quarta-feira, 22 de setembro de 2010

VIVER

Ontem à tarde tive um encontro casual que deu origem a esta postagem.
Há 17 ou 18 anos,duas amigas minhas foram internadas com o terrível cancro da mama.
No mesmo dia,por casualidade,mais meia dúzia de senhoras teriam conhecido o mesmo destino.
Pouco conhecido é que há homens,poucos,que são apanhados pelo mesmo caranguejo.
Voltando à estorinha...
As minhas amigas tinham idades semelhantes:andavam pelos quarenta e muitos.Nunca tinham tido qualquer problema de saúde.Partos normais e filhos normais.
Uma delas,tinha há pouco mudado para a nova casa:um belíssimo andar na Carlos Seixas,para quem tinha vivido e criado os filhos na velhíssima casa da António José de Almeida.Na garagem da nova casa,para 3 carros,lá ficou o seu velho 4l há muito sem uso:a dona tinha direito a carro de serviço,com motorista,e o marido era um técnico de automóveis,com grande prazer de condução nas "máquinas" dele.
Esta amiga suportou os tratamentos habituais para aquela doença.O diagnóstico,até era favorável.
Mas ela,nada dizendo,sentia que a "coisa" não era assim.
Um dia,já de cabelo crescido,disse ao marido que queria voltar a conduzir(coisa que não fazia há 10 anos).O marido e os mecânicos "deram-lhe" um 4l novo!
Ela deu umas voltas em Coimbra,fez umas idas à Figueira,readquiriu o controle da máquina,e aventurou-se numa visita à família em Trás-os-montes.
Tudo correu bem.Regressou a Coimbra e disse ao marido,e aos filhos,que iria visitar os irmãos no Sul de França.Todos acharam uma brincadeira!
O que é certo é que,dois dias depois,partiu sózinha no seu 4l e esteve duas semanas com irmãos,cunhadas e sobrinhas.Regressada a Coimbra,disse ao marido e aos filhos:"Missão cumprida!Fiquem bem!"
Minutos depois,finou-se.
A outra minha amiga suportou os mesmos tratamentos e,durante algum tempo,dedicou-se à vida doméstica!
Numa de misticismo,ela que sempre foi agnóstica,passou a arranjar suporte de vida nas palavras de um missionário,muito conhecido na época.
Regressou à profissão e trabalhou até à reforma.
Após isso,mudou de actividade e tem tido sucesso.
Quando foi internada,teve prognóstico reservado.
O próprio marido foi informado que ela não resistiria mais que um ano.
Resistiu,felizmente.
Por isso a encontrei ontem,mais a sua neta.
Agarrou-se à vida!
Fotografia rapinada na net.

2 comentários:

  1. Que dois magníficos testemunhos nos ofereces...
    duas mulheres corajosas que não desistiram de uma luta dolorosa e difícil !
    Exemplos que nos levam a pensar que "andar por
    vielas mesquinhas" não faz qualquer sentido... não é VIVER.

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  2. Caro Rui Lucas
    Começo por te cumprimentar pela fotografia. Em minha opinião, está perfeitamente enquadrada no teor do texto. Das duas experiências narradas, um ponto comum - o destino. Implacável para uns, condescêndente para outros. Duas histórias de vidas sofridas. Boas razões para uns minutos de meditação...
    Abraço

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