Eusébio repousa desde hoje no Panteão Nacional ...
É pela prosa da Mariazinha Leão e do BobbyZé, que chego aqui. Falou-se das homenagens de que o Eusébio foi alvo em Portugal e em França e eu, desfolhando mais um livro de memórias, recordo dois mil e cinco.
Que estranha sensação aquela de, pela primeira vez, aterrar
em terras de Moçambique. O gigantesco A 340 da TAP, parecia metido num colete -
de – forças, na acanhada pista. Pela janela do avião, apenas se vislumbrava um
matagal de capim à altura das asas do grande pássaro. Depois o calor sufocante,
quando, a pé, os passageiros se dirigiram à gare para recolher as malas. Não há
pressas. Apenas o ritual e a liturgia próprias do continente africano. Mais
tarde, a partida para o Hotel Polana. As malas, retiradas do bojo da aeronave,
seguem-me agora numa carrinha de caixa aberta.
Foi assim, sem pompa nem circunstância, que entrei na bela
unidade hoteleira. O hotel parecia novo, à primeira vista, com a sua traça
colonial. Porém, foi inaugurado no ano de 1922. De destacar os seus jardins,
bares confortáveis e uma magnifica piscina virada ao Índico. E foi aí, numa
tarde esplendorosa, que conheci Eusébio da Silva Ferreira. Naquele dia, troquei
os paradisíacos jardins do Palácio dos Congressos de Maputo, pelas delícias do
sol e da repousante piscina, uma varanda debruçada sobre o mar.
Não se via ninguém.
Apenas os empregados do hotel que, de bandeja na mão, se apressavam a servir os
poucos clientes sentados num patamar superior. Por minutos, por muitos minutos,
o “Pantera Negra”, tal como eu, gozámos do sol e da água, até que a conversa,
naturalmente, se estabeleceu. Deitados nas “espreguiçadeiras”, debaixo de um
céu azul, falámos de futebol. Era incontornável. Duas cervejas “estupidamente
geladas” - no seu dizer - ajudaram a alimentar a conversa. Falámos do Benfica e
da Académica. Falou-se de Vitor Campos, o melhor jogador da Briosa que
conheceu. Mas falou, também, em jeito de lamento, daquele joelho pavorosamente
disforme, que tive a oportunidade de observar. O seu amargo cilício. Já a tarde
ia alta, quando nos despedimos.
Encontrámo-nos, depois, no “hall” do Hotel, onde tive a
oportunidade de observar, a forma como este Homem é estimado. Uma tripulação da
TAP ali chegada, pilotos e pessoal de cabine, abeiraram-se dele e saudaram-no
calorosamente. Percebi que já se conheciam, pois trataram-no familiarmente por
“tu”. Depois, deixei de o ver pelo Hotel, pelo que presumo que tenha regressado
a Portugal. Fiquei, do Eusébio, com a imagem que já tinha: um homem simples, cordato,
educado e humilde.
Nunca, a sua fama de atleta de excepção lhe subiu à cabeça,
exibindo a petulância de alguns. E, uma semana depois, quando o A 340 da TAP,
levantou de novo voo deixando terras de África, olhei pela última vez o casario
de Maputo. Trazia na memória e no coração, a lembrança e a emoção da despedida
de um povo afável. E o Eusébio.
Porque, é também no desporto, que encontramos referências de
cultura e de honorabilidade. Não só da respeitável sapiência de alguns, ou de muitos,
está povoado o Olimpo. Também no povo, na Sua sabedoria e engenho, nas Suas
mais diversas vertentes, encontramos brilhantes percursos de vida. E Eusébio,
felizmente ainda entre nós, já tem o seu nome gravado, a letras de ouro, na galeria
dos nossos heróis. Dos nossos heróis populares...
Quito Pereira
Esta foi uma homenagem a Eusébio, escrita no blog em Fevereiro de 2 O11. Era pacifica a simpatia que o povo português tinha por este grande atleta. Quando escrevi o texto, estava longe de pensar que o Panteão Nacional seria a sua última morada. Que fique em paz.
ResponderEliminarCoisa de alto gabarito.
ResponderEliminarSem dúvida que foi um vulto grande na arte do desporto e que muito honrou Portugal.
ResponderEliminarSoube granjear simpatias num desporto onde a clubite aguda por vezes é cega. Mas neste caso penso que a homenagem mais alta atribuida a portugueses de eleição, não será contestada por nenhum desportista por mais clubista que seja!
Sem dúvida que foi um vulto grande na arte do desporto e que muito honrou Portugal.
ResponderEliminarSoube granjear simpatias num desporto onde a clubite aguda por vezes é cega. Mas neste caso penso que a homenagem mais alta atribuida a portugueses de eleição, não será contestada por nenhum desportista por mais clubista que seja!
Lembro-me muito bem desta postagem inicial, Quito. Devem ser momentos que passaram e não te esquecerão mais. Uma saudade que é uma passagem da tua vida.
ResponderEliminarAbraço.