quarta-feira, 27 de junho de 2018

COIMBRA EM REVISTA DA TAP - SEGUNDA PARTE

COIMBRA, A SÁBIA- SEGUNDA PARTE
REVER PRIMEIRA PARTE

6- RIVE GAUCHE
Se Shakespeare soubesse da história de amor de D. Pedro e Dona Inês tinha poisado a pena na hora de escrever a tragédia Romeu e Julieta. Luís de Camões e Victor Hugo foram dois dos muitos escritores que imortalizaram a história (com alguns trechos de lenda) deste amor eterno. Em resumo, o enredo desenrola-se assim: ele, D. Pedro I, herdeiro da coroa de Portugal; ela, Dona Inês de Castro, galega, aia da mulher de D. Pedro e amante do príncipe herdeiro. O romance, repudiado pela corte – por pôr em causa a continuação da independência –, teve trágico desfecho quando, por ordem do rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro, Inês foi assassinada. Pedro perseguiu e matou os carrascos de Inês e corou-a rainha depois de morta. A Quinta das Lágrimas, que foi o lugar dos encontros secretos de Pedro e Inês, é hoje um hotel de charme que guarda ainda a mística mata e as românticas fontes onde os amantes namoravam. Bem perto do grande palco do amor de Pedro e Inês, fica o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. As recentes obras de revitalização trouxeram novo brilho aos terrenos do mosteiro que as cheias sacrificaram. Visite o museu e descubra o fulgor da vida monástica das Irmãs Clarissas e das damas que aqui se refugiaram. Depois saia à rua e aprecie as ruínas da igreja gótica do século XIII e do Paço de Dona Isabel de Aragão – a rainha que protagonizou o Milagre das Rosas e que o Vaticano canonizou. Regularmente, o mosteiro recebe concertos, espetáculos de dança e de teatro e também sessões de cinema. Depois do abandono em definitivo de Santa Clara-a-Velha, em 1677, as irmãs mudaram-se para Santa Clara-a-Nova, casa em terrenos imunes ao risco de cheia que fica dois quilómetros adiante. No altar-mor da igreja de Santa Clara-a-Nova está o túmulo em prata onde jaz o corpo incorrupto da Rainha Santa, padroeira da cidade. O túmulo original, que a própria mandou esculpir ainda em vida, é bem mais singelo e está na sacristia da igreja. Nele a rainha aparece vestida com o seu traje de peregrina. Nas dependências do mosteiro existe ainda um albergue para os peregrinos do Caminho Português de Santiago. De dois em dois anos, a 4 de julho, acontece a festa da Rainha Santa, que junta milhares de fiéis numa procissão que sai de Santa Clara-a-Nova. Outra das coqueluches da margem esquerda do Mondego é o caricato Portugal dos Pequenitos, uma ideia do Professor Bissaya Barreto. Viaje ou não com crianças, entre e divirta-se nesta minirréplica do património arquitetónico e cultural de Portugal. Quinta das Lágrimas \\\www.quintadaslagrimas.pt Mosteiro de Santa Clara a Velha \\\ www.santaclaraavelha.drcc.pt Portugal dos Pequenitos \\\ www.portugaldospequenitos.pt ::

7 - COIMBRA DO CHOUPAL
mortalizada na canção de Coimbra, a Mata Nacional do Choupal é uma reserva ecológica com 79 hectares onde vivem espécies como o milhafre-negro, a garça-real e o mergulhão, javalis, raposas, texugos, lontras e répteis como a cobra-de-água-viperina. A flora é composta sobretudo por choupos, plátanos e cedros dos pântanos. O Choupal nasceu nos terrenos da antiga mata de Coimbra, na periferia da cidade, no século XVIII, para estabilizar as águas rebeldes do Mondego. Passear pela mata é um dos passatempos prediletos dos coimbrões. Outro jardim de eleição fica em plena malha urbana: falamos do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, criado por determinação do Marquês de Pombal em 1772 com o objetivo de complementar o estudo da História Natural e da Medicina. Nos seus 13 hectares há espaço para as escolas sistemáticas (canteiros medicinais), para um bambuzal, para um pomar, para alamedas como a das Tílias, para uma imensa área de mata, jardins tropicais e estufas – a estufa grande é um dos mais esplendorosos exemplares da arquitetura do ferro em Portugal. Um pouco por todo o lado há estatuária consagrada a figuras ligadas ao jardim, como a do botânico Avelar Brotero. Antes de mudarmos de jardim, espaço para mais duas curiosidades: o portão principal, da autoria de Mestre Galinha, dá mote à sacramental pergunta feita aos caloiros de Coimbra, na praxe académica (”Preto é, Galinha o fez, em Coimbra?”) e a árvore-de-tulipa (Liriodendron tulipifera), que os estudantes chamam a árvore-do-ponto porque a flor rebenta em maio, a tempo de os avisar que é hora de começar a estudar para os exames. O Parque de Santa Cruz, mais conhecido por Jardim da Sereia, também mora no coração da cidade, em terrenos que em tempos que já lá vão pertenciam ao Mosteiro de Santa Cruz. No século XVIII, D. Gaspar da Encarnação transformou-o num espaço de lazer, com um campo de jogos e uma área em estilo barroco destinada ao descanso e à meditação. À beira do Mondego surge outro jardim, o Parque Verde do Mondego, onde, além dos espaços arborizados, encontra as modernas “docas”, com animação garantida. Jardim Botânico \\\ www.uc.pt/jardimbotanico Parque Verde do Mondego \\\ www.parqueverdedomoondego.pt

