REFLECTINDO...
“Os homens e os vasos de barro conhecem-se de forma idêntica: os vasos, quando tocados, produzem sons diferentes consoante a sua textura e tamanho, os homens distinguem-se uns dos outros pelo seu modo de se exprimirem”.
Platão afirmava isto quando ensinava aos discípulos a arte de conhecer os homens.
Nem sempre nos damos conta do quanto nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. No seu encadeado, elas são a expressão do nosso pensamento, ainda que, quando falamos ou quando escrevemos, tencionemos não denunciar o que pensamos.
“Os homens e os vasos de barro conhecem-se de forma idêntica: os vasos, quando tocados, produzem sons diferentes consoante a sua textura e tamanho, os homens distinguem-se uns dos outros pelo seu modo de se exprimirem”.
Platão afirmava isto quando ensinava aos discípulos a arte de conhecer os homens.
Nem sempre nos damos conta do quanto nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. No seu encadeado, elas são a expressão do nosso pensamento, ainda que, quando falamos ou quando escrevemos, tencionemos não denunciar o que pensamos.
Quantas vezes, ao conversar com amigos ou ao escrever no blogue, apenas pretendo transmitir factos ou recordar episódios, as mais das vezes, tentando resguardar o meu pensamento ou a minha opinião sobre eles.
Muitos dos textos do Quito, por exemplo, não contêm nenhuma referência explícita ao seu pensamento, mas o estilo que lhes imprime, as palavras escolhidas para descrever pessoas, paisagens e lugares, são suficientes para que nós consigamos saber exactamente o que o autor está a sentir. Mesmo que não seja essa a sua vontade...
Porque a escolha das palavras que ele faz, nos permite aceder ao seu pensamento.
Quando ouvimos o Tonito Dias sentenciar alguma das suas filosóficas e profundas frases, raramente se nos suscitam dúvidas sobre o que ele está a pensar, mesmo que, aparentemente a frase no seu restrito contexto pareça querer significar algo diferente.
O Homem auto-identifica-se pela palavra, porque ela faz a síntese de toda a sua vivência, de todo o seu pensamento. Mesmo quando intencionalmente usa palavras que direccionem a atenção do ouvinte ou do leitor para o sentido oposto do seu pensamento, jamais conseguirá ocultar os seus sentimentos.
Por mais que se queira esconder ou resguardar, haverá sempre, nem que seja por uma única palavra,singela que seja, que o denuncia e nos abre a sua forma de sentir.
A palavra está intimamente ligada ao silêncio, talvez a forma mais sublime da expressão mental humana. Na verdade, quantas vezes a resposta com o silêncio a uma pergunta embaraçosa, se torna mais elucidativa que um extenso argumentário?
Vem tudo isto a propósito de, há dias, ter observado um entrevistado ficar ostensivamente em silêncio quando o jornalista lhe perguntou o que queria comentar acerca das crianças que diariamente morrem à fome no mundo.
O jornalista, perante o seu silêncio insistiu na pergunta e o entrevistado, enfadado, finalmente disse-lhe:
- Se estivesse atento, teria percebido que ficar calado foi a forma mais eloquente que encontrei de lhe dizer que a minha ou a sua opinião de pouco valem, porque a cada minuto uma nova criança morrerá de fome, perante a nossa indiferença e por causa da nossa inacção...
- Uma palavra mais pode ser uma palavra de mais.
Rui Felício
Está tudo dito.
ResponderEliminarSer comedido com as palavras
ResponderEliminaré uma prova de profunda
sabedoria.
Saber ouvir também.
Na realidade, as palavras devem ser a
ResponderEliminarembalagem dos pensamentos. Não
adianta fazer longos discursos para
expressar os sentimentos de seu
coração. Um olhar diz muito mais que
um jorro de palavras.
Um texto que convida à meditação neste príncipio de noite chuvoso. Muitas vezes, o silêncio vale mais do que mil palavras.Também uma imagem, pode, por vezes, fazer formar uma opinião que uma circunstânciada prosa, não consegue retratar.
