(Foto Net)
Do diário desportivo de maior audiência nacional e com a
assinatura de António Simões, aqui deixo com a devia vénia a história
desportiva da vida de Jorge Humberto, médico pediatra e futebolista de destaque
da Associação Académica de Coimbra na década de 60 do passado século:
"Se o primeiro português a jogar em Itália foi Francisco dos
Santos ( o escultor que fez a estátua do Marquês de Pombal) – o primeiro
português contratado para Itália foi Jorge Humberto".
Estava no Liceu em São Vicente, jogava na Académica do Mindelo
e Daniel Leite, seu professor e treinador atirou-lhe um desafio: “ tenta o
futuro em Coimbra que assim podes tirar curso.” Lamentou-lhe a falta de
dinheiro para a viagem, ser pobre, um de 11 irmãos. Não deixou porém de matutar na
ideia. Aluno notável, lembrou-se de pedir ao Governador de Cabo Verde uma bolsa
de estudo. Deu-lha por seis meses “ verba não tinha para mais”. Não regressou
ao Mindelo porque, ao cabo de seis meses, um carola da Académica o pôs a viver
em sua casa. Foi o primeiro júnior a receber subsídio para se poder manter em
Coimbra. Entrou em Medicina e instalaram-no na República onde vivera Zeca
Afonso – não tardou que Cândido de Oliveira o chamasse à primeira equipa (…).
Chegou-se a 1961. Estudava para o exame de Patologia, chamaram-no ao telefone.
Alguém se apresentou como Helénio Herrera, treinador que fora do Belenenses
para o Barcelona e no Inter de Milão estava a criar equipa para ganhar a Taça
dos Campeões Europeus. Pensando tratar-se de gozo, chutou a ligação para canto.
O telefone voltou a tocar e ele voltou a desconfiar: “ se é verdade mande-me um
telegrama então !”. Nem uma hora demorou a chegar – com o Inter a afirmar que o
queria pronto em Milão para jogar contra o Spartak. Correu a pedir ao professor
de Patologia Cirúrgica que lhe adiasse o exame. Adiou por oito dias. Chegou a
Milão e Herrera pô-lo a jogar e marcou 3 golos. Não fez o jogo seguinte contra
o Santos de Pelé para vir fazer o exame que faltava. 1 500 escudos era o que
ganha na Académica, dos 4 500 contos envolvidos na transferência, ficou
com 3 000. Comprou um prédio de 3 andares em Lisboa, pagou uma complicada
operação de uma irmã e ofereceu 1500 contos à Académica, que assim saldou
dívidas e ainda comprou um carro novo (…). Emprestado ao Vicenza Lanerossi, o Sporting
tentou contratá-lo e só desistiu porque lhe pediram 1 200 contos.
Percebendo-lhe o desejo de terminar o curso, libertaram-no com uma condição –
que regressasse à Académica de Coimbra. E assim regressou num Peugeot 404
novinho em folha, comprado com o último dinheiro ganho por lá, carregando com
todas as malas. Já formado em Medicina sofreu grave lesão num joelho e disse
adeus ao futebol em 1967. Foi para a tropa para o Leste de Angola (Moxico),
onde o MPLA era comandado por Daniel Chipenda, seu antigo companheiro na
Académica e que fugira de uma forma rocambolesca para a guerra. Durante o
período em que penou pela mata, o exército português não sofreu um único
ataque. Dizia-se que Chipenda impusera tréguas às suas hostes, por receio de uma
bala perdida o matasse.
Retornou a Coimbra em 1971, passou fugaz pelo comando
técnico da Académica. Especializou-se em Pediatria e em 1982 foi para o
Hospital de Macau, por lá ficando.
António Simões
Este texto veio à estampa no Verão deste ano.Casualmente, li - o num café em Lagos e pedi o artigo ao proprietário do café, o meu amigo Zé Manel.Na verdade, a minha intenção era precisamente copiá-lo para o teu blog por me ter parecido interessante.
ResponderEliminarUm abraço Rafael
Já conhecia a história, pois vem contada pelo próprio no Livro ACADÉMICA HISTÓRIA DO FUTEBOL de João Santana e João Mesquita.
ResponderEliminarMas contada no Jornal A Bola chegará a mais leitores e neste texto(um resumo alargado), o principal está cá quase todo.
