Exclusivo a gulosos ...
A reportagem era doce, como se veio a constatar. Em um dos
muitos canais de televisão que todos os dias nos despejam casa adentro
telenovelas, anúncios de milagrosos comprimidos para emagrecer, discursos
repetitivos de treinadores de bola e políticos em disputa para ver quem grita
mais alto, por vezes aparecem cenas hilariantes.
Este episódio aconteceu na semana que antecedeu o dia das eleições,
num canal de televisão muito dado a sensacionalismos, uma espécie de jornal do
crime, onde é feito o relatório dos tiros, facadas, raptos e pancadaria do dia
anterior. Também com comentadores de futebol em zaragata pelos seus pontos de
vista e simpatias desportivas. É claro que também sobra algum espaço noticioso
para a política e, naquele momento eleitoral, as atenções estavam centradas nas
campanhas dos partidos concorrentes.
Ela, a locutora, por sinal nova e atraente, lá ia debitando
notícias da campanha. Quando chegou a vez de falar sobre o atarefado dia da
coligação que ocupava o poleiro da lusitana capoeira e que visitava o centro do
país, a menina de riso fabricado disse que ia estabelecer um direto. E assim foi
…
Houve um pequeno hiato de tempo, até que no écran da televisão,
apareceu um jovem jornalista de rosto assustado,
olhos arregalados, faces mirradas de susto e ar serrano, vestindo uma capa de
plástico branca e um barrete a condizer na cabeça, o que lhe dava o aspeto
bizarro de cirurgião numa sala de operações. Neste caso, de uma operação que
correu mal, como adiante se verá:
O rapaz, logo à primeira vista se percebeu que nunca se tinha
visto naquelas lides e estava pouco menos que aterrorizado de se ver a ter que
falar para um câmara de televisão em direto com milhões de olhos a observá-lo.
Então, com o microfone agarrado na mão trémula, tentava falar mas a voz saía-lhe aos trambolhões como um disco de vinil riscado, até que conseguiu articular a custo esta pérola de notícia:
- Estamos aqui na
campanha de Passos Coelho, diretamente de Arganil, a visitar a fábrica dos
pastéis de Tentúgal …
Um erro ou uma confusão comprometedora, não sendo liquido que
a referida unidade não fabrique, entre outros doces, uma réplica do pastel
genuíno, o que não pareceu ser o caso. De qualquer forma, as desaparecidas
freiras de Tentúgal do tão guardado segredo de confeção da iguaria, devem ter
dado três voltas na tumba.
Depois, o espavorido
repórter, desapareceu da frente da câmara, que ficou a filmar a estrutura que
sustentava as telhas do complexo fabril. Um grande momento televisivo, de
profunda meditação para a massa anónima que se preparava para meter o seu voto
nas urnas.
A ligação acabou abruptamente e a locutora lá continuou a
falar da campanha de outras forças concorrentes, desta vez com um sorriso amarelo. Tão amarelo como o recheio saboroso
dos deliciosos pastéis da simpática vila de Tentúgal, a meio caminho entre a
Cidade Estudantil e a bela Praia da Claridade.
Quito Pereira
O Quito sempre atento, não deixou passar esta tão apreciada informação sobre os pasteis de Tentugal. Até eu fiquei amarelo, só que não me soube a nada.
ResponderEliminarPor aqui também há eleições na próxima segunda feira, se bem que três milhões já votaram por antecipação pois não é preciso nenhuma justificação, o que facilita muito o dia do voto.
Só que como há quem vá votar de niqab, tem aparecido de tudo a votarem com a cara tapada: vestidos como as figuras de Walt Disney, um saco de batatas sobre a cabeça, niqabs, etc. Só são obrigados a identificarem-se a uma pessoa da mesa em privado e depois votam. É uma alegria. Só que o problema à primeira vista, é que para alterarem esta situação, teriam que alterar ou anular a possibilidade de voto por correspondência. Evoluções dos tempos que correm.
Pois a sucedido nesta reportagem sobre politica(nada politica dura...) antes deliciosa, serve bem para demonstrar quanto o Quito gosta de falar sobre politica(não aqui...) em conversa ao vivo, dá-lhe sempre um toque "doce", que por vezes me deixa da cor do recheio dos pastéis de Tentúgal!
ResponderEliminarSeria talvez mais apropriado o rapaz do directo dizer, que estava na campanha de Passos Coelho a visitar uma fábrica de "esfolar coelhos"
Ou seria que estava a visitar uma fábrica de fazer telhas... e deu-lhe na "telha" dizer que era de pastéis de Tentúgal!
Mas o mote "Doce equivoco" permitiu a saída de uma postagem ccom um episódio contado com graça!
Não de graça, porque o Quito é dos que não perdoa o (não) recebimento de ajudas de cus(t)po!