8 - COIMBRA É UMA CANÇÃO
Foi beber ao cancioneiro e à música popular, às modinhas e a géneros musicais importados da Europa central. Também foi inspirar-se no fado de Lisboa e acabou – por moda, por convenção, por facilitismo (vá-se lá saber!) – a ser chamada fado de Coimbra. Jorge Cravo, sumidade no assunto, explica: “o fado de Coimbra não existe, existe sim, a canção de Coimbra. Nascida de um caldeirão de influências teve o seu primeiro momento áureo na década de 20 do século passado, quando o músico [e poeta da venerável revista Presença] Edmundo Bettencourt e o seu amigo e guitarrista Artur Paredes romperam com o lirismo da canção imposto por Lucas Junot, brasileiro a estudar em Coimbra”. Mais tarde, na década de 50, Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira usaram o género em baladas de intervenção e algures nos anos 60 Luís Goes recupera o modernismo de Bettencourt e imprime-lhe uma temática universal. “A canção de Coimbra – como o doutoramento honoris causa, as repúblicas, a investidura do Reitor e tantas outras tradições académicas –, faz parte do pacote imaterial da candidatura da Universidade de Coimbra, da Alta e da Sofia a Património Mundial da Humanidade”, acrescenta Jorge Cravo. É também ele quem nos explica que há um mundo de diferenças entre a sonoridade da guitarra de Coimbra e a de Lisboa. A esse propósito vem à baila Carlos Paredes, autor de Verdes Anos e de Ser e Morte, que emancipou a guitarra de Coimbra e a tornou universal. Se quer juntar ao seu iPod alguns temas imortais da canção de Coimbra, anote os seguintes títulos: Coimbra é uma lição (Avril au Portugal), Saudades de Coimbra, Balada da Despedida, Fado Hilário e Samaritana. Se passar por Coimbra em maio, junte-se às hordas de estudantes e de curiosos que enchem as escadas da Sé para ouvir e ver a Monumental Serenata da Queima das Fitas, momento alto do ano académico. À Capella

À CAPELLA
Foi uma ermida, uma capela e até uma sinagoga, mas hoje, na Capella o culto que se presta é à Canção de Coimbra. Todas as noites, os músicos da casa levam-no numa fabulosa viagem musical. Não se negue este pequeno (grande) prazer. www.acapella.com.pt

9 - TALHERES AO ALTO
Três vivas para a tibornada e para a chanfana, receitas com história e tradição na Beira Litoral. A primeira é descendente das típicas ceias que se faziam nos lagares em dia do primeiro azeite. O costume de comer bacalhau assado desfiado com batatas a murro, regado com azeite e alho ficou até hoje. A segunda tem uma história curiosa. Quando, no início do século XIX, as tropas de Napoleão Bonaparte se instalaram por estas bandas, roubaram o melhor gado dos pastos, mas o povo, desenrascado, agarrou nas cabras velhas, cozinhou-as em vinho tinto e não passou fome. O pitéu continua a ser cabeça de cartaz nos melhores e mais típicos restaurantes de Coimbra. E se de restaurantes está bem servida, a cidade tem pena de ter deixado esmorecer as tabernas, outrora centro nevrálgico da vida social e académica da cidade, onde futricas e estudantes se encontravam para conversar, beber e petiscar. Das que sobreviveram, sobretudo na intrincada malha de vielas da “Baixinha”, recomendamos as sandes de leitão do Portas Largas (Rua das Padeiras, 35) e os petiscos da intemporal tasca Mija Cão (Rua Nova, 8). No campo dos doces, o receituário conventual é rei e senhor. Destaque para os pastéis de Santa Clara, recheados com doce de gemas, que nasceram no mosteiro e que não ficam nem um pouco atrás dos igualmente famosos pastéis de Tentúgal. Experimente também os crúzios, delícia de ovos e amêndoa que renasce de uma receita centenária recuperada pelo carismático Café Santa Cruz. Convém ainda referir duas iguarias que abundam pelas redondezas. Uma é a lampreia, cuja época vai de janeiro a abril; outra, o leitão da Bairrada. Se quiser saborear o típico arroz de lampreia (uma espécie de aspeto semelhante à enguia), o restaurante O Marinheiro, em Montemor-o-Velho, é uma boa opção. Para (com)provar que a fama do leitão da Bairrada é mais do que justificada, passe pela Nova Casa dos Leitões (Estrada Nacional 1, 118 – Peneireiro).