O próprio Jorge Humberto a pedido dos editores do livro acrescenta mais alguns episódios interessantes da sua vida desportiva e não só.
. Recebeu o telefonema numa tarde de Julho do ano de 1961 e vivi então na Rua do Norte, 23 r/c, mesmo ao lado da Sé Velha. Casa de estudantes gerida por estudantes, funcionando como uma República, onde frequentemente recebiam a visita do saudoso Zeca Afonso.
Depois de feito o 2º telefonema, porque o 1ª tinha sido recusado e que deixou o senhor H.H. furioso, pois não admitia que duvidassem dele, começou a grande confusão " na minha cabeça"
-Perguntava-me a mim próprio porque é que tinha sido escolhido por aquele grande treinador. Jogar no INTER? Porque não? Eos Estudos? Mas lá também havia Universidades. E os amigos?. Mas lá se farão outros. Uma verdadeira confusão..
Os colegas da República ficaram todos contentes e não houve nenhum que não aconselhasse para eu aceitar..
............
A decisão foi tomada sobe a orientação Dr. Juiz Pinto Bastos e dop Prof Dr. Fernando de Oliveira professor da Cadeira de Patologia Cirúrgica., que adiou o exme até 31 de Julho.
Durante uma semana comecei a ir regularmente ao Campo de Santa Cruz, acompanhado do "Teórico de Futebol", meu grande amigo Dr. Francisco St Aubyn, para tentar recuperar alguma resistência fisica..
Depois lá voei até Milão, onde me esperava o Heleno Herrera e o Luis Suarez(que grande centrocampista)!....
Dois dias depois lá estava a pisar o Estádio de S. Siro, a jogar na posição de avançado centro na equipa de Picchi,Faccheti, Corso, Suarez, Hitchens, Buffon,Mazzola, Bolchi, etc,etc.
Jogo contra o Spartak da Jugoslávia,
O resultado foi de 5 a 1 e marquei 3 golos.
Três dias depois, no mesmo Estádio, iria jogar o Inter contra o Santos. Imaginem só- o Santos do famoso Pelé, mais famoso do que o nosso Eusébio....Foi-me pedido, com alguma insistência, que ficasse...Vontade não me faltou, mas tinha prometido ao Prof Fernando de Oliveira que voltaria antes de 31 de Julho para fazer o exame de Patologia Cirúrgica. Voltei a tempo de fazer o exame com boa classificação.
Foi uma rica experiência. Cresci muito, conheci novos mundos, fiz muitas amizades, estudei alguma Medicina em duas Universidades Italianas- Milão e Pádua- e finalmente, criei condições para repartir com muita gente(familiares e não só) os benefícios que uma transferência como a minha me touxe, aos 23 anos de idade.
.....Retomei os estudos, que concluí com boa classificação, em 1966. Voltei a jogar pela nossa Académica. Entretanto casei-me com uma estudante de Biologia, que ainda hoje é minha mulher inseparável. Dois filhos e com netos.
O resto vem no texto de António Simões, que tu em boa hora publicaste no blogue...para memória futura!
Realmente assim completaste a história da vida desportiva de Jorge Humberto. Quanto a esta António Simões, não sei se é jornalista ou se apenas assina uma página no jornal.Acredito ser o antigo internacional e grande figura do Benfica dos anos 60. Fica - me apenas a dúvida se JH ficou em Macau ou se regressou a Portugal. Mas certamente que as fontes onde se baseou para fazer o artigo são credíveis.
ResponderEliminarE, assim, mais uma história que nunca deve ser esquecida. Afinal, isso é que faz a História!
ResponderEliminarSegundo informação que me deu o Tó Ferrão continua em Macau
ResponderEliminarJorge Humberto regressou de Macau (cujo hospital ajudou a criar) e voltou para Coimbra. Mas os pedidos para que regressasse a Macau eram insistentes e ele voltou por algum tempo. Até que voltou de vez a Coimbra. Só que os filhos formaram-se e ficaram a viver na área de Lisboa. Então, decidiu vender a casa de Coimbra e ir viver para Cascais. sei tudo isto pela sua irmã, que é minha amiga, e que deverá ser a tal que teve que fazer a tal cirurgia complicada (deveria ter tido paralisia infantil e usa aparelho ortopédico e muletas). Ambicionava licenciar-se em Direito, mas as dificuldades de mobilidade não lho permitiram...
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