sexta-feira, 21 de setembro de 2018

A LAVADEIRA PRECOCE




 A lavadeira precoce

Eu mal saíra da segunda infância (os entendidos dizem ser esse período  dos 3 aos 6 anos) e minha mãe já  colocara diante de mim uma árdua tarefa: lavar uma rede (aliás, muito comum o seu uso no Brasil, em todas as regiões. Embora de origem ameríndia,  índios que habitavam as terras brasileiras, antes mesmo do Descobrimento, já se utilizavam da rede. “Herança” do Brasil Colônia, além de ser utilizada para dormir, servia para enterrar os mortos no meio rural e até mesmo como meio de transporte, sendo que os escravos é que carregavam os colonos em passeios pela cidade e até em viagens. Um tempo cruel, que  já passou!).


Voltando ao assunto da tarefa, antes que eu divague no assunto do escravagismo, lembro-me perfeitamente quando ela me mostrou a rede que eu deveria lavar. O seu comprimento era maior do que o meu cinco vezes. Nem me perguntou se eu conseguiria lavar e já foi me dizendo como fazê-lo.  Estendeu a rede no piso feito de cimento, deu-me sabão em barra,  uma pequena escova e um balde, que serviria para colocar água . 


Em segundos,  demonstrou-me como eu deveria fazer e, o mais importante: COMO ela queria que ficasse a rede!


Lavei aquela rede toda, joelhos no chão, escova vai, escova vem; enche balde d´água, derrama balde d´água, n´um tempo interminável.

A ordem era para chamá-la somente quando eu tivesse terminado a tarefa, que ela viria para me ensinar a “torcer” a rede (devido à minha estrutura física, eu não conseguiria, levantar aquela rede, que, molhada, triplicou o peso).


Mamãeeee, terminei!”, gritei,mas com muito medo de ela achar que estava “lavado igual a minha cara”, como as mães se referiam, àquela época, quando um filho fazia algo malfeito.


Mas o que ouvi foi: “Não está bem, mas na próxima já lavará melhor”.


E, pegando a rede por um dos punhos, colocou estes em um galho e me disse para pegar na outra ponta da rede e ir enrolando-a, até que toda a água fosse retirada (mesmo procedimento que se faz para extrair o tucupi da mandioca, por meio do tipiti). Lembro-me da minha dificuldade em ir enrolando aquela rede, até extrair o excesso de água.


Feito isso, ajudou-me a estender a rede em uma vegetação rasteira, que se mantinha no fundo do nosso quintal, para secar ao sol.


Ainda costumo ter redes em minha casa. Em dias de muito calor, mesmo com o ar condicionado ligado, a rede torna o descanso mais... fresco. No entanto, quando necessário serem lavadas, já não preciso fazer o “sacrifício” de outrora. Apenas coloco a rede em uma máquina de lavar e, questão de menos de uma hora, a rede sai bem limpa... e quase seca. 

Então,só colocar no varal e deixo que o sol faça o restante do trabalho.

Mas essas lembranças todas só me fazem reforçar  como a educação dos nossos pais, apesar das "pressões" e "obrigações", eram até divertidas, e de como suas lições nos são válidas, sob todos os aspectos.

Chama a Mamãe.




8 comentários:

  1. Eram tempos em que se dizia que «o trabalho do menino é pouco, mas quem o perde é louco»...Também de pequenita fui habituada a fazer determinadas tarefas em casa - quando chegava da escola tinha, invariavelmente, a louça do almoço para enxugar e, de seguida, o chão da cozinha para esfregar; ao sábado, ia para junto da minha Avó aprender a lavar a roupa no tanque...Na época, eu refilava, tinha colegas que saiam da escola e iam brincar e eu...
    Quando cresci, percebi que todas aquelas tarefas 'horríveis' me prepararam da melhor forma para enfrentar a vida sem ajudas - e, sem obrigar, ensinei os meus filhos a fazê-las.
    Mas, no céu esteja quem inventou as máquinas de lavar roupa e louça! :)

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    1. É verdade. Com essa vida corrida nas grandes metrópoles...a tecnologia vem nos salvar, deveras.

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  2. Linda e real descrição das tarefas que as nossas mães nos impunham mas encaravamos como necessárias e nada de refilar... Uma das obrigações era polir a caldeira e os amarelos do fogão a lenha com solarina, tudo bem esfregado até ficar a luzir! Cada qual com suas recordações dumas infâncias distantes. Beijinhos para vós,Chama a mamãe e Teresa.

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    1. Como agora acontece o mesmo mas com saída noutra grande metrópole, limitei-me a fazer saír normalmente.

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  3. Agora, as criancinhas exigem rede... para os seus telemóveis!

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  4. Também tive uma infância com obrigações, mas não eram assim tão pesadas...
    Nesse tempo eram mais para as meninas: lavar a louça, lavar o chão por exemplo.
    Para mim sobrava ir levar as cabras a pastar durante 2 horas...mas para perto da casa ou nas "fazendas" pôr as batatas e o adubo no "rego" que o serviçal agrícola abria e quando da "apanha" das mesmas contribuir com o meu esforço a ensaca-las!
    Também tinha a meu encargo(época de 40) ir para a fila da água nascente na fonte...Por vezes levava horas para chegar a vez, pois o fio de água era pequeno.
    Ah, pois não havia água canalizada, nem esgotos...e por aqui me fico!

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  5. São as memórias de infância que todos temos. Uns de uma forma e outros de outras. Obrigado pela colaboração. Um abraço ...

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