A TABERNA
Ambiente familiar e receitas consagradas confecionadas em forno de lenha. A Taberna não precisa de mais para ser um dos melhores e mais premiados restaurantes de Coimbra. As pratas da casa são o cabrito, a vitela à Lafões, a conserva de porco e a chanfana. Se preferir peixe, nada como o bacalhau com batatas a murro. Reserva mais do que recomendada. Rua dos Combatentes da Grande Guerra, 86 – Coimbra +351 239 716 265 www.restauranteataberna.com

NACIONAL
Incontornável da cidade. Gostámos especialmente dos filetes de tamboril com arroz de berbigão e do arroz de pato à antiga. Rua Mário Pais, 12 1º andar – Coimbra +351 239 829 420

ARCADAS DA CAPELA
Uma viagem gastronómica absolutamente imperdível comandada por dois chefes de renome: Albano Lourenço e Joachim Koerper. No Arcadas da Capela pratica-se uma cozinha de mercado e a carta flutua consoante as estações. Aceite a sugestão e acompanhe o repasto com o romântico vinho tinto Pedro&Inês. Quinta das Lágrimas – Coimbra +351 239 802 380 www.quintadaslagrimas.pt

A PORTUGUESA
Peixe fresco da lota, todos os dias sem exceção! Peixe grelhado na brasa, arroz de marisco e açorda de camarão estão sempre na ordem do dia. Parque Verde do Mondego – Coimbra +351 239 842 140 www.aportuguesa.pt

9- AQUI TÃO PERTO
Não se vá embora sem visitar cinco magníficos lugares nas redondezas de Coimbra. Em Conímbriga, visite as ruínas da cidade romana fundada no século I a.C. que foi uma das mais prósperas de toda a Península Ibérica. Dê também um pulo a Montemor-o-Velho para espreitar a encantadora vila presépio encimada por um castelo medieval. Não lhe damos só um, mas mil e um motivos para passar pela Figueira da Foz, cidade voltada para o mar onde tradição e modernidade andam lado a lado. Passe pelo Casino, mergulhe no Atlântico, coma o melhor peixe do mundo e dê um passeio pelas salinas ou pela rota dos monumentos megalíticos. Recupere energias nas Termas da Curia e depois vá até à fantástica Serra do Buçaco, uma mata a 500 metros de altitude e a 40 quilómetros do Atlântico que no coração tem um hotel [o Palace do Bussaco] construído para o luxo dos finais da Belle Époque.. Conhecê-la a bordo de um carro clássico – BMW vintage, Morris ou até mesmo um Volkswagen carocha (fusca para os brasileiros) – é uma das várias propostas que pode encontrar na Fundação Mata do Buçaco. Fundação Mata do Bucaço \\\ www.fmb.pt Figueira Grande Turismo \\\ www.figueiraturismo.com Conímbriga \\\ www.conimbriga.pt Montemor-o-Velho \\\ www.cm-montemorovelho.pt Curia \\\ www.termasdacuria.com
                                                                                                                                              Por Maria Ana Ventura

3 comentários:

  1. Falta, quanto ao Choupal, uma referência aos séculos em foi ma ilha entre o rio velho e o rio novo. O rio velho (norte) foi fechado e nessa obra foram empregues os pinheiros de Vale de Canas que então foi repovoado com as espécies que hoje, mais de um século depois, ainda por lá continuam.

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  2. Excelente. Na continuidade da primeira parte. Obrigado.
    Abraço.

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