terça-feira, 13 de outubro de 2015

DOCE EQUÍVOCO ...



 Exclusivo a gulosos ...


 A reportagem era doce, como se veio a constatar. Em um dos muitos canais de televisão que todos os dias nos despejam casa adentro telenovelas, anúncios de milagrosos comprimidos para emagrecer, discursos repetitivos de treinadores de bola e políticos em disputa para ver quem grita mais alto, por vezes aparecem cenas hilariantes.

Este episódio aconteceu na semana que antecedeu o dia das eleições, num canal de televisão muito dado a sensacionalismos, uma espécie de jornal do crime, onde é feito o relatório dos tiros, facadas, raptos e pancadaria do dia anterior. Também com comentadores de futebol em zaragata pelos seus pontos de vista e simpatias desportivas. É claro que também sobra algum espaço noticioso para a política e, naquele momento eleitoral, as atenções estavam centradas nas campanhas dos partidos concorrentes.

Ela, a locutora, por sinal nova e atraente, lá ia debitando notícias da campanha. Quando chegou a vez de falar sobre o atarefado dia da coligação que ocupava o poleiro da lusitana capoeira e que visitava o centro do país, a menina de riso fabricado disse que ia estabelecer um direto. E assim foi …

Houve um pequeno hiato de tempo, até que no écran da televisão, apareceu um  jovem jornalista de rosto assustado, olhos arregalados, faces mirradas de susto e ar serrano, vestindo uma capa de plástico branca e um barrete a condizer na cabeça, o que lhe dava o aspeto bizarro de cirurgião numa sala de operações. Neste caso, de uma operação que correu mal, como adiante se verá:

O rapaz, logo à primeira vista se percebeu que nunca se tinha visto naquelas lides e estava pouco menos que aterrorizado de se ver a ter que falar para um câmara de televisão em direto com milhões de olhos a observá-lo.

Então, com o microfone agarrado na mão trémula, tentava falar mas a voz saía-lhe aos trambolhões como um disco de vinil riscado, até que conseguiu articular a custo esta pérola de notícia:

- Estamos aqui na campanha de Passos Coelho, diretamente de Arganil, a visitar a fábrica dos pastéis de Tentúgal …

Um erro ou uma confusão comprometedora, não sendo liquido que a referida unidade não fabrique, entre outros doces, uma réplica do pastel genuíno, o que não pareceu ser o caso. De qualquer forma, as desaparecidas freiras de Tentúgal do tão guardado segredo de confeção da iguaria, devem ter dado três voltas na tumba.

Depois, o  espavorido repórter, desapareceu da frente da câmara, que ficou a filmar a estrutura que sustentava as telhas do complexo fabril. Um grande momento televisivo, de profunda meditação para a massa anónima que se preparava para meter o seu voto nas urnas.

A ligação acabou abruptamente e a locutora lá continuou a falar da campanha de outras forças concorrentes, desta vez com um sorriso  amarelo. Tão amarelo como o recheio saboroso dos deliciosos pastéis da simpática vila de Tentúgal, a meio caminho entre a Cidade Estudantil e a bela Praia da Claridade.
Quito Pereira    

2 comentários:

  1. O Quito sempre atento, não deixou passar esta tão apreciada informação sobre os pasteis de Tentugal. Até eu fiquei amarelo, só que não me soube a nada.

    Por aqui também há eleições na próxima segunda feira, se bem que três milhões já votaram por antecipação pois não é preciso nenhuma justificação, o que facilita muito o dia do voto.
    Só que como há quem vá votar de niqab, tem aparecido de tudo a votarem com a cara tapada: vestidos como as figuras de Walt Disney, um saco de batatas sobre a cabeça, niqabs, etc. Só são obrigados a identificarem-se a uma pessoa da mesa em privado e depois votam. É uma alegria. Só que o problema à primeira vista, é que para alterarem esta situação, teriam que alterar ou anular a possibilidade de voto por correspondência. Evoluções dos tempos que correm.

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  2. Pois a sucedido nesta reportagem sobre politica(nada politica dura...) antes deliciosa, serve bem para demonstrar quanto o Quito gosta de falar sobre politica(não aqui...) em conversa ao vivo, dá-lhe sempre um toque "doce", que por vezes me deixa da cor do recheio dos pastéis de Tentúgal!
    Seria talvez mais apropriado o rapaz do directo dizer, que estava na campanha de Passos Coelho a visitar uma fábrica de "esfolar coelhos"
    Ou seria que estava a visitar uma fábrica de fazer telhas... e deu-lhe na "telha" dizer que era de pastéis de Tentúgal!
    Mas o mote "Doce equivoco" permitiu a saída de uma postagem ccom um episódio contado com graça!
    Não de graça, porque o Quito é dos que não perdoa o (não) recebimento de ajudas de cus(t)po!

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