sexta-feira, 29 de outubro de 2010

BOLINHOS e BOLINHÓS


Bolinhos e Bolinhós
(ou Hallowen)



A festa dos hallowen sempre me pôs os cabelos em pé e me causa alguma confusão, não pelos pseudos fantasmas (os vivos sempre são mais perigosos), mas por começar a sentir que os nossos "bolinhos e bolinhós", uma tradição bem portuguesa que tem sido transmitida de geração em geração, começa a perder terreno mediante a campanha publicitária, de ano para ano é mais agressiva, de nos quererem impor uma tradição que não é a nossa.
Ainda há dias verifiquei como uma grande superfície expunha os fatos e máscaras de bruxas na promoção dos hollowen...

A tradição parece ser de origem celta e mais tarde aproveitada pela religião cristã, comemorando-se, no século XIX, em toda a Europa.
Os hallowens foram introduzidos nas Américas pelos irlandeses que criaram máscaras com velas para afugentar os maus espíritos, e que evoluiu para a fantasia consumista que se sabe e que o Chico Torreira bem documentou.
Os hallowens que continuem pelas Américas como estão, e que não nos sejam "impostos" como se de McDonald´s se tratasse.

Deixemos as nossas crianças pedir cantando pela vizinhança de 31 de Outubro para 1 de Novembro os nossos “Bolinhos e Bolinhós”, como nós o fizemos.
Para que a tradição se mantenha apelo a que tenhamos qualquer coisa preparada para dar. É sempre gratificante ver os olhos a brilhar duma criança.

Com abóbora ou uma caixa de papelão e um desenho duma carantonha que a vela no seu interior realça, mantendo a tradição entoarão a canção:

Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À porta da bela cruz
Truz! Truz! ( bate-se à porta)
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de vir cá fora
P´ra nos dar um bolinho (ou um tostãozinho)

E se lhes derem um bolo, guloseimas ou dinheiro cantarão:

Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
ou
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.

E se nada receberem cantarão:

Esta casa cheira a alho
Aqui mora algum bandalho.
ou
Esta casa cheira a unto,
Aqui mora algum defunto.


Devemos preservar o que é nosso e nos identifica culturalmente como Povo, mas, infelizmente há os que ainda pensam que o que é bom é o que vem lá de fora...pura falácia.

Abílio

18 comentários:

  1. Boa Abílio. Adorei. Ainda ontem tinha cantado os Bolinhos e Bolinhós devido a um comentário do Rui Felício. Já me tinha esquecido "esta casa cheira a unto..." por contra havia outro: "ferrão, ferrão - esta casa vai ao chão". Nunca vi cair nenhuma e ainda bem. Coisas de miúdos.Um abraço.

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  2. Subscrevo por inteiro o último parágrafo.
    Não tanto o texto completo que contém aquilo que me parece ser uma inexactidão insanável.
    Refiro-me à parte em que o Abílio diz que a festa do halloween sempre "lhe pôs os cabelos em pé".
    A pergunta que faço é simples:
    - Quais?

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  3. Então Rui, é pergunta que se faça?!
    Vou ficar em silêncio...

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  4. A pergunta é inocente.
    A resposta é que pode ser aleivosa...

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  5. Abilio
    Disseste uma grande verdade.Hoje tudo tem uma vertente comercial. As sociedades, sobretudo nas grandes cidades, ficaram reféns do poder do dinheiro. Há uma visão mercantilista em tudo. Que saudades das abóboras com a vela lá dentro, ou da simples caixa de sapatos !Quando na caraça era preciso fazer os olhos, o nariz e a boca ! Agora vai-se a uma qualquer loja comprar a máscara já fabricada.Falta magia ! Lá pelas aldeias do interior profundo ainda se vão cantando umas "Janeiras" genuínas,mas a tradição de andar de porta em porta nos finados, não tem expressão ...

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  6. Estou inteiramente de acordo contigo, Abílio !
    também tenho muita pena, que as nossas tradições se adulterem porque os de "fora" tudo impingem e nós, por temperamento acatamos.
    Há dois anos que faço para o meu neto mais velho, uma "caraça" com caixas de cartão e uma vela, conto-lhe as minhas peripécias e tudo o que fazia durante os dias dos bolinhos e bolhinhós. Este ano, por influencias da escola, já me veio com a história do Halloeen... vou continuar a contar as nossas histórias, será que dará resultado, ou vai a correr pedir à mãe um fato de bruxo porque na escola todos levam?

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  7. Postagem muito oportuna!
    Claro que todos sabemos que os paises que que querem fazer negócio tudo fazem por exportar as suas tradições.
    E assim se destróiem as nossas próprias tradições!
    Não quero dizer que também não se possa evoluir nas suas formas originais.
    Mas alterar radicalmente e começarmos a adoptar as tradiçoes de outros paises,incluindo o próprio nome é simplesmente recusarmos a nossa autenticidade.
    Autênticos macacos de imitação!
    Mas há anos que isso já vem acontecendo.
    Ainda há quem faça uma mistura:
    vem com a abóbora...mas a fatiota é importada!
    Outros nem a abóbora trazem.
    Ainda hoje tive o exemplo destas duas realidades a baterem-me á porta!
    Salve-se contudo o facto de cantarem "bolinhos e bolinhóis"
    Ainda me lembro do meu tempo em que também andava de abóbora...um saco onde se misturavam tremoços, nozes, passas de figo, bolos, etc.
    Dinheiro...claro que nem vê-lo!
    Mas tudo foi evoluindo e o que agora os meninos/as querem são moedas, já ninguém tem coragem de não pôr a moedinha...
    Sinais dos tempos em que todos embarcamos...

