segunda-feira, 23 de maio de 2016

EM LOUVOR DOS AÇORES ...






  Imagem do Senhor Santo Cristo - Ícone dos Açores ...

 O arquipélago dos Açores é o paraíso na Terra. É a minha convicção, depois de já ter calcorreado um pequeno pedaço de mundo. Mas uma opinião é apenas isso mesmo, suscetível de contraditório, sobretudo daqueles que conhecem todos os cantos do planeta.


Naquele dia, o meu paraíso chamava-se Angra do Heroísmo. Lá, no Terceira Mar Hotel, eu olhava do meu quarto o mar e a fila de carros e camionetas de turismo que, naquele domingo de sol, demandavam o Monte Brasil.


À tarde parti, na descoberta daquela pérola do Atlântico. Percorri ruas estreitas e empedradas e convivi com o silêncio. Olhei, em janelas fechadas, placas de médicos e advogados que exercem a sua profissão na ilha. Vi gente simples que comigo se cruzava e me cumprimentava num gesto de cortesia, naquele sotaque tão particular.


Desaguei no cais, onde pequenos veleiros aguardavam novas aventuras. Olhei a igreja branca debruada a azul, cofre da religiosidade arreigada de um povo, que ergue as mãos ao Céu quando o chão treme de fúria.


Do Monte Brasil, vi campos verdejantes a perder de vista, com a cidade aninhada a meus pés. Algo de idílico que me transportou para uma dimensão irreal, não fosse a buzina atrevida da camioneta de passageiros a intimar-me a partir. A resmungar regressei, porque o que eu queria mesmo era deitar o relógio fora, como quem dá um pontapé no Tempo.


Ao hotel regressei de novo, já a tarde desfalecia para um serão acolhedor. Sentado numa sala confortável, eu via chegar gente da cidade. Cidadãos e cidadãs da ilha, que se reuniam no hotel para conviverem depois da azáfama da semana. Tinham a preocupação do vestuário aprimorado – sobretudo o elemento feminino – como se aquele momento de lazer tivesse algo de protocolar.


A solidão aguça a vontade de se reunirem, de tocar piano e de cantar em conjunto, numa espécie de braço de ferro e de rebeldia contra o seu isolado destino no meio do mar Atlântico.


Da Terceira, fica-me o encantamento. Do Faial, recordo o vulcão dos Capelinhos, o seu farol - mártir, e a terra negra de uma Natureza zangada. A caminho do Pico, a atribulada viagem de barco em mar picado. Naquele dia, havia “Mau Tempo no Canal”. Era Nemésio presente. Do Pico, a odisseia dos pescadores e a serra mais alta de Portugal. E os parques de merendas de canteiros floridos.


De São Miguel, a larga avenida empedrada e a imagem sofrida do Senhor Santo Cristo, resguardada de larápios por um gradeamento robusto, pelas dádivas dos Crentes que é preciso acautelar. Muitos deles – a esmagadora maioria - são açorianos, a viver do outro lado de um oceano de saudade. Da Devoção de um povo levada até ao limite, se é que a Fé é algo de mensurável.


Parar na singela casa de Natália. Relembrar a sua vida, amassada na força das palavras. Visitar num deslumbramento, a Lagoa das Sete Cidades e a Lagoa do Fogo. Depois, de novo partir, ao encontro de um roteiro gastronómico.


Passear por entre fumarolas a cheirar a enxofre, com a água a borbulhar junto dos nossos pés. Um toque de mistério, digno de um filme de Hitchcock. Então, sentados à mesa de um qualquer restaurante, provar o paladar do “cozido” das Furnas.


Dos Açores fica uma emoção. Também da vontade de voltar. De visitar os “Impérios”. De provar a sopa do Divino Espirito Santo e de abraçar um povo solitário e solidário disperso por nove ilhas belas. Quando a utopia deixa de fazer sentido aos olhos do viajante sensível às ofertas de uma Natureza generosa.


De abraçar o mar. O mar histórico dos Açores e dos seus momentos de pacífica convivência com os ilhéus. Mas também com os seus quadros de tragédia. Afinal, tudo o que é a impressão digital dos habitantes das ilhas, a que não é alheia a sombra protetora da Mão Divina, sempre presente nos corações de quem está habituado e conviver e a aceitar com a força da sua Fé, todas as armadilhas e caprichos do Destino.

Quito Pereira           

        


16 comentários:

  1. Uma maravilha. Fui-te acompanhando no teu divagar, Quito. Obrigado pelo texto.

    É derivado aos açoreanos que Montreal tem a única procissão de rua a quando das festas anuais do Senhor Santo Cristo. Vêm muitos turistas para assistir a esta procissão.

    ResponderEliminar
  2. E não falas de S Jorge a única das 9 ilhas de que conheço cada metro quadrado. Olha que não é só queijo e fajãs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não conheço S. Jorge, caro amigo. Com pena minha. Para Leiria vai aquele abraço ...

      Eliminar
  3. Também estou nessa: lindo, Quito!
    Dizes tu que o arquipélago dos Açores é o paraíso na Terra.
    Também já calcorreei um pedaço do mundo e, sobretudo, calcorreei bem este luso torrão à beira-mar plantado. Mas, desgraçadamente, por isto ou aquilo, sempre fomos adiando uma ida aos Açores. E há adiamentos que não se devem fazer, sob pena de se deixar escapar, entre os dedos, o momento que deveria ter sido agarrado com ambas as mãos.
    Lamento não poder fazer o contraditório, convicto de que nunca o faria...
    Toma lá aquele abraço.

    ResponderEliminar
  4. Açores para mim é canja. Foram praí 4 vezes ou menos.
    Uma delas foi esta
    http://tunameliches.blogspot.pt/2010/03/o-coiso-nos-acores-1998.html#comment-form

    ResponderEliminar
  5. Gostei! E o curioso é que hoje, antes de ler este texto, eu e a Daisy decidimos voltar aos Açores.
    Já lá estivemos duas vezes, mas não há duas sem três.

    ResponderEliminar
  6. Sim, Quito, os Açores são tudo isso e muito mais.
    Belezas indescritíveis que tu consegues descrever!!!
    Um lugar onde se volta sempre.

    ResponderEliminar
  7. Tudo como descreves!
    Além das que já aqui referi, também lá estive uma semana(ou mais?), com base em casa do meu irmão em Angra do Heroismo, ao tempo gerente do Banco de Portugal. Desta base percorremos várias ilhas :São Jorge, Pico, Faial, Terceira e mais uma vez Ponta Delgada

    ResponderEliminar
  8. Retrato maravilhoso. Estive em 90 e 91 profissionalmente em Angra na Terceira. Numa tarde de verão encontrei um grupo de cerca de 50 pessoas, na casa dos 65-70 anos , do nosso Bairro, que andavam a conhecer os Açores. Escusado será dizer que tive de fazer de cicerine.
    Uma delas julgo era o Sr Agostinho Pereira , mas não tenho a cerezeza, já lá vão 25 anos. Bons tempos ..
    Cordiais saudações
    Jorge Cruz / Rua Chaimite

    ResponderEliminar
  9. Curioso. Hoje estive com o Sr Agostinho de Deus Pereira, pai do Quito.
    Numa missão com o Presidente do Centro Norton de Matos. Em breve será publicado a foto e a finalidade da missão.
    Abraço Jorge Cruz

    ResponderEliminar