segunda-feira, 30 de agosto de 2010

EXAMES

( Não me lembro já do nome do meu colega, mas a história é verídica. Passou-se em 1965 )

O Dr. Rogério Soares, Professor da, mais tarde extinta, cadeira de Direito Corporativo, e em 1971 Catedrático dessa cadeira, era uma das feras da Faculdade de Direito de Coimbra. Indefectível do regime de Salazar, parecia que sentia um mórbido prazer em chumbar os seus alunos a quem encarava com permanente desconfiança e como potenciais rebeldes prontos a minar a organização do Estado.
Tecnicamente muito competente, possuía, porém, um temperamento brusco, que raiava a má educação.
Dos alunos que escapavam à primeira razia das provas escritas, poucos conseguiam passar pelo apertado crivo das provas orais.
O Prof. Rogério Soares naquele dia já tinha reprovado 3 dos 4 alunos a quem fizera exame oral.
Mandou chamar o 5º examinando a quem foi fazendo sucessivas perguntas. O aluno era daqueles boémios que pouco estudava, mas que assumia uma postura de alguma sobranceria intelectual para disfarçar a sua ignorância. No íntimo, sabia que tinha o destino traçado. Com o Rogério Soares não tinha qualquer hipótese.
A cada pergunta, respondia com ar entendido, desfiando em voz pausada um chorrilho de lugares comuns e de vocábulos rebuscados, que, no entanto, em nada correspondiam ao tema que o Professor lhe submetia.
Irritado e cansado de tanta prosápia, o Professor quis humilhar o aluno, catalogando-o de burro, chamou o Bedel e disse-lhe:

- Por favor, traga-me um fardo de palha!

O aluno, impávido, aproveitou e pediu também ao Bedel:

- Para mim um cafezinho!

8 comentários:

  1. As grandes sumidades em sapiência, muitas vezes são péssimos como docentes.
    O aluno revelou inteligência e à vontade ao retorquir de forma educada e certeira!

    ResponderEliminar
  2. Certeiro foi também o comentário da Celeste, o que não admira, porque ela sabe do que fala.
    Na verdade, quantos e quantos sábios são péssimos professores.
    Saber transmitir os conhecimentos e motivar os discentes para a aprendizagem é o segredo dos grandes professores.

    ResponderEliminar
  3. O que custa é saber ensinar aprender não custa...é o que se prova.
    O ALUNO " educou" sapientemente o Prof.!!!

    ResponderEliminar
  4. Não resisto a contar o que me aconteceu com tal "ave".
    Não me lembro,ao certo,se isto aconteceu em 62/63 se em 63/64.
    Na altura,eu pertencia ao Conselho Desportivo da AAC e tinha arrelias semanais com o Rogério,por causa da utilização do Estádio Universitário.
    Conclusão:prescrevi a Corporativo(fiz isso em Lisboa com o Martinez) e fui sempre à oral com a espantosa nota de 12!
    Nos quatro exames nunca tive direito a qualquer pergunta.Recebi sempre o mesmo conselho:ir fazer Corporativo a Lisboa e,eventualmente,qualquer cadeira de que ele fosse professor ou examinador.Por birra,mantive-me até ao fim.No ano seguinte,em Lisboa,fiz Corporativo e Administrativo...
    Boa "peça",esse Rogério.

    ResponderEliminar
  5. Ainda hoje estou para saber como passei à 2ª tentativa a Corporativo com o Rogério.

    Já que falamos de "curiosidades" típicas da Fac. Direito de Coimbra, onde pontificavam ilustres cabeças tidas como verdadeiras sumidades, também eu não resisto a contar a minha experiência com o Afonso Queiró:

    Depois de 3 chumbos a Administrativo ( as 2 épocas do ano anterior e a 1ª época do ano de 1965 )apresentei-me a exame na 2ª época desse ano.
    Fui à oral com 10 e submeti-me ao exame do Afonso Queiró. Fui respondendo como sabia ( que era pouco... )e antes de terminar o exame, o Queiró disse-me:
    - O Sr. sabe muito pouco disto. Quase nada! Mas não o reprovo para não se deparar com a prescrição, o que o obrigaria a ir "desaprender" o pouco que sabe com o meu Colega de Lisboa, Prof. Marcelo Caetano!

    Digam-me lá se estas sumidades não tinham uma pancada qualquer na cabeça.
    A verdade é que passei àquele "cadeirão"!
    Com 10, claro...

    ResponderEliminar
  6. Bem dito e bem escrito.
    Gostei.
    Tonito.

    ResponderEliminar
  7. As sumidades...e não só!
    Para bom entendedor...

    ResponderEliminar