ResponderEliminarEscrever é um acto solitário. Seja no silêncio do ambiente campesino, ou no bulício das grandes cidades. Porque um Homem pode sentir-se completamente SÓ no meio da multidão.No meu caso, a paisagem grandiosa das planicies e das montanhas, mais não são do que a moldura dos quadros onde vou pintando, à minha maneira, as vidas sofridas de quem hoje, ou em tempos de antanho, percorre ou percorreu, os sacrificados caminhos da vida. E mesmo que, por vezes, eu queira referir factos de uma forma fria e racional, vejo-me sempre envolvido naquilo que pretendo transmitir. Como uma vez comentei com o Felício,escrever não é um acto de rigor aritmético. Isso é uma simples notícia de um jornal, que se quer o mais rigorosa possível. Por vezes, escrever,é o tal manto de fantasia de que falava Eça. Sem que isso, atraiçoe o essencial da mensagem que se pretende transmitir e que por vezes - muitas vezes - está subjacente à prosa.
Gostei muito deste pensamento, em jeito de meditação, do Rui.Não pelo facto de invocar o meu nome, naturalmente, mas pela argúcia da argumentação...
Em tempo: noite chuvosa ..
ResponderEliminarPois é, amigo Rui, as palavras denunciam-nos, mas é preciso que o leitor ou ouvinte, tenha a capacidade e a perspicácia de "lá chegar" !
ResponderEliminartanta gente que não consegue ler nas entrelinhas!
Bom texto, como habitualmente.
Esta reflexão que fazes sobre a palavra e o silêncio é realmente muito interessante e sinceramente estava muito longe de ser aqui no blog,que me iria aperceber do alcance dessa reflexão!
ResponderEliminarCitas o Quito e o Tonito para dar uma maior expresão ao que queres transmitir...mas é sobretudo no final que a conclusão chega, sob uma forma verdadeiramente notável: é preciso ser-se inteligente para dizer tudo sem dizer uma palavra...como também se deve ser inteligente para o interpretar e conseguir alcançar o que ele tem de óbvio...e será por isso "que uma palavra mais pode ser uma palavra de mais"!
Sei melhor o que penso estando calado...do que tentar explicar, escrevendo!
Por vezes, o silêncio é a palavra. Um momento de silêncio até pode ser um grande discurso.
ResponderEliminarQuando o Rui Felício escreve, o silêncio só existe para quem não sabe ouvir - neste caso, ler.
Eu sei ouvir...
Grande abraço.
Após a leitura desta reflexão magnífica do Rui , eu teria escolhido o silêncio... o tal que "é de ouro"... mas face à ameaça de que o silêncio se possa tornar incómodo, mal interpretado,gerador de equívocos, eu manifesto publicamente e com RUÍDO, o meu enorme gosto, (gozo, mesmo)em ser leitor daquilo que tão bem escrevem estes amigos.
ResponderEliminarO meu silêncio é, quase sempre de aprovação, pois eu estou numa fase em que escrevo mais por reacção do que por inspiração; não há nada que mais ganas me dê de escrever do que a indignação.Por isso , cada vez mais me sinto, não na "maioria silenciosa" dos que discordam...( Nesse caso nunca sou silencioso!) ... mas na maioria silenciosa dos que se reveem e se deleitam com os textos...
Oscar Wilde escreveu: “Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.”
ResponderEliminarHá quem não consiga ouvir o silêncio e esses não entenderão o que se lhes quer dizer. Ficarão mais pobres na superficialidade da palavra dita, sem entender que mesmo no meio das palavras existem os silêncios que completam as ideias e os sentimentos.
A palavra, ou melhor o termo, como expressão duma ideia, só por si vale o que vale, e até um grito pode ter mais força se dado no absoluto silêncio.
O povo chinês, com a sua sabedoria milenar tem um provérbio que diz tudo “a palavra é prata e o silêncio é oiro”.
Rui Felício, excelente reflexão sobre a importância do que fica por dizer no meio de miríades de palavras gastas e sem valor.
Um abraço
Abílio
Vou conhecendo o Rui Felício pela maneira como se exprime.
ResponderEliminarOs pequenos pormenores, tornam-se por maiores quando se está atento e observador.
Sobre as crianças, o entrevistado deu um silencioso GRITO!
"A Festa do Silêncio"...título de um poema
ResponderEliminarde António Rosas...e mais não digo!