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  8. Voltei a este cantinho e fiquei encantado com tudo o que li. De fato o ideal é os pais e avós irem cantando as canções do nosso tempo mas também saírem com os miúdos para a rua como aqui fazem. É mais seguro para as crianças e a tradição mantem-se pois já vão habituados. Quanto ao Halloween era práticamente uma noite só para divertir as crianças, pois nem canções têm. Começam a passeata pelas ruas por volta das 18horas e pelas 20 está tudo acabado. Há uns tempos é que vem sendo mais comercial, pois as ornamentações começam muito cedo. Só que mais do que o dinheiro que movimenta, o que conta são os postos de trabalho que são precisos manter. Também por estes lados os fatos não são feitos aqui: são importados. Na questão de importação, nos jogos Olímpicos da China, o Canada apresentou os seu atletas equipados com equipamentos manufaturados nesse país, por serem mais baratas. Os chineses apresentaram os seus atletas com equipamentos manufaturados na Tailandia pelo mesmo motivo. Enfim... Quanto ao importarmos hábitos estrangeiros, estou absolutamente de acordo e neste caso específico até temos a nossa canção "Bolinhos e bolinhós". Devíamos ser assim em tudo pois estou num local aonde se vive em francês e em inglês mas sempre que escrevo em português ou estou com portugueses, muito raramente utilizo uma palavra das outras línguas, nem quero. A nossa tem muito valor.

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  9. Passou-me a questão do dinheiro. Os miúdos aqui levam uma caixinha da UNICEF aonde metem o dinheiro que recebem. Assim também se habituam a boas ações. É giro ver estas diferenças entre locais e países.

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  10. Pese embora a muita consideração que tenho pelo Abílio e pelas suas opiniões, tenho de aqui afirmar o seu enorme equívoco.

    A festa dos hallowen, a tal que lhe põe os cabelos em pé, nasceu em Portugal.
    Vá-se lá saber porquê, os putos cá da terra começaram a bater às portas depois de cantar o "Bolinhos e Bolinhós". E, depois disso, lá vinham com aquele disparate de que "esta casa cheira a broa" ou "esta casa cheira a alho".
    Levavam como recompensa uma moedita e ficavam todos contentes.
    Grandes parvos!

    Hoje, felizmente, a globalização cultural esmagou esse costume quase medieval...

    Agora, os nossos putos, já não se atrevem a bater-nos à porta com uma simples carantonha artesanal, com uma pobre abóbora recortada com figura de gente, com uma porcaria de uma caixa de sapatos despretensiosamente transformada em cara humana.

    Voltando à questão.
    O Abílio não percebe muito destas coisas.
    Que culpa temos nós, e os nossos putos, que pelas Américas, Inglaterras e Irlandas, tivessem resolvido copiar esta tradição?

    Mas que culpa temos nós, e se calhar aqui já todos temos culpas, por deixarmos que as nossas tradições sejam esmagadas por interesses económicos?

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  11. Não haja dúvidas, os putos em Portugal têm capacidade criativa. É assim que se arranjam postos de trabalho, que bem precisamos. Ao contrário do que disse ontem, acabo de ouvir num noticiário a convidarem os miúdos a levarem as caixinhas da LEUCAN para o dinheiro que recebam. A LEUCAN ajuda as crianças e famílias na luta contra o cancro. Também precisam.

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  12. Eu nunca fui de abóbora,sou mais caixa de sapatos.
    Ainda há caixas de sapatos?
    Tonito.

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  13. Também,Tonito...
    Boas recordações!!!
    Ainda não me apareceu nenhum miudo...estou admirada porque eles começam 29 ou 30 de Outubro
    Nós pediamos só na véspera do dia de Todos os
    Santos.

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  14. Quando era puto, também andei a bater pelas portas e a cantar os bolinhos e bolinhós!...
    A maioria das casas davam qualquer coisa, mas ainda hoje me lembro que na casa da Drª Dora (professora de Francês do Liceu) nunca davam nada... e até houve um dia que nos mandaram com água. Claro que não nos ficámos só pelo: "Esta casa cheira a alho, aqui mora um espantalho!..."

    Aqui, ao Castelo da Azurva, ainda há uma data de muídos e miúdas que vêm cá cantar!

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  15. quando era miúda quantas vezes fui cantar os bolinhos e bolinhós pelas vizinhança... que recordações!
    mas há uma data de anos que não vejo crianças pela rua, a tocar às campaínhas... é uma pena...

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  16. Abílio, não o conheço, mas escrevo para lhe dar os meus sinceros parabéns e dizer que concordo totalmente consigo!

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  17. Tenho 30 anos e cantava os bolinhos e bolinhós de porta em porta... com a caixa de papelão com vela dentro, cantávamos com afinco e recebíamos umas moedas. Hoje, qual surpresa ao chegar a Coimbra, 3 meninas vieram à nossa porta bater e cantar. :)

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