quarta-feira, 5 de julho de 2017

OS PÓS DO CARECA ...







 maldita pulga ...

Já lá vai um carro de anos, mais de meio século, que existia na zona centro do país um feirante que tinha a alcunha de “careca”. O homem não tinha na cabeça redondinha como uma bola de bilhar, pilosidade que se visse.


Porém, o que lhe faltava em cabelo, sobrava-lhe em imaginação. Tudo o que encontrasse capaz de ser traduzido em dinheiro, tinha nele um fervoroso adepto.


Um dia, passando junto a um local com a sua velha carrinha, reparou num monte que tinha uma cor avermelhada. Parou, perplexo, junto daquele pó de argila que lhe foi escorrendo entre os dedos. De imediato, foi buscar um saco de plástico que encheu generosamente daquela preciosa mercadoria. 

Preciosa, porque logo lhe achou potencialidades para ganhar bom dinheiro. Chegado ao destino, correu a comprar umas caixinhas de plástico redondas, de aspeto apelativo. Depois amassou a argila com água e fez uma pasta que acondicionou sabiamente nas embalagens.


Um domingo, em Coimbra, na Feira do Espírito Santo, montou a tenda e em escaparate destacado, expôs as caixinhas e um grande cartaz escrito a vermelho e letras gordas que continha o produto miraculoso: PÓ PARA MATAR AS PULGAS.


A mercadoria foi um êxito. O “careca” não tinha mãos a medir com tanta procura. Mas também há o reverso da medalha. O maldito pó, não só não matava as pulgas, como ficavam ainda mais gordas e lustrosas.

 Elas, as freguesas, bem se debruçavam no rio Mondego a bater com os lençóis na pedra, na esperança de tentar tirar aquele pó viscoso que lhes arruinava a roupa.


Um dia, um dos enganados, encontrou o “careca” numa feira e logo lhe fez ver da sua indignação. O “careca”, sem se impressionar lá foi dizendo:


- O freguês não deve ter usado bem o pó … é preciso pegar na pulga com os dedos e untar bem o animal com o produto …


O homem, ainda mais irritado com o douto conselho, retorquiu irado:


- Mas … mas para isso mato as pulgas com as unhas !!!


Tem razão, retorquiu o “careca” com uma calma imperial… também é uma boa opção a considerar… é que o freguês para além de matar as pulgas com as unhas,  tem ainda a vantagem poupar nos “poses ” …

Quito Pereira    

       

7 comentários:

  1. O moço gostava de levar vantagem em tudo.

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  2. ...falta dizer que ele apregoava os poses com a Dona Amália a cantar o fado:
    Amália Rodrigues /O Careca
    Eu faço um vistão
    com a careca ao léu
    acho um piadão
    andar sem chapéu

    Mas se a moda pega
    tenho que aturar
    esta cegarrega
    que é de arreliar

    Ó careca
    ó careca
    tira a boina
    que é moda andar em cabelo
    com a breca
    tira a tampa da careca
    que a careca não tem pelo

    Eu visto a preceito
    ando assim liró
    corpinho bem feito
    no meu paletó

    Com esta farpela
    que é protocolar
    de cabeça à vela
    so oiço gritar

    Ó careca
    ó careca
    tira a boina
    que é moda andar em cabelo
    com a breca
    tira a tampa da careca
    que a careca não tem pelo

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  3. Quito, estou farto de me rir.
    Vá lá que ele ainda foi cuidadoso ao escolher a pulga... Vê lá se tinha sido uma peça de caça maior... Era cá uma pega de caras...

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  4. O Quito deixa soltar a pulga só para nós fazer rir!

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  5. Versos à parte é um texto com piada, mas que demonstra a vida de certos feirantes chamados da venda da "banha da cobra" que cura todos oa males!

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  6. Não estou aqui para aldrabar ninguém, batam duas vezes por dia durante 8 dias e a cura é completa! Se não resultar venha aqui na próxima feira e devolverei o dinheiro!
    Pelo preço de 5 mil reis não leva uma, nem duas, mas sim três!
    Obrigado freguês!

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  7. Comprem meninas comprem castanhas ao Castanheira de Braga ...se não tiverem dinheiro peçam emprestado que eu recebo na mesma ...

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