maldita pulga ...
Já lá vai um carro de anos, mais de meio século, que existia
na zona centro do país um feirante que tinha a alcunha de “careca”. O homem não
tinha na cabeça redondinha como uma bola de bilhar, pilosidade que se visse.
Porém, o que lhe faltava em cabelo, sobrava-lhe em
imaginação. Tudo o que encontrasse capaz de ser traduzido em dinheiro, tinha
nele um fervoroso adepto.
Um dia, passando junto a um local com a sua velha carrinha,
reparou num monte que tinha uma cor avermelhada. Parou, perplexo, junto daquele
pó de argila que lhe foi escorrendo entre os dedos. De imediato, foi buscar
um saco de plástico que encheu generosamente daquela preciosa mercadoria.
Preciosa, porque logo lhe achou potencialidades para ganhar bom dinheiro.
Chegado ao destino, correu a comprar umas caixinhas de plástico redondas, de
aspeto apelativo. Depois amassou a argila com água e fez uma pasta que
acondicionou sabiamente nas embalagens.
Um domingo, em Coimbra, na Feira do Espírito Santo, montou a
tenda e em escaparate destacado, expôs as caixinhas e um grande cartaz escrito
a vermelho e letras gordas que continha o produto miraculoso: PÓ PARA MATAR AS
PULGAS.
A mercadoria foi um êxito. O “careca” não tinha mãos a medir
com tanta procura. Mas também há o reverso da medalha. O maldito pó, não só não
matava as pulgas, como ficavam ainda mais gordas e lustrosas.
Elas, as
freguesas, bem se debruçavam no rio Mondego a bater com os lençóis na pedra, na
esperança de tentar tirar aquele pó viscoso que lhes arruinava a roupa.
Um dia, um dos enganados, encontrou o “careca” numa feira e
logo lhe fez ver da sua indignação. O “careca”, sem se impressionar lá foi
dizendo:
- O freguês não deve ter usado bem o pó … é preciso pegar na
pulga com os dedos e untar bem o animal com o produto …
O homem, ainda mais irritado com o douto conselho, retorquiu
irado:
- Mas … mas para isso mato as pulgas com as unhas !!!
Tem razão, retorquiu o “careca” com uma calma imperial…
também é uma boa opção a considerar… é que o freguês para além de matar as pulgas com as unhas,
tem ainda a vantagem poupar nos “poses ”
…
Quito Pereira
O moço gostava de levar vantagem em tudo.
ResponderEliminar...falta dizer que ele apregoava os poses com a Dona Amália a cantar o fado:
ResponderEliminarAmália Rodrigues /O Careca
Eu faço um vistão
com a careca ao léu
acho um piadão
andar sem chapéu
Mas se a moda pega
tenho que aturar
esta cegarrega
que é de arreliar
Ó careca
ó careca
tira a boina
que é moda andar em cabelo
com a breca
tira a tampa da careca
que a careca não tem pelo
Eu visto a preceito
ando assim liró
corpinho bem feito
no meu paletó
Com esta farpela
que é protocolar
de cabeça à vela
so oiço gritar
Ó careca
ó careca
tira a boina
que é moda andar em cabelo
com a breca
tira a tampa da careca
que a careca não tem pelo
Quito, estou farto de me rir.
ResponderEliminarVá lá que ele ainda foi cuidadoso ao escolher a pulga... Vê lá se tinha sido uma peça de caça maior... Era cá uma pega de caras...
O Quito deixa soltar a pulga só para nós fazer rir!
ResponderEliminarVersos à parte é um texto com piada, mas que demonstra a vida de certos feirantes chamados da venda da "banha da cobra" que cura todos oa males!
ResponderEliminarNão estou aqui para aldrabar ninguém, batam duas vezes por dia durante 8 dias e a cura é completa! Se não resultar venha aqui na próxima feira e devolverei o dinheiro!
ResponderEliminarPelo preço de 5 mil reis não leva uma, nem duas, mas sim três!
Obrigado freguês!
Comprem meninas comprem castanhas ao Castanheira de Braga ...se não tiverem dinheiro peçam emprestado que eu recebo na mesma ...
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