estive para não enviar este texto.Poderia parecer presunção da minha parte, estar a falar de uma viagem. Amigos, em Coimbra, disseram-me que não e que mandasse o texto. Assim fiz. Espero que todos entendam, que, numa colaboração escrita, não é fácil arranjar, com assíduidade, temas. Por isso é preciso diversificar. Tu, com a tua escrita, reconhecida por todos, bem podes ajudar a fazer o barco navegar. Desde que tenhas tempo, naturalmente...
Quanto a Fuerteventura, nunca tive dúvidas que vamos lá em excursão só para ver a aridez da paisagem. Quem estiver bem atento, vê paisagens maravilhosas e, sejamos justos, algumas de arrepiar. Disse.
Abraço
Quito,
ResponderEliminarNão tenho capacidade para criticar a escrita dos outros. Muito menos a tua, onde sempre encontro um bálsamo e uma calma que não é fácil ver noutras. Por isso me calo quando não gosto. Prefiro o silêncio a alguma critica, sempre forçosamente subjectiva e, quiçá, infundada.
Não foi por esse motivo, portanto, que adiei o meu comentário. Foi apenas e só por falta de tempo.
Feito o preâmbulo, vamos ao dito:
Nunca estive em Fuerteventura. Mas já passei a curtas milhas da sua costa. Numa noite de breu em que apenas se divisavam as ténues luminárias de sinalização das pequenas embarcações de pesca que pululavam à frente do grande navio ( Carvalho Araújo ) que me trazia da Guiné depois de dois anos passados na guerra.
Tivesse eu então lido esta tua descrição tão atractiva e, garanto-te, com a bebedeira que trazia pela alegria do regresso, me teria certamente lançado borda fora à procura do excitante poste nu perdido na aridez da paisagem ou, especialmente, das alemãs, britânicas, francesas, suecas e quejandas, elas também nuas, que dizes que por ali andavam...
Nota de rodapé:
A escrita do Quito é, por norma, de natureza sentimental, bucólica...
Ao enveredar, neste caso em apreço,pela reportagem, não cosegue mesmo assimde deixar de nos transmitir o sentimentalismo que o caracteriza e que tão bem reflecte nos seus textos.
Vidé, a leve mas verdadeira alusão à amizade entre portugueses e espanhóis, mau grado as vicissitudes da História que ensina que aqueles nos tentaram inúmeras vezes e em vão conquistar.
Boa Quito!
ResponderEliminarMais uma descriçao, criteriosa e agradável, da tua viagem a Fuerteventura.
Confesso que zonas vulcânicas,para fazer praia, não me seduzem.
Tu também estiveste atento a todo o tipo de natureza,nada te escapa...
Nem viste bem o futebol para ficares concentrado nas reacções dos assistentes de outras nacionalidades,com o teu olhar humano e observador de "escritor em férias"!
Pois é, o Quito é um conciliador nato.
ResponderEliminarApaga da História os 60 anos com que Castela nos filipou...
Também não assume que uma padeira de maus instintos limpou o cebo a sete desgraçados que se esconderam, já fartinhos de levar porrada em Aljubarrota, no seu forno.
Também não refere o maior dos conflitos: o condado Portucalense foi fundado porque um filho resolveu dar cachaporra na mãe (ou madrasta ).
É caso para dizer que o pecado original é nosso.
Depois acontece outra coisa:
Os Castelhanos sempre nos comeram as papas na cabeça. O Tratado de Tordesilhas serviu para pôr ponto final a um conflito latente e que se ia agravando com o decorrer do tempo. E, caso curioso, o que de imediato havia que resolver era exactamente as Canárias que o Tratado colocou do lado espanhol...
Vamos culpar nuestros hermanos por saberem defender os seus interesses?
Também há quem se irrite porque nos levam o carapau e a sardinha, a pescada e o peixe-espada.
Será culpa "deles" que só a frota pesqueira galega tenha um potencial de pesca seis vezes superior a toda a frota portuguesa?
Os nossos empresários de hotelaria bramam aos céus a falta de capacidade para combater o mercado espanhol. Será que também é culpa "deles" terem sabido investir no turismo, praticando preços atractivos, infraestruturando com visão de futuro?
Estou de acordo contigo,essa do "nem bom vento nem bom casamento" não é mais do que um chavão que cheira a mofo e que serve apenas para justificar as nossas próprias incapacidades.
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Vi, no Baile do nosso Comendador, que vais fazer uns dias de férias.
Aproveita, com a tua São, da melhor forma esses dias. Que tudo vos corra pelo melhor e vai correr, com toda a certeza, porque vocês merecem.
Quando regressares fazes reportagem, certo?
Li com o mesmo gosto esta de Fuerteventura com que li, já lá vai uns tempitos, sobre Monsanto. Com o mesmo prazer com que leio tudo que escreves, quer fales do teu sapateiro da rua de Angola ou do teu amigo Ti Chico de Salgueiro do Campo.
Grande abraço, boas férias.
Carlos Viana