terça-feira, 10 de maio de 2011

A LENDA DO REI WAMBA ...

" ... a lenda do Rei Wamba, perde-se na bruma dos séculos ..."

“Quem vem de longe, das terras frescas do litoral, onde o verde salpica os olhos e se debruça nas estradas, e após a transição das ravinas do Zêzere, encontra uma paisagem que passo a passo se atormenta: a Beira Baixa”. E é assim, pelos olhos e pela pena de Fernando Namora, que rumamos ao interior de Portugal e vamos ao encontro do Castelo do Rodão, também conhecido pelo Castelo do Rei Wamba. Começamos a viagem em Vila Velha de Rodão, bonito e aprazível recanto à beira Tejo plantado, para, por uma estrada municipal de piso razoável e serpenteando serra acima, calcorrearmos caminho por entre a aridez da paisagem, entrecortada com floresta de eucaliptos e pinheiro bravo. No alto, vislumbra-se o torreão de um castelo. Um pequeno castelo. Chegados ao local, a impressão é muito positiva. Um largo com bancos, uma modesta capela, e um singelo caminho empedrado, leva-nos até ao Castelo do Rei Wamba, último grande rei guerreiro dos Visigodos, que governou entre 672 e 680, tendo falecido no ano de 687. O monumento, outrora degradado, foi objecto de obras de restauro, apresentando-se hoje imponente, apesar da sua singeleza. A seus pés, num varandim preparado para o efeito, pode o viajante repousar a vista pelo Vale do Rodão e as suas famosas Portas alcantiladas. Um refúgio por onde nos vagueia a alma em minutos sem fim, enquanto o calor aperta e o barulho monocórdico das cigarras, contrasta com o doce e tranquilo correr do Tejo, em direcção ao mar. A paisagem é deslumbrante, e dá vontade de ali ficar, até a vista nos desfalecer na retina com o recolher do sol, e a lenda do Rei Wamba se cobrir com o negro manto das noites escuras. Diz a lenda, que o Castelo era a guarda avançada da Egitânea. Do outro lado, vivia um rei mouro, por quem a mulher do Rei Wamba se apaixonou perdidamente. O amor era recíproco. Decidiu então o rei mouro, fazer um túnel por baixo do rio Tejo, por onde pudesse raptar a sua amada. Mas os cálculos falharam e o túnel saiu à superfície, à vista dos olhos de toda a gente. O Rei Wamba, enfurecido, resolveu então oferecer a mulher ao rei mouro, atando-a previamente à mó de um moinho, que lançou pela escarpa abaixo em direcção ao rio . Conta a lenda, que por onde a mó passou, nunca mais cresceu vegetação. E assim termina, de forma funesta, a lenda do Rei Wamba, grande guerreiro e conhecedor da ciência das pedras, uma outra lenda que um dia Vos hei - de contar. De regresso, vamos ao encontro da aldeia de xisto de Foz de Cobrão. As casas, caiadas de branco e telhados laranja, contrastam com o castanho - escuro dos campos de cultivo e dos olivais em socalco, sendo de destacar a qualidade do azeite desta região. Ao longe, por entre o sereno planar das águias, grifos e cegonhas, o trinar do sino da igreja arrasta-se pelos campos em redor, percorrendo léguas de solidão, do anoitecer à alvorada de um Tempo Infinito. Do rei Wamba e das suas gentes, fica uma lenda transversal aos séculos. Esculpida a escopro e cinzel no imaginário do povo. Memórias que perdurarão para sempre. Memórias de um Tempo Ausente. Memórias de Pedra …
Q. P.

8 comentários:

  1. Na alameda ao lado do Museu do Prado, em Madrid, existe uma estátua que, há muitos anos, me despertou a curiosidade por conter uma inscrição a identificá-la como sendo a estátua do Rei Vamba, visigodo.
    Sucede que pouco tempo antes eu tinha visitado Vila Velha de Ródão, onde fiquei a conhecer a curiosa lenda do Rei Wamba que o Quito agora aqui nos trouxe.
    A semelhança do nome, que só difere na grafia, foi a razão da minha curiosidade.
    Indaguei e fiquei a saber que se tratava da mesma figura histórica, celebrizada pela liderança do povo visigótico que sob o seu comando ocupou boa parte da Península.
    Nunca mais me esqueci do essencial da lenda. Soube-me bem agora recordar os pormenores já esquecidos que o Quito tão bem descreve, enquadrando-os com as imagens da paisagem única e deslumbrante que só ele é capaz de nos transmitir.

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  2. Gostei! Desconhecia completamente a Lenda e a Foz do Cobrão.

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  3. Aprecio as lendas, que ficam num limbo entre a realidade e a ficção.
    Deliciei-me a ler e a ler-te!

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  4. Sob o pretexto de nos contar uma interessante lenda, o Quito desenvolve perante nós todo o seu apaixonado olhar por terras da Beira Baixa.
    Apaixonado, transmite-nos a sua paixão.
    Confesso que já fui "cheirar" à Net a Foz do Cobrão.
    Delicioso recanto.
    Abraço.

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  5. Boa escrita, como de costume, uma Lenda que desconhecia e uma aula de história!

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  6. Boa ideia. Os artigo do Quito são daqueles que uma pessoa lê e relê com muito agrado e também serve para se ir vendo a evolução no tempo pois desta vez já fechou o restaurante do Vale Mourão. Não me importo de o lêr mais vezes. Um abraço.

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  7. Uma vez que o meu comentário de doze deste mês desapareceu e não há nada a dizer que foi retirado, tudo me leva a crer ser obra do "crash", pelo que o reponho.

    Boa ideia. Os artigo do Quito são daqueles que uma pessoa lê e relê com muito agrado e também serve para se ir vendo a evolução no tempo pois desta vez já fechou o restaurante do Vale Mourão. Não me importo de o lêr mais vezes. Um abraço.

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