O Major Ramires acumulava com a sua qualidade de engenheiro militar a de sócio duma empresa de construção civil. Detestava andar fardado, mas, naquele dia, tinha que se uniformizar por causa de uma cerimónia importante a que ia presidir no quartel, ao meio dia.
Como de costume, manhã cedo e ainda à paisana, despachou o expediente no escritório e por volta das 11 horas, encafuou-se a custo na exígua casa de banho anexa ao seu gabinete, para trocar de roupa. Em cima da sanita, abriu a maleta onde trazia a farda, despiu a roupa civil e foi-se ataviando com o fardamento. Mirou-se no diminuto espelho que pouco mais reflectia do que o seu rosto, fechou o colarinho da camisa esverdeada, ajeitou o nó da gravata verde azeitona, abotoou o blusão, alisou o cabelo à escovinha e pôs a boina castanha.
Saiu a correr, pelas traseiras, meteu-se, apressado, no seu carro estacionado no pátio do escritório e arrancou em direcção ao quartel.
Chegou à parada do quartel às 12 horas em ponto, onde já se encontrava formado o Batalhão, à sua espera. O Capitão, seu interino, ao ver chegar o carro, mandou tocar o clarim para as honras militares ao Major Ramires que, entretanto, saiu da viatura e estugou o passo em direcção à formatura.
Os soldados perfilaram-se em sentido, ergueram as armas ao ombro e entre soluços abafados e depois incontidos, rebentaram em estrepitosas gargalhadas, perante o pasmo do Major, incrédulo por tamanho acto de indisciplina e inusitada falta de aprumo militar.
Foi então que o Major Ramires reparou no que tinha acontecido.
A pressa e o receio de se atrasar para a cerimónia, o raio do espelho do escritório ser tão pequeno que não deu para se ver de corpo inteiro e a sua proverbial distracção, estiveram na origem de se ter apresentado impecavelmente uniformizado apenas da cintura para cima. Dali para baixo, só trazia cuecas brancas de meia perna, sapatos e peúgas.
Estas, afiveladas por uma fina liga elástica à borda das cuecas...
Rui Felício
Vá lá, não se esquceu de tudo. Para mais ainda foi sentado no carro sem notar... O capitão que o viu sair do carro, também devia ser muito distraído ou brincalhão, aproveitando a distração pois nem que fosse um gritozinho. Isto acontece cada uma, que só vista ou contada desta maneira. Fartei-me de rir.
ResponderEliminarMensão Honrosa.
ResponderEliminarTonito.
Este Ramires deveria ser uma boa peça.
ResponderEliminarAté poderia ser apontado como...O cumulo da distração - Passar revista às tropas em cuecas-.
Será que ele não fez de propósito?...
ResponderEliminarNão me admirava! Conheci algumas espécies na tropa que eram meninos para fazerem isso de propósito...
as peugas afiveladas à borda das cuecas...entusiasmaram-me de que maneira!!!
ResponderEliminarQue figura com aprumo tão sexy...
As tuas peripécias militares contadas ao teu
jeito jocoso tão do nosso agrado.
Episódio simples, bem contado e dos que dá gôsto ler!
ResponderEliminarMas olha que este Major Ramires foi um cavaleiro de nível internacional (Hipismo) e não me consta que alguma vez fosse de cuecas montado no cavalo!
Ou não será o mesmo?
Agora é que eu percebi onde é que o Tó Ferrão foi buscar a ideia de se "encuecar"...
ResponderEliminarFelício, mais um texto, mais uma história, mais um naco de boa prosa que muito me divertiu.
Abraço.
Amigo Rafael,
ResponderEliminarNão, o Major Ramires não é o tal cavaleiro que ganhou uma medalha nos Jogos Olimpicos, em Hipismo.
Esse, o Vasco Ramires, também ele militar, é o filho do Engº Ramires, à data deste episódio, com a patente de Major.
Conheci bem qualquer dos dois.
Um texto divertido. Imagino os "marmanjões" a rirem-se na paráda. Desconfio que este Major, nunca mais foi capaz de dar voz de comando. E aquela das ligas não lembra ao diabo.Eu julgo que foi o Rui, com a sua mente "perversa", que quis pôrr mais um pouco de picante neste episódio.Hilariante.
ResponderEliminarAbraço
Estás enganado Quito! O Major Ramires( Mais tarde Coronel ), que eu conheci bem, usava mesmo habitualmente essas ligas, segundo ele me contou, para evitar que as meias lhe descaissem. Outros tempos...
ResponderEliminarEhheheh...aquele quartel parecia o "Moulin Rouge " ...
ResponderEliminarA história, numa primeira abordagem, pode parecer estranha. Pode parecer invenção. Mas não é...
ResponderEliminarO Quartel onde isto se passou foi no Quartel de Engenharia de Tancos, talvez em meados dos anos setenta...
A empresa de construção que ali refiro era uma empresa de um rio meu, sediada no Entroncamento e com escritório em Lisboa.
O Moulin Rouge tem semelhanças ( bem lembrado ). Fico a pensar que talvez devesse ter posto os soldados a dançar can-can...
corrijo: "rio" = "tio"
ResponderEliminarAmigo Chico Torreira,
ResponderEliminarO Capitão que mandou tocar o clarim, quando o fez ainda não tinha visto o Major em trajes menores. Deu a ordem quando viu chegar o carro, antes do Major sair dele, como resulta do texto.
O que é estranho de facto é que o Major Ramires não se tenha apercebido dos seus preparos enquanto guiava o carro.
Mas quem lhe conheceu a sua proverbial distracção, compreende que era um homem que andava mais na Lua que na Terra.
Não conheci a personagem,mas reconheci o cenário.
ResponderEliminarFoi lá que me tornei "especialista" em Minas e Armadilhas...
Um dia conto-vos uma história bonita;de quando a EPE foi à falência!!!
Um abraço.
Rui Lucas
ResponderEliminarPois venha de lá essa história...
Não te esqueças da rota do "NORTON", amanhã. Estão lá uns galifões à espera de beber a poncha ...
Lá estaremos,Quito.
ResponderEliminarUm abraço.
Quantos somos, quantos somos, perguntarão o Carlos Viana e a Olinda!
ResponderEliminarDa Rua Infante Santo vão dois para terminar a semana da desbunda em beleza e que já vinha da anterior...
Penso que vou não sei qual é o desafio ou peleja!
Quantos?
ResponderEliminarNão interessa.Quem vier que venha por bem.
Na hora marcada,lá estarei no Samabaia,maila minha mólha e maila a prometida poncha.
Até amanhã.
Um abraço.
Lá estarei, de taco afiado.
ResponderEliminarPrometeste porrada, cumpre!
Quanto à poncha, não me deixarei enganar. Só a provarei depois da disputa.
Isto promete...
Até amanhã.
Abraço.